sábado, 31 de dezembro de 2011

COROA DE OXUMARÉ




“Bécem é dona do cajá
Arriboboi arêa
Bécem ela é dona do cajá
Arriboboi”
(Cantiga de Becém - Angola) 

Vejo no céu teu sinal
Antiga serpente emplumada
Senhor e Senhora das cores, brumas e magias
Muçuarana, dama encantada  

É serpente no céu
É serpente na terra
Teu grito vem lá da serra
Onde mora a cascavel

Desde do céu
Desce a montanha
Vem pro mar

No céu de teus reinos misteriosos
Tua imagem reflete na montanha
Nas águas límpidas do lago
Onde teus cabelos eu afago
Nas ondas serenas do mar
Morada sagrada de Iemanjá

Teu cheiro trás riqueza, saúde e vida
Espirradeira, erva-de-bicho, sensitiva
Dan Angoroméa, Ewá, Becém,
Cana-do-brejo, nega-mina, folha da costa
Canto misterioso da sucuri que vem do além

Surucucu, jibóia, jararaca, urutu
Teu veneno circula em minhas veias
E não me fazem mal
Murucana, mamba e coral

Teu veneno é minha bebida predileta
Ninguém se arrisca
Seu bote é presa certa

Serpente arco-íris que mora no rio
Faz chover ouro e segi
Na lua nova vou fazer seu oriki
Na neblina fina alguém te viu
Feijão, milho e camarões no dendê
Só pra lhe ver aparecer por ali.

Desde do céu
Desce a montanha
Vem pro mar

MANACÁ





Você está no manacá da serra
Entre nevoeiros densos de puro algodão
Na fina chuva que banha a terra
Atento olhar de um cormorão

Tua pele fina que desafia a seda
Leve e alva onde dedilham meus dedos
Por onde mais que eu vá ou seja
Percorres meus caminhos e segredos

Lábios com gosto de nozes e casca de maçã
Toda delícia de sua elegância
Vento suave na dança de Iansã
Rutilância que só você sabe provocar

Bela estrela cadente
Com perfume ardente

No canto da parede cresceu uma samambaia
Delicada renda portuguesa
Que balouça com a brisa
E de forma precisa me leva até você

Flor
Cor
Estrela
Aroma
Pensamento
Que cresceu ali

Se fosse manacá iria derrubar a parede
Que se mantém entre nós.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O SINO E O CACHIMBO


Tocam sinos acompanhados pelo canto de um pássaro
O pássaro não segue a canção do sino
O sino desconhece o canto do pássaro
Ambos, contudo, se alinham e se afinam em bela melodia 

Entre eles o sorveteiro assobia
Criando desejos e sonhos no apetite de Dona Maria
Crianças correm em algazarra
O cão late ao carteiro que passa 

Vida cotidiana, sem mistérios, sem ousadias,
Mas dela flui bela e encantadora sinfonia
A anciã sentada no tronco diante de casa
Fuma um cachimbo distraída e encantada 

Nas ruas a poeira vermelha se alevanta
Passa a carroça, o burro, a tropa
- Boa tarde, senhora, sua benção !
- Deus te abençoe, menino, segue com Deus !
E volta a pitar sem dar muita atenção

JARDIM DOS ESQUECIDOS

“Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados” .Isaías 66:13

Ouço o badalar tranqüilo das horas
O murmúrio sorridente das senhoras
Alegremente relembrando suas histórias
Disfarçando ocultas lágrimas no baú da existência
E com certa carência, relembram dias e ocorrências

No banco tosco entre videiras cacheadas e doces
Esquecida em mim mesma, em meus sonhos,
Brinco a descontração de meus dias tristonhos

Beijo a mão pálida do tempo que se arrasta
Cruel e amigo, mãe carinhosa e madrasta
Cultivando-me desde menina ao meu destino
A paixão por aquele menino
Que me abandonaria soberbo mais tarde

Tantos filhos, tantas noras, tantos netos
Não mantenho se quer um por perto

Ao meu lado, amigas também esquecidas
Com tanta vida a ser compartilhada

No jardim central de nossa casa, nossa nova casa,
Semeiam-se flores que não existem mais
São coloridas, vívidas, delicadas
Conosco convivem e se deleitam cultivadas

No altar Maria olha distante e parece sorrir
Mãe zelosa, também esquecida e renegada,
Quem é minha mãe e meus irmãos?*
Da mãe cuidara até seus últimos dias
Meus filhos e netos onde estarão?

* Marcos 3:33  

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ATRAÍDOS PELO BURACO NEGRO


sinto a distância entre nossos olhares

decisivas frações de segundo nos separam

como dois planetas que bailam pelo espaço

unidos pela mútua atração

roçam entre si nossas poeiras

arquivadas pelo tempo


orbitamos apaixonados e intocados

efêmera paixão que separa os amantes

em que momento a aurora beijará o crepúsculo?


vago entre dias desolado

esperando você ao meu lado

surjo quando desapareces

parece algo combinado !


sinto a distância entre nossos olhares

como dois planetas que bailam pelo espaço

efêmera paixão que separa os amantes

vago entre dias desolado


decisivas frações de segundo nos separam

unidos pela mútua atração

orbitamos apaixonados e intocados

esperando você ao meu lado


quero me enrolar nos teus cabelos

nos caracóis mais íntimos

entre ardentes tempestades solares

nas luas mais frias e distantes


quero embalar você em meus braços

numa cantiga serena e primordial

deixar escorrer meu beijo morno

com cheiro de anis estrelado


estrelas refulgem em nossos céus

de bocas que se buscam desesperadas

como tragadas por um buraco negro.

TRICOTANDO


tricota e se enrola na lã
pontos cruzados e riscados
no algodão

algodão doce tão saboroso
de menino imberbe
que corre valente
com o sorvete na mão 

enquanto tricota um pouco cochila
um pouco proseia
e volta na mesma estória
só pra contar 

contas de rosário rolando nos dedos
sucessivo mantra
que chamam rezar
e volta a tricotar 

o cachorro lambe a perna
já velha da senhora
deseja atenção, um mísero olhar
late e abana a cauda
rouba o novelo
e sai a desfilar 

quando acorda de boca aberta
mais aberta fica
cadê o sapatinho, as agulhas e o novelo
perdidos lá no terreiro
à sombra do roseiral 

rosas rubras desabrocham
plácido aroma contagia 

é gripe que vem por aí
espirro aqui e acolá
o jeito é voltar para o sofá
cochilar e tricotar

ÓSCULO DE UMA VIDA INÚTIL


dias afoitos e crus, superficiais e vazios,
a miraculosa e vã transformação
do tudo em nada, da luz em trevas, do mar em rios
gerando tsunamis em míseros copos d´água
somos deuses inacabados insuflados num sopro antigo
insanos, destinados a pequenas proezas
a instabilidade humana em suas inseguranças
a incerteza de quem sou e de quem posso ser
o gole de água entalado flutuando no vácuo
temo o tempo que tudo revela e descortina

o sorriso mascarado e as palavras de gratidão
estranhas lágrimas que saltam dos olhos
pútridos e falsos, sem beleza, sem afeição 

dias inglórios de uma guerra santa inacabada
sem mortos, sem feridos, sem mutilados,
muitos sem saber que era guerra
distribuindo flores e procelas
entre charcos ignóbeis de uma vida sem sentido 

dias exaustos de sentido inexato
parados, estagnados, fluidos,
imbecis em sua essência
dias que simplesmente passam
não há lembrança, não há perfume,
o diário intacto de folhas brancas imaculadas
na face o sorriso frouxo
as frases dissimuladas
o desejo impetuoso de uma cadela no cio 

o beijo na face da divindade
ósculo com gosto de fel
 lâmina afiada que talha a marca
a liturgia de uma vida vã 

em tuas veias correm torrentes de absinto
e nem sinto o gosto pálido de tua presença
fostes como a poeira que se retira dos móveis
jaz em algum canto alimentando ácaros e nematóides.

domingo, 25 de dezembro de 2011

MUITOS NATAIS E UM NATAL



Logo após o solstício de dezembro historicamente celebram-se o nascimento dos avatares, conforme as crenças reinantes de seus tempos:

Celtas: 
em 25 de dezembro a Mãe Terra concebeu a “Criança Sol”, que viria para anunciar um novo tempo.

Egípcios:
Hórus, Deus-Sol do Egito por volta de 3000 a.C., é o Sol, antropomorfizado, e a sua vida é uma série de mitos alegóricos, que envolvem o movimento do Sol no céu. Dos antigos hieróglifos egípcios, muito foi descoberto sobre este Messias Solar. Por exemplo, Hórus, sendo o Sol, ou a luz, tinha como inimigo o Deus "Set", e Set era a personificação das trevas ou noite. É importante frisar que "Trevas vs. Luz" ou "Bem vs. Mal" têm sido uma dualidade mitológica onipresente e que ainda hoje é utilizada em muitos aspectos.

Hórus nasceu em 25 de Dezembro da virgem Isis-Meri. O seu nascimento foi acompanhado por uma estrela do Leste, que, por sua vez, foi seguida por 3 reis em busca do salvador recém-nascido. Aos 12 anos, era uma criança prodígio, e aos 30 foi batizado por uma figura conhecida por Anup, e que assim começou o seu reinado.

Hórus tinha 12 discípulos e viajou com eles, fez milagres tais como curar os enfermos e andar sobre a água. Também era conhecido por vários nomes: A Verdade, A luz, o filho adorado de Deus, Bom pastor, Cordeiro de Deus, entre muitos outros. Depois de traído por Tifão, foi crucificado, morto por 3 dias e ressuscitou. Estes atributos de Hórus, originais ou não, parecem influenciar várias culturas mundiais e muitos outros deuses encontrados com a mesma estrutura mitológica

Gregos:
Attis, da Phyrugia, nasceu da virgem Nana em 25 de dezembro, crucificado, colocado no túmulo, 3 dias depois ressuscitou. (Grécia, 1200 a.C)

Na Grécia, Dionísio – deus da vinha – e que era chamado “salvador (soter)”, segundo a crença corrente.

Dionísio nasceu de uma virgem em 25 de dezembro, foi um peregrino que praticou milagres como transformar a água em vinho e é referido como 'Rei dos Reis', 'Filho pródigo de Deus', 'Alpha e Omega', entre muitas outras coisas. Após a sua morte, ressuscitou. (Grécia, 500a.C)
Romanos:
Na velha Roma, o dia 25 de dezembro era o “DIES NATALIS SOLIS INVICTUS” (dia do nascimento do sol invencível - Mithra). Quando os dias recomeçavam a crescer, celebrava-se o renascimento do sol, o Natalis Solis, que quer dizer, o nascimento de Mithra, deus salvador, vencedor, invencível, que segundo a mitologia nasceu de um rochedo no dia 25 de dezembro.

Também Adônis, outra divindade helênica, era celebrada nesse dia.

Persas:
Mithra, da Pérsia, nasceu de uma virgem em 25 de Dezembro, teve 12 discípulos, praticou milagres e após a sua morte foi enterrado e 3 dias depois ressuscitou. Também era referido como 'A Verdade', 'A Luz', entre muitos outros. Curiosamente, o dia sagrado de sua adoração era Domingo (Sunday: Dia do Sol). (Pérsia, 1200 a.C)

Hindus:
Krisnha, da Índia, nasceu da virgem Devaki com uma estrela no Ocidente assinalando sua chegada. Fez milagres em conjunto com seus discípulos e após a morte ressuscitou. (Índia, 900 a.C)
Segundo a literatura indiana, quando Krishna, a oitava encarnação do deus Vishnu, nasceu da virgem Devaki, ele foi visitado por homens sábios que foram guiados até ele por uma estrela. Anjos também anunciaram o nascimento de Krishna a pastores nos campos próximos do local de seu nascimento. Quando o Rei Kansa soube do nascimento da criança, enviou homens para matar todas as crianças da região, mas uma voz celestial chegou aos ouvidos do pai adotivo de Krishna avisando-o para que tomasse a criança e fugisse através do rio Jumna"

COISAS QUE ACONTECEM

foto: Geraldo Bossini          

         A noite chegou silenciosa. Era mais um dia na vida de Belmira. Chegou exausta após um dia de trabalho. Há tempos atuava como recepcionista em um Hotel de luxo na cidade litorânea em que residia. Paralelamente ao trabalho dedicava-se a cursos diversos a distância buscando aprimorar-se, engordar seu currículo, e assim buscar um novo emprego e melhoria salarial. Em seus sonhos queria conhecer o mundo, viajar, ter sua casa, cuidar de seus bichinhos de estimação e ser feliz com essas coisas. No trabalho tinha um bom relacionamento com todos e muitos a procuravam para desabafar, revelar suas insatisfações mais íntimas e incertezas perante a vida. Como boa ouvinte, Belmira cativava. As pessoas queriam ser ouvidas, alguém que dispensasse alguns minutos para que pudessem confiar, confidenciar e desabafar.

            Evidentemente, havia quem não gostasse dela, assumida ou dissimuladamente. Eventualmente ficava sabendo daquela boa e velha estória “ fulano está falando tal coisa de você...”, mas Belmira sabia relevar. Estava apostando em sua carreira. Como recepcionista, simpática e atenciosa, havia conquistado o carinho e amizade de várias pessoas, inclusive grandes empresários. Por essa razão desdobrava-se também no estudo do espanhol e inglês, queria falar fluentemente. Um dia a sorte bateria em sua porta.

            Assim os dias se sucediam. Visualizando o potencial de sua funcionária, Edeogar Pontes, gerente do Hotel a promoveu. Foi uma festa. Foram todos comemorar em uma edícula, com carne à vontade, além de cerveja gelada, piscina e descontração. Alguns, naturalmente não compareceram e dispensaram os cumprimentos e votos de sucesso, até mesmo por que realmente não alimentavam tal desejo.

            Passada a festa, a rotina diária com seu corre-corre, sufoco, nervosismos, preocupações, tensões, pressões, além dos cursos que Belmira freqüentava com a desaprovação de alguns. Não passava de uma louca, “a gente morre e fica tudo aí” – justificavam. “Vá curtir a vida enquanto resta” – profetizavam vários. Mas Belmira sentia imenso prazer no que fazia.

            A moça não dispensava, contudo, seus momentos de oração e meditação. Recolhia-se no Santuário do Bom Jesus Flagelado e lá permanecia, de coração aberto. Somente Ele sabia e compartilhava os reais pensamentos e sentimentos que borbulhavam no palpitar daquele coraçãozinho meigo. Sabia da competitividade, das amizades nem sempre verdadeiras e das muitas pessoas que a tratavam bem simplesmente pela grande amizade e afinidade com o gerente. Muitas vezes era convidada para jantar com ele e a família, a ponto de surgirem comentários maldosos, em geral injetados por aqueles que entendiam ser mais fácil dinamitar o caminho dos colegas do que construir uma ponte segura para si mesmos.

            As coisas se tornaram mais explícitas quando Edeogar anunciou que iria se aposentar. A vaga despertou ou evidenciou desejos incríveis de muitos. Alto salário e status era o que grande parte dos funcionários almejava. A escolha, no entanto, ficaria a cargo de Dona Manoela Crispiniano Del Cobre, dona da rede de hotéis. O nome cogitado era de Belmira, afinal era a grande “puxa-saco” de Edeogar. E para alegria de uns e desespero de outros, Belmira foi chamada pela poderosa senhora, rígida, mal encarada, fria e competente Dona Manoela. Horas de conversa e Belmira saiu tremulejando as pernas, suada e pálida. Seria a gerente !

            Novos compromissos e responsabilidades, cuidadosa e perfeccionista, Belmira passou a dar o melhor de si. Evidenciou-se ainda mais pelo trabalho. Para recepcionista fora contratado Basilides, jovem, bonito, de olhar negro e profundo, que chamou a atenção da gerente. Em breve saboreavam um chopp gelado e como aperitivo a atração que os mantinha ligados. Basilides era casado com Cleide e com a qual tinha uma filhinha de nome Larissa, de um ano e meio, mas choramingava com Belmira as decepções de seu casamento. Logo Belmira e Basilides passeavam juntos com Larissa nos braços. Assim despesas para a casa, roupas e brinquedos foram sendo conseguidos com certa facilidade. Segundo Basilides, visando evitar desconfianças da esposa, em alguns jantares e passeios levava Cleide, moça simples, que Belmira precisou levar a um cabeleireiro e comprar algumas roupas para que pudesse freqüentar alguns lugares.

            Não demorou para que Belmira também liberasse algum dinheiro para aluguel, gás, contas de água, luz ou telefone. Sentia-se, contudo feliz com o carinho e maneira atenciosa do companheiro. Simultaneamente buscava novos cursos, agora tinha outra meta, ganhar mais, conquistar mais para que Basilides também recebesse esse bônus. Incentivava-o a estudar para que ocupasse posições melhores e conseqüentes melhorias financeiras, mas ele alegava que não tinha a inteligência da “mulher da vida dele”.

            Certa manhã e Dona Manoela visitou o Hotel para conversar com Belmira, saber do andamento do negócio e fazer-lhe uma proposta :  queria que assumisse a gerência da rede de hotéis no litoral. O impacto foi grande. Belmira não julgou-se capaz para encarar tal desafio, mas Dona Manoela soube conduzir a conversa e obter o sim.

            Basilides tentou chantageá-la emocionalmente dizendo que não poderia desfazer o casamento agora, que tinha a filha, que não poderia acompanhá-la, entre outros argumentos que pudessem garantir sua estabilidade. Belmira, contudo, soube analisar seu íntimo.

            - Meu garoto, você não me ama, você ama o que proporciono a você, sua esposa e filha, agora é o momento de você assumi-las, cuidar delas, respeitá-las. Sei que Cleide sabe de nós dois e aprova por que também convém a ela. Quanto a mim, vou continuar meus sonhos...

            - Você está me ofendendo ! Não sou essa pessoa que você está dizendo...eu te amo !, esbravejou o rapaz defendendo-se.

            - Você me ama como ama Nathália, a camareira, e como ama Leonardo, da recepção. Sei que você usa com eles a mesma estratégia, embora comigo o ganho seja maior. Mas se achar que deve investir, Leonardo será o novo gerente. Só acho que ele não merece ser tão usado, enganado e magoado. Agora você pode sair.

            - Você disse que me amava, você me usou ! disse levantando-se apontando o dedo e fingindo-se magoado.

            - Ambos fingimos, cada qual com um propósito...estamos quites. Pode sair, não gostaria de vê-lo sair carregado pelos seguranças.

            No Hotel pululavam votos de sucesso a Belmira. Abraços, beijos e cartões, presentes e lembrancinhas para que não fossem esquecidos. Nos bastidores, no entanto, soavam comentários “ainda bem que ela vai sair”, “agora vai ficar bem”, “não suportava mais ela”, “precisamos de alguém mais exigente, as camareiras não trabalhavam direito” e coisas similares que todos conhecem quando se reúne mais de uma pessoa para fofocar.

            O caos estabeleceu-se quando Belmira informou que Leonardo seria o gerente. Diante dele abraços comovidos, sorrisos, votos de sucesso, lágrimas banharam o rosto dos mais dissimulados, depoimentos emocionados se sucederam. No café outras avaliações, que exteriorizavam os reais sentimentos de alguns, apontavam “mas esse viado vai assumir a gerência!”, “um puxa-saco ! só podia ser ele!”, “vocês vão ver o que vai virar isso aqui!”,”o certo era Alzira ser a gerente!”.

            O fato é que Belmira saiu em férias, rumo a Paris, depois Zurique, Roma, enfim faria uma turnê pela Europa antes de ocupar seu novo cargo. O aprendizado das línguas e demais cursos a ajudara muito. Aproveitaria para conhecer a filial do Hotel que estava sendo instalada em Londres. Esse era seu mais novo desejo.

            Em um café em Paris, distraída, não viu aproximar-se Aimée. De calças jeans e camiseta, de uns quarenta e poucos anos.

            - Sozinha? Posso apresentar-me?   
   

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

POSSESSÃO - FOTO POEMA


Recebi do amigo Cariolando, de Campo Grande (Capital de Mato Grosso do Sul), uma foto-poema inspirada em "Possessão", poema que escrevi no ano 2000...agradeço o carinho !


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

TEMPO DO NÃO TEMPO


sinto o bafo quente do deserto
do vento que vem sem tempo
de um buraco negro no espaço
o tempo do não tempo
o beijo amargo das conseqüências
o rodopiar dos dias
a fome, a sede, a miséria
o medo e a ameaça, a pilhéria
o grito abafado
da mulher que busca resgatar o filho
pútrido entre grunhidos
abre-se a terra em seu ventre
mãe devoradora dos próprios filhos
água, terra, fogo e ar
culto eterno das forças soberanas
deuses vãos que escorrem entre lavas
entoando cânticos sagrados
que se enterram em valas secretas 

sinto o beijo fúnebre dos ancestrais
comovidos e santos que me olham
nova terra de história antiga
sopro de vida que se renova
novos brotos
desenrolam-se na terra aquecida 

tempo do não tempo
em redemoinhos
orgasmo apocalíptico
em transe e delírio 

ouço o tambor do firmamento
rompendo todo e qualquer pensamento
em êxtase lambo o lodo e como a lama
me desintegro em mil pedaços
viajando solene pelo espaço 

vejo a face da deusa, do deus, do nada
no vácuo caminho esquecido e inútil
perambulando entre estrelas
simples labaredas que me engolem

sou terra, sou luz, sou lama, sou sempre
SOU TEMPO DO NÃO TEMPO

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

PAI BERNARDINO

                      Niara deixou a cozinha apressada, mal limpando as mãos no avental e abandonando os legumes que começavam a ser picados. A grande cozinha demonstrava a grandeza da casa da fazenda onde residia o imponente coronel Vasconcelos. Terrível qual urutu cruzeiro embrenhada na moita. Senhor de muitos escravos e que dominava todo sertão de São Paulo, temido, era quem dava a última palavra em tudo. Decidia sobre a vida e a morte, o caminho de cada um. Casado com Dona Hermelinda Carolina Salto Couto e Silva, não melhor que ele, sanguinária, prazerosa em chibatar os negros até ver o solo banhado de sangue, o que fazia com ardor e um sorriso rasgado no canto dos lábios.
            O coronel só se rendia aos encantos da negra Niara, que atendia pelo nome de Maria da Conceição, batizada pela própria Hermelinda, comprada no mercado e escolhida a dedo. Iria cozinhar para a sinhá, responsabilizar-se pelos afazeres da casa e atender os desejos insaciáveis de Vasconcelos.
            A moça, trêmula e inquieta, adentrou a senzala apreensiva, mordendo o indicador, como sinal de que algo não caminhava bem. Precisava falar com alguém de confiança e essa pessoa somente podia ser o velho Adebayo, nome esse proibido por ali e rapidamente substituído para Joaquim. Joaquim era um preto velho que caíra nas graças de Hermelinda após cuidar de uma febre que a consumia utilizando-se de um chá que ministrava periodicamente e orações que fazia aos pés da cama para Nossa Senhora da Conceição. Agora gozava de certa liberdade, transitando pela casa e livre de serviços pesados.
            - Meu pai, a benção!, rogou a moça constrita.
            - Nosso Senhor lhe abençoe!, resmungou o velho levantando a cabeça e saindo de sua concentração.
            - Preciso de ajuda, meu pai! Acho que vou ter uma criança! Filho do Coronel! Se Dona Hermelinda souber serei morta... , revelou desesperada.
            Joaquim silenciou como se desaparecesse entre seus pensamentos. Pediu que ela se aproximasse, após um vácuo que encheu Maria da Conceição de ansiedade, e disse para sentar-se num toco já antigo e danificado. Enfiou a mão no bolso do paletó surrado de onde retirou alguns cauris e recitando palavras incompreensíveis que trazia da terra de seus antepassados, lançou-os no chão de terra batida. Jogou várias vezes, como se quisesse adentrar ainda mais no destino daquela mulher e da criança que despontava em seu útero. Por fim, deu um sorriso que pareceu triste e longínquo.
            - Espere o sofrimento, minha filha. Serão dias de dor, de fuga, de tropeços e lágrimas, incertezas e dúvidas. Mas confie, os orixás vão guiá-la até onde você e o menino poderão crescer e ele brilhará como o sol vencendo a morte.
            Hermelinda tivera com Vasconcelos apenas quatro filhas e temia o nascimento de um menino, o que seria com certeza a paixão de seu marido. Por essa razão tratava de extinguir toda e qualquer cria que tivesse com as escravas.
            As palavras do velho homem foram proféticas. Sagaz, Hermelinda logo percebeu que algo acontecia com a jovem escrava e passou a humilhá-la de todas as formas, fazendo a lavar várias vezes a mesma louça acusando ter detectado sujeiras, refazer a arrumação de camas ou lustrar móveis. À medida que se percebia a barriga da moça arredondar-se mais abusos sofria, inclusive sendo levada ao açoite. Certa noite a alucinada senhora levou-lhe um chá para beber para fazer descer a criança. Maria da Conceição foi obrigada a engolir a amarga poção.
            Naquela noite a moça sonhou que caminhava pela areia branca da praia. Estava só e o mar era só dela. O ruído do mar a fazia sorrir e brincar correndo pelas ondas. Sentiu então uma terrível dor no ventre, temeu pela criança. Clamou a Deus para que não perdesse seu filho.
            As águas do mar agitaram-se e Iemanjá emergiu soberana rodeada de muitos peixes. Tinha os seios fartos e olhar penetrante, trazia ricos colares de conchas e pérolas, num manto de escamas multicoloridas. Aproximou a mão do ventre da moça e disse: “Ele viverá, será difícil, mas ele viverá. Acorde agora e fuja!”
            Maria da Conceição despertou atordoada, levantou-se e embrenhou-se na mata rumo a qualquer lugar que fosse. Andou a noite toda até cair exausta junto a um morro que formava uma reentrância que a protegeria temporariamente.
            Logo um grupo de homens saíra para procurá-la. Hermelinda queria apenas o corpo da escrava. Deveriam trazê-la morta após a terem feito sofrer todos os terrores que um ser humano pudesse suportar.
            Não demorou a que se ouvisse as vozes e xingamentos dos rudes capatazes derrubando a mata e criando passagens. Assustada e temendo ser encontrada, Maria da Conceição saiu às pressas arranhando-se nos cipoais, urtigas e outras plantas da mata selvagem. De repente uma mão agarrou-lhe os ombros, fazendo-a gritar. Olhou aterrorizada e deparou-se com Ossayn abrindo um caminho entre as folhagens e levando-a, mudo e introspectivo, para onde não pudesse ser vista. Logo os homens passaram em algazarra, tecendo ameaças a ela.
            Solitária caminhou pela mata alimentando-se de frutos que encontrava. Chegou a um pequeno povoado de negros fugidos que a acolheram. Eram quatro casas de pau a pique mergulhadas na floresta, próximas a uma bela cachoeira. Foi na beira dela, sob os cânticos a Oxum, que o menino nasceu e anunciou sua chegada ao mundo. Recebeu o nome de Simbovala.
            O menino cresceu forte e, rapidamente, corria por entre as casas e era o tesouro maior daquela gente simples.
            Certa tarde, a pequena aldeia mostrou-se tumultuada. Abeeku, um jovem, fora picado por uma cobra. O rapaz sofria terrivelmente, se contorcendo e exibindo o hematoma inchado em seu pé direito. À medida que adentrava a noite aumentava a sudorese e os vômitos, revelando a situação dolorosa vivenciada. Os ungüentos e beberagens oferecidas pelos anciãos não mostravam reação. Todos lamentavam o ocorrido.
            Simbovala o tinha como uma referência. Praticamente o adotara como seu pai, saindo para caçar com ele e o acompanhava em tudo o que podia. Chegou-se ao leito de palha onde o jovem delirava. Uma lágrima rolou de seus olhos de ônix. Ajoelhou-se e beijou a ferida, olhando-o profundamente. Algumas vezes o silêncio diz muito mais coisas. O seu olhar e seu silêncio tinham o poder de uma oração, de uma declaração de amor, carinho, respeito e desejo de que sobrevivesse.
            Na manhã seguinte a febre havia diminuído e alguns dias corria pela floresta com seu pequeno filho. A aldeia passou a respeitar o menino como uma divindade.
            Foi o próprio Abeeku que trouxe a notícia de que um grupo de homens armados se aproximava da aldeia, já haviam incendiado outras e matado todos os seus moradores. Deveriam refugiar-se na floresta. A aldeia foi devastada. Todos, porém, foram salvos. No entanto, dispersaram-se.
            Abeeku, Maria da Conceição e Simbovala seguiram pela mata até a proximidade de uma fazenda. Ficaram receosos, uma vez que já haviam sofrido nas mãos de um senhor de engenho. Acomodaram-se entre as raízes de um imenso flamboyant e acabaram adormecendo, apenas despertados por uma senhora rodeada de capatazes.
            - Venham comigo, é perigoso permanecerem aqui..., disse a mulher demonstrando clara preocupação.
            Tratava-se de Dona Merenciana do Castro Monteiro e Lima, senhora daquelas terras e que após o falecimento do marido dirigia toda a propriedade com força e coragem. Tinha um imenso coração. Acolheu os três com extremo carinho dando-lhes roupas novas e comida, propondo que permanecessem ali com ela.
            Era um conto de fadas que se realizava. Abeeku recebeu o nome de Francisco e Simbovala foi batizado como Bernardino.
            Anos se passaram e o menino cresceu auxiliando na fazenda, com despojamento e alegria. Não era possível vê-lo triste. Cuidava de tudo e todos, curava animais com ervas e benzimentos. Quando indagado sobre onde aprendia tais coisas ele logo informava “Nosso Sinhô que me insina”.
            Maria da Conceição apaixonou-se por Francisco e logo um novo filho se formava em seu ventre. Já era o terceiro.
            Bernardino dormia profundamente quando recebeu um chacoalhão que o fez despertar num salto. Diante de si havia um homem coberto de palha. O homem apontou-lhe a casa grande, indicando para que se apressasse. Entrou na casa como que teleguiado. Entrou no quarto da senhora e a viu com as mãos no peito, com dificuldades para respirar, tentando puxar o ar, até cair inconsciente. O jovem colocou as mãos na cabeça da senhora, em profunda prece, depositando-a na cama.
            Heitor, filho de Merenciana, odiava Bernardino, embora sem razões para isso, constituindo apenas desprezível ciúmes por ver a mãe manifestando tanto apreço ao rapaz. A entrada de Bernardino no quarto da senhora em alta madrugada e encontrá-la morta pela manhã foi motivo suficiente para espalhar que Bernardino a matara. Foi açoitado e permaneceu vários dias sob o sol causticante. Heitor tornara-se terrível algoz.
            A placidez de Bernardino ainda mais o irritava. O tronco e o vira-mundo, as algemas, cepo e peia, as máscaras de flandres, os anjinhos, o bacalhau e a palmatória passaram a ser companheiros do escravo. Em suas sessões de tortura, públicas, Heitor exigia que todos aplaudissem enquanto se extasiava em suas barbaridades.
            Enquanto sofria, Bernardino orava. Pedia a Deus pela alma de Heitor. Essa afronta fez com que o herdeiro da fazenda preparasse uma vingança ainda mais cruel. Estamparia o nome “Heitor” com ferro e brasa nas costas do negro. A data seria na noite de São João, quando outros senhores e senhoras se reuniriam na fazenda para as comemorações do santo.
            Os escravos imploravam que Bernardino fugisse, mas resignado subiu ao morro para orar. Mergulhou em seu costumeiro silêncio. Acordou assustado com um golpe como se tivessem rachado a rocha. Diante de si vislumbrou a altiva figura de Xangô. Surgiu e despareceu como um raio. Entendeu que deveria seguir seu destino.
            Seguiu a estrada de terra sem saber para onde ir. A noite ia alta e alua cheia iluminava como o sol. Em uma encruzilhada deparou-se com Exu. Apresentava-se com estiloso fraque, cartola e fumava demoradamente um charuto de odor doce e atrativo.
            - Salve!, saudou Bernardino entendendo tratar-se de um ser espiritual.
            - Salve, Bernardino ! Demorou pra chegar! Vai reto nesse caminho, lá em frente fica a Vila de São Sebastião dos Coqueiros, é lá que tu vai se firmar. Lá vamos construir um terreiro. Vou estar na tua frente. Não tema nada..., disse entre gargalhadas o homem.
            No caminho encontrou um homem ao lado de um cavalo deitado no chão.
            - Bom dia, o que aconteceu, senhor?, disse Bernardino sempre buscando ajudar.
            - Bom dia, não sei, de repente caiu e está respirando forte..., disse o homem intrigado.
            - Ele está envenenado, comeu o que não devia...peço que aguarde e vou curá-lo, assim falando adentrou a mata voltando algum tempo depois.
            Colheu água na mina da margem da estrada e preparou uma beberagem.
            - Ficará bom!, definiu com extrema convicção.
            Foram derramando a beberagem na boca do cavalo até que ele ergueu-se vacilante.
            O homem o convidou a acompanhá-lo e o empregou. Precisava de alguém que cuidasse do sítio. Tornaram-se amigos.
            As estórias de Bernardino começaram a correr pela Vila. Ora um benzimento contra o cobreiro, outro para erisipela, torcedura, icterícia e logo pela manhã já se formava fila diante do barraco do negro.
            Mendonça dispensou-o do trabalho para que cuidasse das pessoas e doou-lhe o pedaço de terra para o que desejasse. A popularidade crescia.
            Estava sentado, em uma noite quieta diante da fogueira, quando viu aproximar-se o Exu que se apresentara na encruzilhada. Apresentou-se como Exu Rei das Sete Encruzilhadas. Falou-lhe sobre os fundamentos do terreiro que deveria abrir e apontou-lhe outros guias que trabalhariam ali: Caboclo Pena Branca, Pai Joaquim de Angola, entre outros. No dia seguinte, oito horas da noite ele receberia em seu corpo o Caboclo Pena Branca para fundação do terreiro.
            No outro dia, no horário marcado um grupo imenso de pessoas aguardavam. O Caboclo Pena Branca deu as boas vindas e começou atender as pessoas. Entre elas algumas começaram a receber seus guias, posteriormente fazendo parte do terreiro.
            As paredes se ergueram, os atabaques começaram a tocar. Não havia dia ou hora, Bernardino acolhia os sofredores, mesmo que para ouvi-los. Penalizava-se com a dor dos outros e desejava imensamente que todos fossem felizes e saudáveis.
            Em pouco tempo surgiram problemas, em especial promovidos pelo pároco local, Padre Honório do Menino Jesus. O padre, utilizando-se de suas influências, resolveu “dar um susto” no curandeiro.
            A sessão estava para começar quando Pai Bernardino, como passou a ser chamado, anunciou que o Caboclo Pena Branca queria que se reunissem na mata. Assim, todos se retiraram do terreiro.
            Quando retornaram depararam-se com a devastação produzida pelos policiais. Enraivecidos por não encontrarem ninguém, destruíram imagens, bancos e decorações. A ocorrência uniu mais os fiéis que se mobilizaram para reconstruir o terreiro.
            Vendo que não atingira seus objetivos, Padre Honório buscou outra alternativa: pagou uma mulher para dizer que seu filho morrera após passar pelas mãos do “feiticeiro”. A denúncia levou Pai Bernardino para a prisão. Ali permaneceu em oração.
            Na madrugada a mulher despertou diante da figura do homem coberto de palha que lhe tocou o rosto e desapareceu. Ao amanhecer estava repleta de ulcerações, crostas e secreções purulentas na face. Aos poucos as lesões foram se estendendo para todo corpo. Desesperada procurou o padre que não só recusou-se recebê-la como ordenou enxotá-la dali. Sem auxílio, definhou até a morte.
            Por influência de autoridades, Pai Bernardino foi libertado, ainda retornando à prisão várias vezes em razão das articulações do padre.
            Cada vez que retornava havia festa com todos vestidos de branco, muitas palmas, lírios e copos de leite. Cada vez que saía da prisão uma chuva fina caía sobre a cidade. Cada vez que saía da prisão mais pessoas o procuravam e eram curadas ou tinham seus problemas resolvidos de maneira quase mágica.
            Antes de iniciar a sessão acendia uma vela aos pés da aroeira que havia do lado de fora do terreiro e pedia proteção. Durante as tardes era ali que estava sentado, em seu banco tosco, fumando seu cachimbo e abençoando a todos.
            Foi numa dessas tardes, com o tempo nublado e nuvens carregadas circundando a cidade, que um tumulto na frente do terreiro chamou-lhe a atenção.
            Dona Jandira, ajudante do terreiro, e que também o apoiava em suas necessidades, chegou esbaforida:
            - Corre, Pai, que estão trazendo o padre !
            O velho levantou-se vagarosamente, pitando seu cachimbo, como se já esperasse o momento. Diante do portão uma charrete com o padre e o sacristão. O padre não estava falando coisa com coisa, visivelmente perturbado. Ao avistar Pai Bernardino começou a gritar:
            - É ele, é ele, o demônio que quer me pegar! Valha-me Deus, Nossa Senhora, me tirem desse lugar!
            Pai Bernardino virou-se de costas e pediu que o seguissem, adentrou o terreiro, foi até o altar, ajoelhou-se, rezou, permanecendo em silêncio por longo tempo. Enquanto isso o padre praguejava e insultava a todos. De repente, o velho voltou e colocou a mão na cabeça do padre, altamente concentrado e “puxou” a entidade que o perturbava.
            Padre Honório despertou do transe assustado, olhando dos lados, sem saber onde estava e ao avistar Pai Bernardino procurou recompor-se simulando desprezo e altivez.
            - Já está bom, padre... mas é bom se cuidar !, resmungou o velho com sorriso irônico.
            Antes que o padre saísse, continuou:
            -... e, olha padre, deixe as crianças em paz...
            O padre empinou-se, subindo na charrete sem olhar para trás. Desde esse dia nunca mais perturbou o preto velho.
            Várias foram as curas realizadas por ele. Morreu aos 109 anos e até hoje, passado tanto tempo, ainda podemos encontrar inúmeras placas em seu túmulo agradecendo as graças recebidas. 
            Desolada, Ana Cristina caminha pelo cemitério. O crepúsculo se aproxima. Caminha absorta em seus pensamentos e ali está para acostumar-se com o local. Estava desenganada pelos médicos, a morte era questão de dias contados.
            Triste, sentou-se em um túmulo, refletindo sobre a própria vida, e não resistindo entregou-se a um choro convulsivo. Sentiu uma mão delicada em seu ombro.
            - Por que choras, minha filha?, disse o velho, olhando-a com ternura.
            - Minha vida acabou, chegou ao fim, nada mais o que fazer..., disse irrefletidamente olhando o homem com os olhos nublados de lágrimas.
            - Tenha fé, minha filha, amanhã não haverá mais nada...complementou o homem.
            Concentrada em sua dor, pensou “realmente, amanhã não haverá mais nada”, sem aperceber-se que estava novamente sozinha.
            O dia amanheceu de um azul límpido, sentia-se ótima, cheia de energia. Uma estranha felicidade a tomara por completo e não sentia mais dores. No terceiro dia, sentindo-se vigorosa, retornou ao médico. Exames, novos exames e uma exclamação duvidosa: “Você não tem mais nada!”. Estava curada.
            Grata e feliz retornou ao cemitério, certamente aquele homem trabalhava ali e precisava encontrá-lo, agradecê-lo. Perguntou sobre ele a algumas pessoas que encontrou ali e ninguém conhecia a descrição. Voltou ao túmulo onde esteve sentada. Na placa: Bernardino. Juntamente com vários agradecimentos.
            Mais uma vez ele retornara para fazer o bem.

CONTOS EMANADOS DE SITUAÇÕES COTIDIANAS

“Os contos e poemas contidos neste blog são obras de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência”

SABORES DO COMENDADOR

Ator Nacional: Carlos Vereza

Ator Internacional: Michael Carlisle Hall/ Jensen Ackles/ Eric Balfour

Atriz Nacional: Rosamaria Murtinho / Laura Cardoso/Zezé Mota

Atriz Internacional: Anjelica Huston

Cantor Nacional: Martinho da Vila/ Zeca Pagodinho

Cantora Nacional: Leci Brandão/ Maria Bethania/ Beth Carvalho/ Alcione/Dona Ivone Lara/Clementina de Jesus

Música: Samba de Roda

Livro: O Egípcio - Mika Waltaire

Autor: Carlos Castañeda

Filme: Besouro/Cafundó/ A Montanha dos Gorilas

Cor: Vinho e Ocre

Animal: Todos, mas especialmente gatos, jabotis e corujas.

Planta: aloé

Comida preferida: sashimi

Bebida: suco de graviola/cerveja

Mania: (várias) não passo embaixo de escada

O que aprecio nas pessoas: pontualidade, responsabilidade e organização

O que não gosto nas pessoas: pessoas indiscretas e que não cumprem seus compromissos.

Alimento que não gosta: coco, canjica, arroz doce, melão, melancia, jaca, caqui.

UM POUCO DO COMENDADOR.


Formado em Matemática e Pedagogica. Especialista em Supervisão Escolar. Especialista em Psicologia Multifocal. Mestre em Educação. Doutor Honoris Causa pela ABD e Instituto VAEBRASIL.

Comenda Rio de Janeiro pela Febacla. Comenda Rubem Braga pela Academia Marataizense de Letras (ES). Comenda Castro Alves (BA). Comendador pela ESCBRAS. Comenda Nelson Mandela pelo CONINTER e OFHM.

Cadeira 023, da Área de Letras, Membro Titular do Colegiado Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba, patronesse Juliana Dedini Ometto. Membro efetivo da Academia Virtual Brasileira de Letras. Membro da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. Membro da Literarte - Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos. Membro da União Brasileira de Escritores. Membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza (ALAF). Membro da Academia de Letras de Goiás Velho (ALG). Membro da Academia de Letras de Teófilo Ottoni (Minas Gerais). Membro da Academia de Letras de Cabo Frio (ARTPOP). Membro da Academia de Letras do Brasil - Seccional Suíça. Membro da Academia dos Cavaleiros de Cristóvão Colombo. Embaixador pela Académie Française des Arts Lettres et Culture. Membro da Academia de Letras e Artes Buziana. Cadeira de Grande Honra n. 15 - Patrono Pedro I pela Febacla. Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Iguaba Grande (RJ). Cadeira n.º 2- ALB Araraquara.

Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Taquaritinga pelos serviços em prol da Educação. Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Bebedouro por serviços prestados à Educação Profissional no município. Homenagem pela APEOESP, pelos serviços prestados à Educação. Título de Cidadão Bebedourense. Personalidade 2010 (Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade Mais Influente e Educador 2011(Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade 2012 (ARTPOP). Medalha Lítero-Cultural Euclides da Cunha (ALB-Suíça). Embaixador da Paz pelo Instituto VAEBRASIL.

Atuou como Colunista do Diário de Taquaritinga e Jornal "Quatro Páginas" - Bebedouro/SP.
É Colunista do Portal Educação (http://www.portaleducacao.com.br

Premiações Literárias: 1º Classificado na IV Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – SP, agosto/2005, Clube Amigo das Letras – poema “A benção”, Menção Honrosa no XVI Concurso Nacional de Poesia “Acadêmico Mário Marinho” – Academia de Letras de Paranapuã, novembro/2005 – poema “Perfeita”, 2º colocado no Prêmio FEUC (Fundação Educacional Unificada Campograndense) de Literatura – dezembro/2005 – conto “A benção”, Menção Especial no Projeto Versos no Varal – Rio de Janeiro – abril/2006 – poema “Invernal”, 1º lugar no V Concurso de Poesias de Igaraçu do Tietê – maio/2006 – poema “Perfeita”, 3º Menção Honrosa no VIII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba – setembro/2006 – poema “Perfeita”, 4º lugar no Concurso Literário de Bebedouro – dezembro/2006 –poema “Tropeiros”, Menção Honrosa no I concurso de Poesias sobre Cooperativismo – Bebedouro – outubro/2007, 1º lugar no VI Concurso de Poesias de Guaratinguetá – julho/2010 – poema “Promessa”, Prêmio Especial no XII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba, outubro/2010, poema “Veludo”, Menção Honrosa no 2º Concurso Literário Internacional Planície Costeira – dezembro/2010, poema “Flor de Cera”, 1º lugar no IV Concurso de Poesias da Costa da Mata Atlântica – dezembro/2010 – poema “Flor de Cera”. Outorga do Colar de Mérito Literário Haldumont Nobre Ferraz, pelo trabalho Cultural e Literário. Prêmio Literário Cláudio de Souza - Literarte 2012 - Melhor Contista.Prêmio Luso-Brasileiro de Poesia 2012 (Literarte/Editora Mágico de Oz), Melhor Contista 2013 (Prêmio Luso Brasileiro de Contos - Literarte\Editora Mágico de Oz)

Antologias: Agreste Utopia – 2004; Vozes Escritas –Clube Amigos das Letras – 2005; Além das Letras – Clube Amigos das Letras – 2006; A Terra é Azul ! -Antologia Literária Internacional – Roberto de Castro Del`Secchi – 2008; Poetas de Todo Brasil – Volume I – Clube dos Escritores de Piracicaba – 2008; XIII Coletânea Komedi – 2009; Antologia Literária Cidade – Volume II – Abílio Pacheco&Deurilene Sousa -2009; XXI Antologia de Poetas e Escritores do Brasil – Reis de Souza- 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2010; Prêmio Valdeck Almeida de Jesus – V Edição 2009, Giz Editorial; Antologia Poesia Contemporânea - 14 Poetas - Celeiro de Escritores, 2010; Contos de Outono - Edição 2011, Autores Contemporâneos, Câmara Brasileira de Jovens Escritores; Entrelinhas Literárias, Scortecci Editora, 2011; Antologia Literária Internacional - Del Secchi - Volume XXI; Cinco Passos Para Tornar-se um Escritor, Org. Izabelle Valladares, ARTPOP, 2011; Nordeste em Verso e Prosa, Org. Edson Marques Brandão, Palmeira dos Indios/Alagoas, 2011; Projeto Delicatta VI - Contos e Crônicas, Editora Delicatta, 2011; Portas para o Além - Coletânea de Contos de Terror -Literarte - 2012; Palavras, Versos, Textos e Contextos: elos de uma corrente que nos une! - Literarte - 2012; Galeria Brasil 2012 - Guia de Autores Contemporâneos, Celeiro de Escritores, Ed. Sucesso; Antologia de Contos e Crônicas - Fronteiras : realidade ou ficção ?, Celeiro de Escritores/Editora Sucesso, 2012; Nossa História, Nossos Autores, Scortecci Editora, 2012. Contos de Hoje, Literacidade, 2012. Antologia Brasileira Diamantes III, Berthier, 2012; Antologia Cidade 10, Literacidade, 2013. I Antologia da ALAB. Raízes: Laços entre Brasil e Angola. Antologia Asas da Liberdade. II Antologia da ACLAV, 2013, Literarte. Amor em Prosa e Versos, Celeiro de Escritores, 2013. Antologia Vingança, Literarte, 2013. Antologia Prêmio Luso Brasileiro - Melhores Contistas 2013. O tempo não apaga, Antologia de Poesia e Prosa - Escritores Contemporâneos - Celeiro de Escritores. Palavras Desavisadas de Tudo - Antologia Scortecci de Poesias, Contos e Crônicas 2013. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXIII, RG Editores. Antologia II - Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro. antologia Escritores Brasileiros, ZMF Editora. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXVI - RG Editores (2014). III Antologia Poética Fazendo Arte em Búzios, Editora Somar (2014). International Antology Crossing of Languages - We are Brazilians/ antologia Internacional Cruce de Idiomas - Nosotros Somos Brasileños - Or. Jô Mendonça Alcoforado - Intercâmbio Cultural (2014). 5ª Antologia Poética da ALAF (2014). Coletânea Letras Atuais, Editora Alternativa (2014). Antologia IV da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). A Poesia Contemporânea no Brasil, da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). Enciclopédia de Artistas Contemporâneos Lusófonos - 8 séculos de Língua Portuguesa, Literarte (2014). Mr. Hyde - Homem Monstro - Org. Ademir Pascale , All Print Editora (2014)

Livros (Solos): “Análise Combinatória e Probabilidade”, Geraldo José Sant’Anna/Cláudio Delfini, Editora Érica, 1996, São Paulo, e “Encantamento”, Editora Costelas Felinas, 2010; "Anhelos de la Juvenitud", Geraldo José Sant´Anna/José Roberto Almeida, Editora Costelas Felinas, 2011; O Vôo da Cotovia, Celeiro de Escritores, 2011, Pai´é - Contos de Muito Antigamente, pela Celeiro de Escritores/Editora Sucesso, 2012, A Caminho do Umbigo, pela Ed. Costelas Felinas, 2013. Metodologia de Ensino e Monitoramento da Aprendizagem em Cursos Técnicos sob a Ótica Multifocal (Editora Scortecci). Tarrafa Pedagógica (Org.), Editora Celeiro de Escritores (2013). Jardim das Almas (romance). Floriza e a Bonequinha Dourada (Infantil) pela Literarte. Planejamento, Gestão e Legislação Escolar pela Editora Erica/Saraiva (2014).

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