segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CERNE DA ALMA

assim vigia o homem
seus gestos e olhares
a educação, a repressão, os conceitos
tão alicerçados e tão frágeis
que mal nutrem a alma e o coração
gerando azias incontidas
de aspirações não digeridas
engolidas como sapos
enquanto o lábio sorri
bate no peito, afirma, declama
relata vantagens, enumera mentiras
busca aplausos e aprovação
de todos aqueles que como ele
queriam tanto viver os próprios sonhos
no cerne da alma
chora, modela, sorri e dilui
pensamentos que não pode ter
desejos que nem pode conceber
aquilo que por decisão própria
nunca poderá ter.

MÁSCARAS

sonho com os teus encantos
em todos os cantos
da dourada cidade
que na noite cintila
como milhares de diamantes
que conversam na penumbra
e escondem em suas entranhas
dores, prazeres, desejos e dramas
que circulam nos becos
que andam pelas ruas
que se agitam nas sombras
a noite tem o dom de revelar a alma
nos sonhos e devaneios
no beco escondido
no motel, no carro, no escuro
todos demonstram seus anseios
orações, esperanças, abusos
a noite vem e a noite vai
levando e trazendo consigo
a curiosa natureza humana
que se mostra ao sol com uma face
e adentra os escaninhos da alma
com as máscaras da escuridão.

LAS CUATRO ESTACIONES

Desde lejos te busco y ya no te veo.
Te has ido, mi más dulce ilusión.
Desde tu partida se me rompió el corazón
y me quedo aquí escribiéndote esta canción.

Mujer ¿por qué te has ido?
No ves qué me has dejado el querer herido.
Quisiera tenerte a mi lado
y no más imaginar que me has olvidado.

Sol de mi verano, que ha dejado de brillar.
Vuelve a mis brazos, que te quiero ya amar.
Ven, abrázame, no te puedo olvidar.
Aleja esta tristeza que me quiere matar.

Flor de mi primavera, eres lo que más quiero.
Mi vida está tan triste.
Yo, aquí te amé y aquí te espero.
Hoy creo que felicidad sin ti, es algo que no existe.

Como el árbol en el otoño.
Las hojas de tu recuerdo se cayeron.
Las raíces de mi amor por ti
se marchitaron, pero no murieron.

Calor que calentaba mi invierno.
Sin ti todo se ha vuelto un infierno.
Te amé y fuiste mía.
Aquí te espero todavía.

Esta poesia é de autoria de nosso amigo Pepe.
Esta é nossa homenagem.

PROMESA

Hoy prometí a mi misma
Voy a vivir la vida
Voy a romper amarres
Diluir los preconceitos
Destrozar lo que no es parte de mí

Voy a mirar al sol
Beber de la lluvia
Bailando en el rocío
Gritando en el balcón
Aplaudiendo el gatito que logró subir por primera vez
En aquella quaresmeira
Tan vieja
Tantas veces que floreció y no he visto

Voy a mirar en el espejo
Y encontrarme bella
La eternidad contenida en aquellas pupilas
De cinco años
Entre surcos de una época que se arrastra

Voy a besarme

siempre quise besarme
Pasar la lengua en el techo de mi boca

Abrazarme
Sentirme
Tanto tiempo juntas
Y yo no tenía tiempo
A mí misma

Hoy prometí a mi misma
Voy a vivir la vida
Yo seré la persona más importante
Con el cetro y la corona de la majestad

Aplaudiré a mí misma
En la alfombra roja de mi vida
Y sonreír
Sonreír de los delitos, los sueños frustrados,
Los amores mal amados,
De aquellas alegrías olvidadas
Que encerró en el balaústre
Que ni siquiera uso más.

Hoy prometí a mí misma
Voy a vivir la vida


Em breve teremos o lançamento da obra "Anhelos de la Juvenitud", Edições Costelas Felinas, totalmente em espanhol em homenagem aos nossos amigos da Espanha, Argentina, Chile e México que sempre visitam nosso site e acompanham nossas atividades.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

MISTÉRIO NA RUA 7

A estrada era acidentada, repleta de curvas e sem acostamento. Em alguns trechos abismos anunciavam que qualquer eventualidade seria fatal. A paisagem, por outro lado, era belíssima. Muitas árvores, muito verde, emergindo vez ou outra uma cachoeira. Um macaquinho apressado cruzou o caminho deixando os recém-casados empolgados e felizes. Nas árvores um tucano, uma coruja buraqueira, um gavião. Sentiam-se renovados. Seria realmente uma nova vida.
Sarah e Alex se casaram e estavam de mudança para uma cidadezinha bem menor do que residiam, mas ali encontraram suas oportunidades profissionais e decidiram ser seu futuro lar. A pequena cidade era bem pacata, caminhando no ritmo de crescimento de um pé de jatobá. Mas era de clima agradável e com solo fértil para as propostas do casal. Eles estavam instalando o primeiro e único jornal da cidade e para dinamizar esse trabalho iniciariam uma grande campanha onde a própria população o batizaria. O vencedor ganharia um televisor.
Compraram uma casinha de esquina, simples e confortável, bem arborizada. Fizeram alguns reparos na casa eliminando goteiras e vazamentos, providenciaram a pintura e outros pequenos consertos. A casa estava muito boa. Sarah parecia ainda mais entusiasmada decorando a casa a seu modo, curtindo cada detalhe, afinal esse sempre fora seu grande sonho: sua casa, sua vida, em especial ao lado de Alex, após oito anos juntos. Também fazia parte da família Godofredo, um jabotizinho mal encarado que logo buscou a proteção das folhagens que rodeavam a casa.
Estavam exaustos. Jogaram-se na cama esgotados, garantindo apenas um rápido beijo de boa noite.
Alex acordou pela madrugada ouvindo um ruído estranho na cozinha, como se arrastassem a mesa. Ficou um tempo sentado na cama ouvindo para ter certeza, enquanto olhava a esposa desmaiada a seu lado. Novamente o ruído, agora uma cadeira parece ter caído. Certo de haver ladrões na casa caminhou furtivamente na penumbra, pé ante pé, com o coração acelerado e pernas trêmulas, aproximando-se da cozinha. Olhou esperando o pior.
A cozinha estava intacta. Mais uma olhada e tudo normal. Checou as janelas e porta. Foi até a sala. Tudo fechado. Entrou nos outros dois quartos. Tudo em silêncio. Riu-se de si mesmo. O cansaço estava causando alucinações. Retornou a cama e adormeceu profundamente.
A cidade agitou-se com a instalação de um jornal. Em pouco tempo o “Flauteando” conquistou a população pelas matérias bem feitas, a forma cômica de apresentar os fatos, a originalidade e participação popular nos artigos e depoimentos.
Sarah chegou apressada para o almoço. Alex já estava esquentando a comida com a música muito alta. Chegou abaixando o som, jogando a bolsa no sofá e apanhando um copo de suco gelado. Esborrachou-se na cadeira, rindo e contando as peripécias da manhã. De soslaio olhou o longo corredor que dá acesso aos quartos, percebendo um vulto entrar no quarto do casal. Levantou-se de um salto e falou num impulso: “Uma pessoa entrou no nosso quarto”. O marido, com a faca na mão, saiu em disparada em direção ao quarto. A porta fechada. Abriu-a de supetão. A janela fechada e o quarto escuro. Acendeu a luz. Olhou embaixo da cama. Abriu o guarda-roupa. Absolutamente nada. “Ficou louca !” , emergindo aí a primeira discussão na casa, acabando em gargalhadas.
Outra noite. Sarah se espreguiça na cama e ao abrir os olhos depara-se com uma mulher fitando-a, muito próxima, inclinada olhando seu rosto. Os rostos estavam muito próximos. Grita cobrindo a cabeça com o lençol. Alex desperta assustado. “Tem uma mulher no nosso quarto !”. “Não tem ninguém, sua louca!”, afirma o homem levantando-se e checando novamente todos os lugares que poderia ter-se escondido. “Era uma mulher velha, de cabelos brancos, curtos, encaracolados...tinha um xale amarelo desbotado”. “Você sonhou , não tem ninguém, olhei a casa inteira!”. “Eu juro que tinha uma mulher aqui!”, confirmou chorando. “Você sonhou, durma.”. Sarah não dormiu, o dia amanheceu e retornou ao jornal.
O vulto e a aparição da senhora ficou na cabeça da jornalista. Decidiu pesquisar sobre a casa onde morava. Procurou vizinhos. Alguns diziam que a casa estava fechada há anos e que a família havia se mudado para a Capital. Outros diziam não saber. Outros preferiam nem ouvi-la, bastando falar da casa. Havia um mistério ali e que precisava ser desvendado. Toda a compra havia sido feita através da imobiliária. Era justamente para lá que iria. Curiosamente a imobiliária recusou-se a fornecer o contato, dizendo que não poderia fazê-lo a pedido dos antigos donos. Uma pulga atrás da orelha.
Chegou em casa e ao abrir a porta viu-se novamente paralisada. Sentada no sofá a mulher lhe olhava e sorria. Gritou irrefletidamente :”Quem é a senhora ?”, mas ao acender a luz percebeu que a casa estava solitária e vazia. Apenas Godofredo entrou pela sala em seus costumeiros passeios. Trêmula sentou-se, ligou a televisão sem conseguir concentrar-se. A imagem da senhora pulsava em sua mente. No dia seguinte conversaria com Dona Quitinha, uma senhora bastante idosa que morava há um quarteirão dali.
A casa era paupérrima. As paredes mostravam a falta de cuidados há anos. Manchas de lodo e bolor, já não era possível definir com clareza a cor original da casa, predominando um caramelo bem desfocado. Uma galinha cacarejou assustada com as palmas de Sarah. O cachorro ensaiou um latido, mas preferiu continuar deitado junto ao mamoeiro. A senhora chegou ao portão de madeira lentamente tendo uma faixa amarrada na barriga da perna esquerda, talvez em razão de algum ferimento.
- O que você quer ? – perguntou sem rodeios e com certa agressividade.
- Bom dia, sou nova aqui na cidade e estou morando bem perto daqui...como a senhora mora há muito tempo aqui gostaria que me contasse algumas coisas sobre a cidade, sua vizinhança...
- O que você quer saber ?, questionou desconfiada.
- Podemos sentar e conversar ? Prometo que não tomarei muito tempo da senhora...
A senhora abriu o portão, virou as costas e entrou sem qualquer palavra, seguida silenciosamente por Sarah.
- Sente ! – ordenou com autoridade.
- Como disse estou morando aqui há pouco tempo e quero saber mais sobre a cidade. Estou morando logo ali na esquina, entre a Rua 7 e a Treze ...aliás, podemos começar por ali, quem morava naquela casa ?
- A casa está vazia há muitos anos, muitos anos mesmo...ali morou uma grande amiga.
- Que bom ! O que a senhora pode me contar sobre ela ? – perguntou aproveitando a deixa.
- Chamava Milta, ou pelo menos era assim que todos a chamavam. Nunca soube o verdadeiro nome dela. Faleceu há anos e aí a casa ficou fechada. Os filhos moravam muito longe e não deram importância ao imóvel, pelo menos assim penso, foi vendida e já passou por várias mãos.
- A senhora sabe a causa da morte dela?, - questionou aproximando-se mais, demonstrando interesse.
- Não sei. Houve um corre-corre lá na casa, a filha mais velha veio dizendo que ia levá-la para o hospital na cidade grande, depois ficamos sabendo que tinha morrido. Em cidade pequena as notícias são muito rápidas, se você não tomar cuidado nunca terá matérias para o seu jornal. A língua espalha notícias mais rápido que papel.
- Então a senhora sabe quem sou...
- Como eu disse aqui as notícias correm...e sei também por que você está aqui com esse blá-blá-blá todo !, falou encarando a moça.
- Como assim ?, disse desajeitada, arrumando-se no sofá, pega de surpresa.
- Você está aqui por que você a viu.
- Meu Deus ! Como a senhora sabe disso ?
- A casa permanece fechada e não é à toa. Ela começa aparecer, provocar coisas, as pessoas vão embora.
Sarah estava perplexa. Então era verdade. Os vultos, as visões, os ruídos. Dona Milta estava lá, caminhando pela casa da mesma forma que quando viva. Aliás, estava viva, palpável, era possível sentir o perfume dela, ouvir seus passos. Como contaria isso para o Alex ?
Dona Milta tratou, contudo, de encurtar o diálogo. Sarah encontrou o marido pálido e tremendo como vara verde. Ao dirigir-se à cozinha para fazer um capuccino deu de topo com a senhora, com seu xale, chinelinho e vestido de chita, parada junto à janela. Não foi difícil convencê-lo sobre o que estava acontecendo.
Tinham que tomar uma decisão: mudariam de casa, aprenderiam a conviver com ela ou buscariam uma maneira de Dona Milta seguir seu caminho espiritual. A primeira possibilidade estava comprometida, o casal havia investido o que tinham na compra e reforma da casa, aquisição do espaço para o jornal, equipamentos e outros gastos naturais do investimento. Acostumar-se com as aparições não seria fácil. Quanto a terceira opção não sabiam como proceder. Nunca foram religiosos e não seguiam nenhuma crença específica. Sarah pensou na velha amiga, Dona Quitinha.
Alex tentou, sem êxito, instalar algumas câmeras fotográficas e de filmagem buscando capturar uma imagem da senhora, mas ela parecia ter sumido. Nada de ruído, vultos, aromas ou aparições. Avançaram algumas semanas. Acreditaram que tudo havia cessado, certamente a senhora havia encontrado a luz.
Um estouro na madrugada os fez mudar de idéia. Saltaram da cama em pânico. Provavelmente o teto da cozinha havia desabado. Vacilantes chegaram a cozinha. Tudo estava em paz. Aliviaram-se. A porta de um dos quartos bateu violentamente. O coração parecia saltar pela boca. Olharam pelo corredor e silêncio tumular. A luz da sala acendeu e apagou várias vezes sozinha. Retornaram ao quarto pensando o que fazer. Teriam que ficar ali. A cidade tinha apenas um hotel, muito pequeno, mas fechava às vinte e duas horas, reabrindo às seis da manhã e eram três horas da madrugada. Deitaram-se esperando novos fenômenos, mas nada aconteceu.
Dona Quitinha concordou em visitar a casa. Desde a ida de Dona Milta ao hospital nunca mais entrara na casa, onde tantas vezes tomara o chá da tarde. Entrou apreensiva. Sarah a conduziu pelo corredor aos quartos, depois cozinha e sentaram-se na sala. Passaram a saborear um chá de anis-estrelado com bolo de fubá. Podia-se sentir a paz da casa, silenciosa e ventilada. Ela não apareceria. Por alguma razão ela se ocultava da amiga.
A amiga de Dona Milta, entre decepcionada pela não aparição e aliviada por isso, levantou-se despedindo-se, mas retrocedeu ao vê-la em pé na porta, olhando-a ternamente, com um sorriso nos lábios e braços abertos, prontos para um abraço, como era seu hábito. Dona Quitinha não sabia o que fazer, se ia ao encontro da amiga ou permanecia admirando-a. Para todos os efeitos estava paralisada. Venceu o temor, sorriu e também abriu os braços. A visão esvaiu-se. Dona Quitinha buscou de todas as formas controlar as lágrimas e a emoção. Após tantos anos revia a velha amiga.
A partir desse dia, Dona Quitinha começou a sonhar. Os sonhos pareciam muito reais, revelando cenas que antecederam o desaparecimento de Dona Milta. Via a mulher pressionada pela filha endividada sugando-lhe cada vintém que possuía. Exigia, cobrava, fazia chantagens emocionais. Queria mais.
A idosa despertava indignada rememorando os sonhos. Estava impressionada. Afinal, Cida sempre tinha sido uma ótima filha, embora morasse tão longe. Milta sempre falava dela com amor incondicional. Era a única filha. Milta costumava ler, para Dona Quitinha, as doces cartas que a filha lhe enviava. Eram momentos ternos, gostosos, inesquecíveis.
Porém, as noites traziam novas revelações. Dona Milta sendo arrastada para longe, na casa de Cida, sendo maltratada e explorado, tendo que retirar suas economias, juntadas com tantas dificuldades, e entregando para a moça gananciosa, inconseqüente e ingrata. Quitinha resolveu compartilhar os insistentes sonhos com Sarah.
Na casa a vida oscilava entre o céu e o inferno. Quando Dona Milta não aparecia, a casa desabava em ruídos estrondosos mantendo o casal acordado a noite toda. Sarah e Alex concentravam-se para não perderam o foco e a energia para o trabalho, pois em geral chegavam ao trabalho esgotados e sonolentos.
Os sonhos de Dona Quitinha deram trégua. Através de sua filha, Alcina, foi possível conhecer o paradeiro de Cida. Talvez ela pudesse contar exatamente o que havia acontecido com sua mãe. Os contatos com Sarah e Alex permitiram rapidamente organizarem a viagem. Iriam juntamente com Alcina e Dona Quitinha. Seriam pelo menos seis horas de viagem.
Apesar do cansaço, desencontros de informações e caminhos errados chegaram a uma casa em condições bem mais precárias que de Dona Quitinha. Cida abriu a porta da casa desfigurada, mas reconheceu Alcina e Dona Quitinha rapidamente, num choro incontrolável. Sarah e Alex foram apresentados e todos entraram para o interior da moradia. A situação era dolorosa. O sofá velho, com o tecido rasgado, madeira e molas à mostra, acolheu como pode cada um dos visitantes. Um cachorro consumido pela sarna dormia na sala. A pobreza reinante ali doía o coração.
Cida contou que há tempos vinha atravessando problemas financeiros, afundando cada vez mais, que trouxera a mãe para passar um tempo com ela mas havia ficado muito doente e morrera. Após a morte vendera a casa para pagar algumas dívidas, mas parece que tudo foi consumido e no lugar de saná-las parece ter feito redobrar os valores. Há anos se arrastava como podia, passando fome muitas vezes. Perdera a casa e tudo o que tinha de valor. Morava ali de favor, junto com um homem que mal parava em casa, fazia bicos pela cidade e bebia muito, causando mais sofrimento que felicidade. Tinha tido três filhos, mas havia dado para a adoção.
Resolveram que deveriam revelar a ela o que vinha acontecendo na esperança de que alguma verdade emergisse dali, já que as palavras de Cida pareciam frágeis e dissimuladas.
- Ela tinha muito dinheiro, podia ter me ajudado... – a frase saiu impensada e sem tempo para ser restringida.
- Minha querida, você sabe que sou praticamente sua mãe, vivemos juntas. Muitas vezes lhe dei mamadeira e mingau, cuidei de seus ferimentos, acalentei seu sono, você pode se abrir comigo, saberei compreender... – insistiu amorosamente Dona Quitinha.
Mas a já senhora parecia insensível. Ou não acreditava nas palavras e narrações feitas ou tinha um coração perturbado, endurecido e vil. Pressionada cada vez mais mostrou-se irritada e numa explosão de raiva disse sua mãe nunca tivera piedade de sua penúria e por isso vendera os filhos. “Vendi mesmo !”, declarou com frieza. “Duas meninas e um menino”. Começou a andar pela sala, acendeu um cigarro visivelmente nervosa. “Uma menina foi para uma dona que parou com um carrão lá onde eu morava, pagou e levou, nem sei pra onde”. Respirou fundo e querendo agredir a todos continuou. “A outra foi um homem que chegou cheio de conversa, ofereceu dinheiro e eu peguei”. Uma outra caminhada pela sala, uma baforada, uma encarada em cada um. “Aí, aí, apareceu um tal que gostava de meninos, disse que meu filho era lindo, e eu disse é tanto!”. “Ele me trouxe o dinheiro e levou o infeliz”. “Não sei se estão vivos, se estão mortos, também não me interessa. E se quiserem saber mais, os outros eu abortei”.
Estavam todos perplexos e indignados. Alcina arriscou-se a dizer se ela havia vendido a mãe também. A mulher pareceu virar onça. “Não, não vendi. Quem iria querer comprar? Morreu. Sempre dizia que ia morrer de desgosto. Ela viu levarem as crianças. Via eu transar com meu nêgo aqui nesse sofá, e ele sempre dizia que se ela quisesse também, ele estava disponível. Um dia ele pegou ela, mas eu não estava em casa.E acho que não foi uma vez só”."Foi numas dessas arruaças dos dois que ela bateu a cabeça na quina da cômoda e morreu..."
- Cida, eu não sei em que você se transformou...apenas sei que sua mãe jamais mereceu viver tudo isso. Com a morte de seu pai, ela fez das tripas coração para que você estudasse, tivesse uma formação, fosse uma mulher digna. Abriu mão de si mesma para que você tivesse oportunidades. E você usou tudo isso para se transformar num monstro !, censurou Dona Quitinha levantando-se e dirigindo-se à porta para ir embora, seguida pelos demais.
- Isso mesmo, pra rua vocês, vão embora. Isso aqui é casa de pobre e vocês não sabem o que é passar necessidade...vão embora, sumam daqui... – Cida tocou-os para fora de casa, inclusive indo para a cozinha e pegando uma vassoura.
Alcina retrocedeu, encarou a mulher.
- Conheço pessoas bem mais pobres que você e que nunca perderam a decência, a dignidade, a moral. Um dia nós brincamos juntas, tecemos muitos sonhos, fizemos planos...hoje sinto-me enojada, você se perdeu de maneira que não há mais como se achar...
- Sai daqui, vai dar conselhos pra outro, que sonho? que plano? tudo besteira ! Só porque você casou aí com um cara mais ou menos de vida, acha que tá por cima...espera pra ver...logo você estará como eu !
Todos acharam melhor não persistir na inútil conversa e diante de tudo o que ficaram sabendo entenderam melhor pegar novamente a estrada e chegar em casa. Isso era o que mais queriam.
No caminho refletiram sobre os tristes últimos dias de Dona Milta vendo a filha perdida e revoltada, os netos sendo comercializados, sendo violentada pelo genro, explorada e humilhada de todas as formas. Talvez por isso tenha retornado à paz de sua casa.
Chegaram muito tarde. Dona Milta não apareceu, não ocorreram ruídos, parecia que ela queria que descansassem depois da exaustiva viagem.
Passaram-se meses. Dona Quitinha surgiu no jornal esbaforida. Cida havia sido assassinada pelo amante. Alcina trouxera a notícia. Todos ficaram mudos. O silêncio estava impregnado de satisfação e tristeza. Relembraram a postura e as palavras da mulher. Melhor assim, menos vítimas nas mãos dela.
Pensaram uma maneira de localizar as crianças, agora bem crescidos, se ainda vivos, mas não conseguiram encontrar meios para isso. Por outro lado, Sarah noticiou seu esposo que não poderia ter filhos. À princípio revoltou-se muito, enquanto ela desejava imensamente ter filhos, Cida abortava e vendia seus próprios filhos.
Levantou-se deixando o marido roncando e foi até a cozinha. Sentou-se junto à mesa e passou a contemplar um copo d´água, refletindo em sua impossibilidade de ser mãe. Seu pensamento era corroído pelas imagens e palavras de Cida, e nesses pensamentos procurava pensar em como cada um foi concebido, criado e vendido, como estariam, o que teriam vivido ou estariam vivendo nas mãos dessas pessoas.
Viu, então, novamente Dona Milta diante de si. Ela aparentava estar feliz. Olhou bem nos olhos de Sarah, sorriu e apontou para o alto, levando o indicador em direção ao lustre. Sua expressão transmitia uma vibração muito boa, de maneira que a moça deixou-se dominar pelo sono, sendo despertada pelo marido apenas na manhã seguinte. “Você dormiu aí ? Só você mesmo !”, comentou o marido sarreando.
Com olheiras, Sarah expôs a visão que teve. Discutiram as possibilidades. É provável que ela tenha indicado que iria para o Céu. Que teria terminado sua tarefa ou missão e iria embora.
- ...ou há algo nesse forro !, disse Sarah, levantando-se e explorando o teto.
Apesar da incredulidade de Alex, Sarah insistiu que ele subisse lá e olhasse.
Alex desceu do forro repleto de teias de aranha, sujo de fuligens e carregando uma caixa. Na caixa havia muitas jóias, dinheiro e escrituras de terrenos. Os dois ficaram boquiabertos. Realmente Dona Milta vendo os abusos da filha cuidou de esconder suas posses, talvez por isso a revolta da Cida. Havia ali um valor considerável. Por alguma razão, Dona Milta depositava nas mãos deles tudo o que preservara na vida toda. Também por isso se manteve ali protegendo seus recursos para o momento que julgasse adequado revelá-los.
Certamente quando não estava na casa estava junto da filha e dos netos...
Foi inevitável se abraçarem e chorarem. Com os olhos turvados de lágrimas puderam vislumbrar pela última vez Dona Milta saindo pela porta da sala e entrando por um corredor de pura luz.

____________

Dona Quitinha abraçou carinhosamente Alex e Sarah na inauguração da Casa da Criança “Milta Nadine”, um lugar que iria acolher crianças carentes e desamparadas.

Hey, what's up?

Oi, tudo bem ?
E aí ?
Firmeza ?
Jóia ?
Prazer.
Todo meu !
Assalam-u-Alaikum !
Boas Tardes.

A gente se cumprimenta
A gente se olha
A gente se toca
Sente o toque

Cumprimenta num reprise
Isto é uma gravação
Não sente o que fala
Não pensa o que diz

A gente se olha
Olha e vê
O cabelo, a roupa, o calçado
Só não olha o coração
Só se for cardiologista

A gente se toca
Forte aperto de mão
Mal toca as mãos
Tem gente que tem medo de tocar
Se endurece ao abraçar

Sinta o toque
Abrace !

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O CORTE

Ai que arrepio !
Disse a menina olhando o fio
Da linha que costurava a carne
Uma ponta que invadiu as entranhas
Externando cores estranhas
Esguichando sangue a toda parte.

Ai que frio !
Tá gelando, vou desmaiar
Como isso aí foi entrar
Puta que pariu !

A menina se lamenta
Tem remédio, tem injeção
Nem adianta a cara de gibão
Na hora de fazer estrepolia
Não pensou em conseqüência
Sirva isso de lição !
Agora tome decência
Perde logo essa mania
E vai pra enfermaria.

QUERO TE TOCAR

toco o teu corpo com meus cílios
enquanto te como com meus olhos
arrastando-me em sonhos e desejos
no cerne oculto do pensamento
e num único e fugaz momento
te acaricio, te toco, te beijo, te mordo
você sorri alheio aos meus olhares
nem sonha com eles, não os sente
percorro alucinante cada breve extensão
que diante de mim se desenha
imagino seu gosto, busco teu cheiro
uma mísera distância a outro planeta nos transporta
estando você desatento recostado a porta
sem camisa, peito à mostra
breves e suaves pelos que buscam o conforto da bermuda
e eu trêmula e muda
agito-me perdida, pálida, absorta
a beira de um trágico desmaio
segue você, sereno e impávido,
sem se quer ver meu movimento
se entro ou saio
oscilando entre alegria e tormento
simplesmente querendo te tocar.

QUERO MAIS

Ah ! Por que não me vês?
Não percebes meus olhares
Meu tremor, minha emoção
Vendo seu corpo tão nobre
Explodindo de tesão ?

Rogo por apenas um olhar
Uma carícia e um desmaio
Um beijo e eu morreria
Algo mais seria combustão

Diante de ti é como reverência
Contrição, timidez, sinergia
Diante do mais belo altar
Poucas razões para pensar

Você também é flagelo
Me ardo, queimo, incendeio
Nas labaredas do inferno
Por não poder te tocar.

É bom não tocar
Um toque não bastaria
Dentro do meu sonhar
Muito mais eu queria.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

RO-459

- Alguém me ajude !, ecoou uma voz cansada e desalentada vindo de uma profunda vala paralela à rodovia.
O local deserto, cercado de floresta nativa e fina neblina, ocultava alguém mergulhado na escuridão. A voz periodicamente insistia já esgotada e sem esperanças de que fosse localizada. A movimentação de veículos era rara, horas separavam a passagem entre um veículo e outro.
Um caminhão de carga se aproxima. Dentro dele Zé Cotovia ouvia música altíssima, cantando e seguindo a pista sinuosa. Estava exausto. A viagem para Rondônia era longa e alguns trechos esburacados e solitários poderiam assustar os desavisados, mas ele conhecia cada palmo, há anos fazia aquele mesmo caminho e gostava de seguir sozinho. Desde pequeno aprendera a se virar. A mãe lavadeira, morena e boazuda, era cortejada amplamente pela vizinhança e não se fazia de rogada. Tinha oito irmãos. Era facilmente perceptível que de pais distintos. O pai, alcoólatra, vivia metido nas mais diversas confusões e provocava outras tantas em casa. Ele gostava de Edinei, que acreditava ser seu filho, lourinho, olhos verdes, pele branca e macia. Quando a mãe Zina não estava, ele acostumava arrastar o menino para outro quarto.
Esse estilo de vida fez com que Zé Cotovia buscasse desesperadamente a liberdade. Juntava-se aos moleques de sua idade e exploravam o submundo da cidade. Não bebia ou usava drogas, a experiência com o pai ensinara muita coisa. Mas aprendeu a malícia do mundo, os trambiques, a tirar vantagem em tudo e sair por cima. Dificilmente era passado para trás. Jogava cartas como ninguém, obviamente utilizando os mais incríveis métodos ilícitos. Aos treze anos conheceu Riselda, de 46. Negra bonita, de imensos seios e enorme quadril. Era dona de um boteco, logo na esquina, chamado Zamzi-Bar. Ele ia lá tomar refrigerante e olhar a mulher. A todo momento tinha uma desculpa para ir até lá. No final da tarde subia no muro para ver Riselda enquanto ela se banhava. Virou, virou até que teve sua primeira vez. Ela riu muito e disse que ele tinha muito que aprender.
Zé estava apertado. Freou o caminhão para aliviar-se.
O caminhão estacionando não foi alivio apenas para ele, a voz trêmula voltou a vibrar.
- Alguém me ajude !, já sem forças.
O caminhoneiro apressou-se em subir o zíper e aproximar-se no buraco. Não era possível ver o que quer que fosse. A escuridão era total. Correu até o caminhão para buscar a lanterna que mantinha sempre acessível. Projetou a luz buscando de onde provinha a voz. Decidiu escorregar pelo barranco, seguindo pelo fraco som da voz. Deparou-se com uma moça em penosa situação, entre as raízes e folhagens. Estava quase inconsciente. Tentou despertá-la, que ela respondesse, mas sem êxito. Agarrou-se como pode a ela e escalou a inclinação escorregadia com grande esforço. Estava distante de qualquer hospital ou possível socorro. Acomodou a moça da maneira mais confortável possível e seguiu a estrada, esquematizando inutilmente como poderia ajudá-la.
Após longo caminho, uma luz entre as árvores chamou-lhe a atenção. Tudo indicava ser uma casa e se havia luz, certamente encontraria pessoas. Desviou sua rota, adentrando uma estradinha de terra rodeada de capinzais. Não seria possível entrar com o caminhão mais próximo da casa. Havia uma cerca feita de mourões e um mata-burro bastante estreito. Desceu do caminhão ágil e aflito e ia dirigir-se a casa quando ouviu os latidos grossos dos cães, demonstrando que eram de grande porte. Retornou ao caminhão apressadamente. Buzinou várias vezes observando cinco grandes cachorros rodearem. Pensou em invadir com o caminhão derrubando tudo e chegar a casa.
Estava confuso olhando a moça inerte, quando alguém bateu no vidro. Um homem forte, muito peludo e longas barbas foi avistado. Ordenou que os cães se afastassem sendo prontamente obedecido. Era bem mais mal encarado que seus cachorros.
- Boa noite ! Encontrei uma moça caída na estrada e preciso de ajuda ! Não temos nenhum hospital aqui por perto !
- Quem é ela ?, questionou duvidando.
- Está inconsciente. Por favor, deixe-me entrar. Precisamos fazer alguma coisa. – insistiu.
- Deixe eu ver ela....
Zé Cotovia abriu a porta do caminhão para ele pudesse observá-la.
- Trás ela...determinou seguindo adiante.
A casa era modesta, com móveis rústicos. Aparentemente morava sozinho. A moça foi colocada na cama de solteiro, num quarto bem pequeno e desconfortável. Estava com profundos arranhões e perdera muito sangue. Estava pálida. O vestido bastante rasgado como se tivesse sido atacada por um animal e se embrenhado na mata, enroscando-se a cipós, galhos e espinheiros.
- Desculpe, sou José Alonso, mas todos me chamam de Zé Cotovia. Agradeço ter permitido que a gente entrasse, - falou estendendo a mão em um cumprimento, no qual não foi correspondido.
- Assim que ela acordar, leve ela daqui...disse virando de costas e sentando-se próximo a janela olhando a noite.
Acendeu um cigarro e permaneceu alheio ao que ocorria.
Indignado Zé Cotovia voltou a estapear levemente a moça e limpar os seus ferimentos. Após horas entre gemidos abriu os olhos. O caminhoneiro cochilava recostado a cadeira próxima a cama. Ela tocou-lhe a mão.
- Salve- se...resmungou.
O moço acordou num salto.
- Que bom que você acordou ! O que aconteceu ?, metralhou ele.
A moça o olhava estupefata como se pudesse vislumbrar horrores através dele.
- O fogo que arde...que consome... vocejou.
- Quem é você ? Qual o seu nome ?
O silêncio foi a cruel resposta.
- Leve-a daqui !, ordenou o homem grosseiramente.
- Por favor, deixe ela melhorar um pouco. Está se recuperando...suplicou.
- Leve-a daqui ! berrou olhando o caminhoneiro nos olhos.
- Ela não vai sair daqui até que melhore!, levantou-se e olhou entre as sobrancelhas do antipático dono da casa.
- Vocês vão sair agora !, disse empurrando e pegando um facão.
- Me explique por que não podemos ficar mais um pouco! Ela precisa de cuidados!, tentando o diálogo.
Alheio a qualquer tipo de conversa, avançou com um facão, buscando violentamente feri-lo. O facão foi atirado para junto da porta. Assustado, Zé Cotovia afastou-se enquanto a moça com uma força sobre-humana segurava e torcia o braço do homem com a facilidade com que se manipula um aspargo cozido. Empurrou-o de tal forma que chocou-se contra a parede derrubando um grande quadro ali fixado. Estava morto !
- Quem é você ?!, insistiu Zé Cotovia, entre curioso e temeroso, diante do poder demonstrado por uma moça tão franzina. O homem era um touro.
Mas a moça voltou ao seu torpor. Pensou em ir embora, mas os cães rosnavam ao redor da casa.
De súbito ela agarrou-lhe pelo queixo e de olhos esbugalhados revelou algo íntimo, amargado apenas nas remotas lembranças de sua mente.
- Você sempre deixou Edinei ser levado...nunca impediu ! Sabe onde ele está agora ?
E segurando-lhe a testa com uma pressão indescritível, Zé Cotovia foi transportado para as penumbras de uma larga avenida pouco movimentada. A um canto uma loira, fumava, com trajes brilhantes e de mau gosto. Não demorou para um carro estacionar a seu lado.
O coração acelerou quando avaliou as expressões da moça. Era seu irmão. Há muitos anos não o via, perdera o contato, cada um seguiu sua vida, mas ele nunca havia percebido qualquer alteração no comportamento do irmão. Sempre se acusara de nunca ter feito nada para evitar que tudo acontecesse. Agora encontrava o irmão prostituindo-se para sobreviver...O coração se partia em mil pedaços. Viu Edinei postar-se de quatro e seu amante fugaz enrolar-lhe um cordão no pescoço levando-o a terrível asfixia. Sentiu um estrondo percebendo o irmão tombar sem vida.
Despertou inundado de lágrimas, enquanto a moça o fixava impassível. Como que com efeito de uma droga voltou a mergulhar nas visões. Pôde ver seu pai agarrado ao pescoço de Riselda, ameaçando denunciá-la por ter feito bobagens com seu filho. Queria dinheiro e essa era oportunidade para estorquí-la.
Acompanhou a mulher entregando aos poucos suas míseras economias, cada vez mais ameaçada, chantageada. Sentia a tristeza e o arrependimento dela, relembrando aqueles momentos tão sem importância, onde tudo se traduzia em risadas e brincadeiras, até de certa forma ingênua. Um copo com raticida eliminou as instabilidades e pôs fim ao tormento de Riselda. O corpo estendido sobre o tapete velho da sala, os gatos passeando alheios pela casa, apodrecendo aos poucos, sozinha, como sempre fora.
Um ruído como um assobio intensificava-se dentro da cabeça, quase enlouquecedor. Zé Cotovia gritava para que parasse, que não tinha culpa de nada, que não queria ferir ninguém. Começou a chorar copiosamente, estirado no chão empoeirado da casa. Os cães ladravam junto à porta, arranhando-a, querendo adentrar e talvez dilacerá-lo. Tudo parecia de enormes proporções. O som do grilo emitia ecos insuportáveis. Os arranhões na porta pareciam rasgá-lo.
Cenas se sucediam evidenciando todos os momentos em que trapaceara, enganara, desde um simples jogo de cartas ou a não devolução de um troco a mais até ações mais graves e imprudentes.
A imagem de Natália, uma menina que conhecera no bar da Lola, se desfigurava em múltiplas cores. A barriga da menina expandia e dentro dela seu filho se agitava. Pobre e desanimada, tratou de dar um fim à menina assim que nasceu, envolvendo-a em um saco de lixo preto e depositando na lixeira na entrada do bairro. Depois saltou da ponte desaparecendo nas caudalosas águas do rio.
O choque foi violento. Sentiu-se um monstro, imundo, inútil. Mas não sabia que Natália estava grávida ! Se soubesse teria se casado com ela, cuidado da criança? Provavelmente não, a teria abandonado da mesma forma. Seu caráter leviano e independente o teria levado a viver outras aventuras. Teria tido outros filhos ? Seria só aquela menina ? Morta, enrolada em plástico e entregue ao lixão municipal? Comida por urubus ou simplesmente decomposta?
Abriu os olhos e viu-se diante dos olhos profundos da moça, que lhe acariciava a face e ternamente o fitava. Aproximando-se beijou-o longamente, com estranho calor e sedução. Suas mãos macias percorreram o corpo trêmulo de Zé Cotovia. As carícias, beijos se intensificaram gradativamente até que dominados pelo desejo entregaram-se ao chamado de seus corpos.
Cansado e com uma sensação de êxtase que nunca antes experimentara, sentou-se na cadeira enquanto contemplava o corpo belo e inocente, delicado e flagelado da moça. Por um momento arrependeu-se avaliando os cortes e arranhões, ao mesmo tempo em que a estranha sensação de alegria e prazer se confundiam em seu interior.
Entregue às suas reflexões viu a porta do casebre tombar arrombada, levantando-se e recostando-se a parede. Dois seres translúcidos, onde podia-se deduzir seus órgãos internos, muito altos, olhos pequenos e penetrantes, donos de uma força descomunal, adentraram a casa e seguraram a moça pelo braço. Colocaram a mão sobre sua cabeça levando-a a viagens ao passado.
- Sou sua filha !, revelou a moça aconchegando-se bem próximo quase unindo os dois narizes.
O homem ficou atordoado, impactado com a notícia e tudo que acontecera. Sem que houvesse tempo para qualquer avaliação, agitada e em prantos a moça narrou que naquela madrugada em que sua mãe a deixara na lixeira uma luz iridescente incidiu sobre o lugar e como nos filmes foi erguida no ar, sendo sugada para dentro de um estranho veículo. Ali fora criada. Com aqueles seres fora educada. Em uma das sondagens e coletas que eles costumeiramente faziam, fugiu e sendo perseguida caiu na vala onde fora encontrada.
Zé teve tempo de arrastar-se para junto da porta e correr para a floresta.
Os cães estavam dilacerados e espalhados ao longo do caminho.
Atravessou a escuridão esbarrando em plantas urticantes, cipós espinhosos, atolando-se no barro e rolando em descidas íngremes. Foram horas tateando a escuridão e buscando uma saída. Escorregou do alto do morro, rolando para baixo e enroscando-se desfalecido nas raízes de uma árvore.
- Alguém me ajude !, clamou com a voz cansada e desalentada da profunda vala paralela à rodovia.
O local deserto, cercado de floresta nativa e fina neblina, o ocultava mergulhado na escuridão. Zé Cotovia periodicamente insistia já esgotado e sem esperanças de que fosse localizado. A movimentação de veículos era rara, horas separavam a passagem entre um veículo e outro.

COITADINHA DE MIM

Dolores tinha um longo repertório
Uma vida sofrida, uma lamentação escondida
Uma dor para externar
Relatava dias de desespero, de trabalho incessante
Uma sucessão de dias estressantes
Sem um oásis para repousar
Não tinha competidores
Em qualquer conversa que surgia
Era a que mais se comprometia
Em tudo se fazia pioneira
O pai que morreu tão cedo
Os empregados que lhe davam desassossego
Os dias extasiantes que lhe consumiam
Em voz chorosa e suplicante
Sabia tocar os corações dos ouvintes
Gerar piedade com suas aflições
Conquistando espaços, apoios, benefícios
Mesmo lá no colégio
Amealhava privilégios
Se um conhecia alguém que morreu
Ela narrava cinco que foram pro além
Se a notícia era que nasceu
A descrição de um natimorto logo emergia
Se para você era noite, para ela era dia
Se para você estava calor, para ela chovia
Tinha excelentes idéias
Que nunca se realizavam
Elencando inumeráveis motivos
Que as danificavam
Enquanto reclamava
O farto dinheiro guardava
E com suas dores o povo sofria
Dolores descansava e sorria
De sua estratégia de viver.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A SANTINHA

queria ver Sophia
faltando um dente enquanto sorria
jogando os cabelos pra trás ao olhar pela janela
escorregar no cobertor com seu pijaminha de flanela
brincar com o cachorrinho
admirar-se com os pequenos no ninho
soprar com intensidade a colher de sopa
temendo queimar sua boca
o andar atropelado
querendo fazer tudo ao mesmo tempo
com cabelos despenteados
olhar distante e profundo
explorando minúcias num só segundo

o relógio parou fumegante
cristalizou-se impassível naquela rua
Sophia encontrou uma perua
a dez metros foi lançada
era o epílogo da alegria e da esperança
permaneceria eternamente criança

em seu mausoléu abundam flores e perfumes
placas de gratidão e entusiasmo
Sophia continua atenta e ágil
ouvindo e abraçando a viúva recente
o filho do pai ausente
o menino que quer nota
a noiva carente
a outra que ninguém gosta

alegrias são simplesmente distribuídas
para essa gente tão sofrida
a espera de algo mais
com aroma puro de uma rosa branca
Sophia não se acomoda
surge em sonhos, vultos, na mão amiga
revela a crença em outra vida
e transforma os que aqui estão.

AMOR NA CARTEIRA

Ah, quanta beleza ficou pra trás
em que momento a inocência daqueles sonhos foi perdida ?
quando te olhava tinha delírios e encantos
teu beijo era um tesouro encontrado
eterno, puro, apaixonado
entrecortado por minha lucidez comprometida.

Cada dia era construído pelos nossos planos
Pontes eram erguidas e solidificavam uma só emoção
Viagens, aventuras, pensamentos insanos
Regavam e fertilizavam o solo de nosso coração

Seu sorriso era o motor da minha felicidade
Seus sonhos algo que me cabia realizar
Seus prazeres eu me esmerava em proporcionar
Com tesão, alegria e voracidade

Era muito louco
Percorrer seu corpo
Compartilhar espasmos
Dividir orgasmos
Com tão pouco

Tatear as entranhas do desejo
Um desejo meu, no corpo teu
Hoje sei que é só besteira
Você só queria minha carteira !

BUNGA-BUNGA

Os noticiários ribombam com a informação de que Ruby transou com Cristiano Ronaldo quando era menor de idade. Acho interessante a reação da pessoas. Um caso escabroso, afinal transou com uma menor de idade. Pedofilia é crime e não me assustaria se uma passeata já não fosse deflagrada com faixas e camisetas em defesa da pobre garota. É possível também sentir o rubor e indignação de quem lê estas linhas. Serão à favor da pedofilia ? E conversas, discussões, protestos se intensificam, afinal é preciso preservar a moral e os bons costumes.
A questão que levanto é sobre a hipocrisia e as oportunidades. Quanto sabemos de garotas e garotos menores de idade (menor de idade é menor de dezoito anos, certo?) com vida sexual muito mais ativa que muitos casais. Também sabemos das insinuações e cobranças, intimações declaradas que muitas garotas fazem aos rapazes para o sexo. Muitas vezes não apenas para rapazes. Não, estou dando uma de Adão e culpando a Eva. Não estamos discutindo santidade, ingenuidade, pureza de qualquer um dos sexos. Mas não vamos negar que isso acontece com uma freqüência e naturalidade incrível.
Vamos negar os ritmos musicais, novelas, comerciais de TV, outdoors com apelos claramente erotizados e encontrar a aluna e o aluno com trajes, movimentos e experiências alarmantes, precocemente sensuais e provocativos. Mentira? Exagero? Ou uma realidade que se torna cada vez mais constante.
Apenas proponho um passeio na declaração de alguns famosos sobre sua primeira vez. Geisy Arruda disse que perdeu a virgindade quando tinha 13 anos com um rapper, Angelina Jolie aos 14 anos, Paris Hilton aos 15, Daniel Radicliffe aos 16 aninhos, Johnny Deep declarou que foi aos treze. A lista pode ser bastante estimulante e os relatos dos mais diversos.
O “di menor” tem rendido muitos sucessos, seja em assaltos, furtos ou exploração sexual, onde são apenas vítimas de uma sociedade deteriorada. Ou pelo menos assim justificam quando flagrados.
Enquanto outros, já famosos, sentam-se no pedestal da fama com as mais insinuantes revelações.
Isso se pararmos para refletir sobre a atividade sexual entre garotas e rapazes. Conheço pais que negariam isso veementemente, mas invariavelmente acabam por ter surpresas avassaladoras. Sexo somente após o casamento e circunscrito à procriação é ação de bem poucos (certamente filosofia de muitos). Mas retomando a questão, se nos focarmos apenas na atividade sexual entre adolescentes ou pré-adolescentes em uma relação heterossexual, já termos amplamente o que discutir e analisar. A aluna que insiste para ter algo mais com o professor ou o aluno que deseja a professora parece existir com uma freqüência não muito baixa. Talvez não seja conduta esperada pela sociedade o oposto disso, ou seja a professora que se insinua ao aluno ou o professor à aluna, se pensarmos no ambiente escolar para facilitar nossa reflexão.
O sexo e o dinheiro sempre andaram de mãos dadas, seduzindo homens e mulheres ao longo da história, movimentando interesses, não importando as orientações sexuais. As coisas se tornam mais complexas quando se adentra o mundo homossexual, uma vez que vem imbuído de preconceitos. Um homem pagar uma mulher para sair é normal, um homem pagar outro para sair parece vir saturado de zombarias, embora a prática nos acompanhe desde os primórdios da humanidade.
Sendo bastante comum a questão financeira aliada ao sexo, verifica-se jovens declaradamente heterossexuais em relações sexuais com pessoas do mesmo sexo, garantindo-se o devido sigilo. O fundamental é que ninguém saiba. Por outro lado, há os adolescentes predominantemente homossexuais. Vale avaliar o curta metragem “Professor Godoy”, vencedor de quatro coelhos de prata no 17º Festival Mix Brasil.
Mas o que estamos querendo explicitar é que, em geral, trata-se o pré-adolescente ou adolescente como um ser assexuado ou distante de uma vida sexual. Entendo pedofilia quando envolve casos abomináveis de adultos com crianças ou quando através da coação,força ou violência tais atos foram cometidos sem medir as conseqüências físicas, emocionais e psicológicas oriundas da ação animalesca. Creio que não podemos generalizar.
Alguns casos de maiores ou menores que se entregam ao sexo pelo dinheiro está definido pela faixa de pobreza e falta de perspectivas profissionais ou educacionais. Não relacionamos aqui aqueles pessoas que se profissionalizaram na prostituição, mas aqueles que por algum dinheiro aceitam praticar sexo.
Não estou aqui para defender o Cristiano Ronaldo, nem incriminar a Ruby Rouba-Corações (assim é chamada). O jogador nega. Ela afirma. O que proponho para reflexão são os valores envolvidos e não me refiro apenas aos valores financeiros. Falo em valores morais. Falo no olhar assustado e indignado das pessoas. Ele teria transado com uma menina ? Indefesa? Coitada ! E vale pesquisar o real sentido deste vocábulo...
Em outro momento propus refletirmos sobre as origens da violência diária. Em que momento começamos a cultivar a violência. Agora sugiro pensarmos em que momento a hipocrisia começou a ser alimentada e de um dócil Shitzu se tornou o agressivo Rottweiler. Teria sido naquele momento em que gritei com meu filho para que ele nunca mais mentisse e depois pedi que ele informasse à pessoa no telefone que eu não me encontrava em casa? Será no momento em que me apresento no jantar social com minha esposa de mãos dadas e sou visto entrando na casa de minha amante logo depois? Será no meu discurso de lisura e transparência condenando isso ou aquilo e entregando-me ocultamente a ele?
Certamente poderíamos resolver muito mais problemas e evitar outros tantos se tanta coisa não ficasse sob o tapete e eu fingisse que não percebo o volume de entulhos aumentando progressivamente. Por que se nega o óbvio? Por que nega-se enxergar as coisas como elas são ? Em nome de que ou quem? Se for da moral e dos tais bons costumes realmente estamos vivendo uma outra Idade Média, onde devemos negar as verdades para preservar outros poderes.
Jornais, revistas e sites se esmeram em projetar tais assuntos, são polêmicos, geram curiosidade e discussões, como esta. Dependem disso. Fomentam, contudo, tais notícias e aí a Ruby, assim como tantas outras garotas e garotos, têm espaço garantido na mídia. Estruturam meios de amealhar recursos financeiros com a indignação e oculta satisfação pública (as fantasias afloram), surgem livros picantes, filmes e ensaios sensuais e entra para a almejada alta sociedade e televisão com o brilho de um cristal swarovski.
A boca entreaberta de constrangimento e desaprovação transmuta-se em audaciosa curiosidade sobre como e o que aconteceu. Vários livros são apenas para revelar quem foram os amantes da pessoa e melhor se temperado com algo mais violento ou bestial. Chegamos ao delírio. Da vaia à admiração e adoração coletiva há um pequeno passo. Se Ruby souber contar sua estória ficará milionária. E ela tem muita estória pra contar.
Que valores reais cultivamos em nossa sociedade? Quando toquei nesse assunto com uma pessoa a contrapartida foi “mas ela é super gostosa!“. Talvez seja essa a resposta...”e ele também”, complementou uma amiga.
O que falar de Berlusconi ?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

SEMEADORES DE VIOLÊNCIA

“Ave Caesar morituri te salutant”

Assistindo filmes épicos, lendo a bíblia ou refletindo sobre a História da Humanidade, podemos muitas vezes acreditar estarmos distantes da barbárie. Talvez não tenhamos as campanhas militares dos Césares romanos, ou talvez as tenhamos com inúmeras e distintas facetas, adentrando territórios alheios, cerceando caminhos, limitando liberdades. A memória não precisa cavalgar tão distante e pairar nas Malvinas, em Gaza ou Afeganistão, Sudão, Somália ou Sri Lanka. Outras armas, outros trajes, outras razões interagem com visigodos, cruzadas, vikings e vândalos.
Algumas pessoas se assentam e se acomodam no trono da suposta civilização em que vivemos. Pesquisas apontam, de maneira muito relativa, que cerca de dez mulheres são assassinadas por dia, que um jovem negro sofre 2,6 maior risco de ser morto, que a cada dois dias um homossexual morre pelo preconceito e violência. Claro, poderíamos discorrer páginas e páginas de índices significativos de crianças violentadas, de nordestinos e judeus brutalmente assassinados, de idosos vilipendiados. Apenas índices, pois os números transcorrem mais elevados. Há o medo, a ameaça, o torpor, a vergonha, o descaso.
Evidentemente, nosso mundo moderno que tanto esbanja palavras como ética, perdão, religiosidade, cidadania, onde Deus é figura tão respeitada, onde a solidariedade e a fraternidade são anunciadas com tanta ênfase, inclusive em canais de televisão, vemos uma humanidade pobre e degradada. Não é difícil ouvir, com tranqüilidade e quase surdez, que uma bomba explodiu e matou trinta pessoas, que 21 pessoas morreram em confronto com a polícia, que a fome mata uma criança a cada cinco segundos. AIDS mata, malária mata, cólera mata, câncer mata. Quem mata mais ? e por que mata mais ? O cianureto mata, a picada da víbora, o hipopótamo, o álcool, o tabagismo, o homem. O homem mata. Qual dos animais se esmera tanto em matar os da própria raça ? Outro dia assisti a um documentário um bando de chimpanzés matando outros para ampliar território. Há outros ?
O homem, o tal Homo Sapiens, que muitos afirmam ser capaz de pensar (talvez o único capaz disso) e raciocinar (vejam que coisa extraordinária o tal ser humano consegue fazer !) é o responsável por grande parte das misérias, mortes e violência que torna o mundo local de desastroso sofrimento para milhões de pessoas. Isso graças ao dom do raciocínio. O homem aprendeu que o fazer sofrer dispensa as engenhosas máquinas já utilizadas ao longo da História, existe o desprezo, a humilhação, o bullyng, até mesmo a cirurgia espiritual onde através de recortes planejados da palavra divina estimula-se o sectarismo, o fanatismo, a exclusão velada dessa ou daquela pessoa, desse ou daquele grupo. Hoje chega a internet e com muitas faces, se transforma, ofende, agride, destrói sem encostar a mão, a não ser nos teclados.
É provável que você já tenha se deparado com aquele homem, indesejável e inútil, revirando seu lixo em busca de comida. Talvez tenha rido muito das infames piadas de português, loira, bichas e negros, e não é proibido rir de piadas. Mas é importante refletir que cada um de nós fica cada vez com menos espaço: o gordo é obeso e se distancia imensamente dos padrões definidos de beleza, o magro é soro positivo, a loura é burra, o solteiro é veado, o casado é corno. Que tal estender a lista interminável de adjetivos? E o que tem isso com o início desse nosso bate-papo ? Pergunto em que momento a semente da violência é plantada. Plantada no coração de cada um. A diferença é que ela brota em todos os solos, férteis ou não, sobre a rocha e sobre areia. Em cada ambiente emerge de uma forma. Velada ou declarada, dissimulada ou explícita. O homem aprendeu a disfarçá-la e utilizá-la das formas mais sutis. A palavra planejada e venenosa no ventre de uma conversa, a articulação ardilosa a portas fechadas, o bilhete, a fofoca, o olhar, o riso irônico.
De quantas maneiras podemos ferir alguém? Matar e morrer possivelmente não assusta mais. Vemos a todo momento notícias de morte. Ouvimos passivamente e sem estranheza. Mata-se e morre-se. Vemos filmes, desenhos animados, lemos jornais e revistas, ouvimos músicas...o sangue escorre.
A criança de colo estapeia o avô sob o olhar, aplausos e sorrisos de toda família. O garoto chuta e esmurra o gato, o cachorro, quebra o copo, o vaso, empurra o prato, espalha comida sob a condescendência dos pais. O filho mente, engana, distorce com o apoio inflexível de seus responsáveis. Volto a perguntar: em que momento planta-se a semente da violência e qual a árvore que irá crescer ? que frutos dará ? Uma carteira é quebrada na escola, uma carteira é roubada na esquina. Sequestro relâmpago, exploração sexual, desvio de dinheiro, dinheiro na cueca, na meia, nas Ilhas Cayman?
Esperto, forte, machão, temido – títulos almejados por tantos. A educação dos filhos, pelos pais, é fundamental para que valores de respeito, de compreensão, de tolerância sejam plantados, adubados e cuidados para que se desenvolvam com muito mais vigor que as ervas daninhas que inevitavelmente irão brotar. Fazendo parte do homem, compondo mensagens genéticas históricas, a violência tende a se manifestar, mas acredito que pode ser amenizada. Assusto-me com tantas pessoas proclamando as tais palavras de Jesus, de amor e solicitude, estampados em camisetas, carros e discursos inflamados, outros tantos em nome Allah, Jeovah, e tantos outros nomes referentes ao misericordioso e bondoso criador de todas as coisas, matarem impiedosamente sob as bênçãos divinas. Exclusivistas e cruéis.
Que porta nos separa dos antigos deuses, definidos como sanguinários e pagãos? Qual a distância entre o homem de hoje, instruído, culto e civilizado e o massacre da noite de São Bartolomeu? Vivemos um momento onde nunca se ouviu e se leu tanto sobre leis que defendem direitos quanto agora. Até que ponto uma lei irá determinar a paz nos corações, a paz em casa, a paz no quarteirão, na cidade, no país e no mundo? Até que ponto precisamos que as leis sinalizem o que nós, seres humanos, devemos fazer e esse fazer está simplesmente ao nosso lado, tangível, acessível, próximo. Bastando apenas valorizar as diferenças. Se todos os dedos de nossa mão fossem iguais, é bem possível que não tivéssemos muitas habilidades que desfrutamos.

QUERO UM NAMORADO

“a gente vive e não cansa
numa eterna solidão
de esperança em esperança
de ilusão em ilusão”
(Popular)

Sorri tristemente internado em minhas entranhas
das fantasias da moça em busca de um namorado
tenta hoje, tenta amanhã inutilmente
olha, canta, paquera, fica
quase que estaciona, agarra, promete, jura
e anda de lá pra cá feito tanajura
na busca de arrebanhar alguém
caça, enlaça, sonha, chora, desespera
corre no altar e acende vela
pra Santo Antonio ajudar
mas ele parece surdo, ignora, olvida
nem pensa em colaborar
arrisca o moço, o velho, o de meia idade
e sem qualquer piedade
como ave de rapina
de olho nos pintos que passam
vê o mais frágil, isolado, dependente
quem sabe um cara bem carente
possa ser mais frutífero investir
talvez nasçam flores perfumadas
gloxínias, flox, acácias, azaleas
brancas, amarelas, vermelhas, rosadas
busca pura de um romance
do príncipe cavaleiro em majestosa cavalgada
e ela, reclusa e decepcionada
na poltrona do quarto se contorce
mais um dia que se passa
como fumaça as horas fogem
mais um dia vazia e solitária
um beijo, um abraço, até uma noite no motel
foi apenas saboroso farnel
passando de braços e abraços
com o coração em farrapos
desses devaneios diários
esmaga, chuta e amarga
a vida de todos seus funcionários.

O ENCOSTO

Aninha escorregou na esquina
o dedão arroxeou e ficou gordo
o cachorro atropelado agora jaz morto
o marido chega atribulado
do trabalho acabou sendo dispensado
a filha engravidou
Eu mato aquele tarado !
É encosto, Aninha !
Toma banho de sal grosso !
Com arruda e com guiné !
Faz promessa !
Vai pra reza !
Puxa o terço, Aninha !
Reza o Salmo !
Dá o dízimo !
Isso é reencarnação, é carma, é débito de outra vida !
Olha a vizinha, Aninha !
O pai faleceu,
O gato desapareceu,
O filho tá drogado,
E o marido dela, coitado !
Você não sabe o que aconteceu ?
Foi atropelado na Casemiro de Abreu.
É a vida, cara Aninha !
Sorria, amanhã tudo passou.
O dedo desinchou
Adota um cachorrinho
Curte o nascimento do menininho
E não deixa o marido se encostar.
Isso tudo vai passar !

FESTIM DE BACO

sorveu o cálice dourado e frio
em vinho de uva rosada
pele macia do fogo em labaredas
lareira acesa em noites de cio
olha a taça apaixonada
em turbilhões de álcool e sonhos
lágrimas contidas peneiram emoções
arquivadas em outras estações
o sorriso leve e tão tristonho
imerso no cálido inverno do coração

foi-se ele como o raio de sol
diluído no róseo crepúsculo
arrebatando expectativas cruas
de um desejo insólito e imbecil
fito em minha memória
os poucos lampejos de história
que a vida delineou
vai-te enquanto bebo
e no torpor de Baco
me entrego e realizo.

PERNILONGO

não vi o pernilongo
ele repousava no encosto da cadeira
fui eu quem o despertou
alheio e esperto pelo quarto voou
pousou na cômoda, na cortina, no abajour
atraiu-se pelo quente odor do meu sangue
oscilou de um canto a outro
parou pensativo num instante
ajeitou o ferrão e me picou
ferrão ou pênis
pênis ou perna
o que é perni em latim ?
enquanto reflito ele suga
se enche, se estufa
mal pode subir
um tapa e o estouro
esse não chupa mais.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

TOQUES

toques
dedos ágeis de veludo
que sabem onde pousar
toques
não me toques
tenho arrepio
tenho cócegas
tenho vergonha
fico sem jeito
com seu jeito de tocar
toca meu lábio
com um beijo repentino
para que eu
com jeito de menino
nem sinta tocar
toques
não me toques
toque
aí não

O CIPRESTE

O movimento das pás, rastelos e escavadeiras era grande. De acordo com o projeto aquele lugar se tornaria uma grande praça ladeando a Prefeitura. As velhas árvores seriam preservadas, mas era preciso remodelar o ambiente para dispor os canteiros, bancos e caminhos ornamentados com basalto e arenito. Nos jardins seriam plantadas aningas e lírios, pau-rei, coqueiros, ipês roxos e sibipirunas. As pás ao adentrarem a terra traziam consigo, muitas vezes, ossos, cabelos e crânios dos antigos moradores da cidade. Aquele local, hoje centro da cidade, havia sido um cemitério. Os ossos eram coletados e despachados para o ossuário agora no Jardim das Hortênsias em bairro afastado.
Alguns diziam que o lugar era assombrado e muitos contavam ter visto luzes emergindo da terra e bolas esverdeadas que circulavam entre as palmeiras imperiais. Também falava-se de um senhor de elevada idade caminhando por ali e afugentando as pessoas do local. Os mais velhos evitavam passar por ali e viam nas escavações uma profanação. “Estavam mexendo com os mortos e isso não era bom”.
Visando atender ao projeto se fazia necessária a derrubada de um secular cipreste mexicano. A árvore era respeitadíssima, quase que venerada pela população. Movimentos começaram a acontecer: faixas, protestos, artigos em jornais, debates nas rádios locais. Apesar das reivindicações a árvore veio abaixo. Sua queda, porém, ocasionou terrível acidente. A árvore caiu sobre três trabalhadores, o que despertou ainda mais a fúria da população. A Prefeitura foi apedrejada, um carro acabou sendo incendiado, lojas foram saqueadas. A cidade viveu momentos de caos, sendo as atividades de construção da praça temporariamente suspensas.
Uma semana após, ao arrancá-la do solo, outra surpresa, as raízes trouxeram consigo um ataúde belamente decorado. Dentro dele repousava um esqueleto provavelmente de uma mulher.
Os detalhes ornamentais da urna funerária e a misteriosa mulher despertaram inúmeros interesses. Quem teria sido ? Como se chamava ? O que significavam todas aquelas curiosas inscrições talhadas na madeira e que atravessara tanto tempo, além talvez dos primórdios da cidade. Alguns especulavam que o cipreste deveria ter sido plantado sobre o caixão quando fora enterrada.
Um grupo de historiadores se reuniu para um estudo mais aprofundado. O caixão foi transportado para uma sala vazia em uma das alas do museu, afim de se garantir um estudo mais detalhado e preservar o achado histórico. Silas era o mais empolgado, recém formado, cheio de energia e planos via no ataúde uma oportunidade de deslanchar sua carreira como pesquisador.
Agora as conversas nas esquinas, os programas de rádio e os jornais tinham como assunto a mulher do cipreste.
Recém chegada na cidade, morando na pensão da Dona Carmelita, Isadora era uma senhora de meia idade, cabelos negros, sempre vista em trajes sociais, discreta e culta. Ao ler nos jornais sobre a descoberta e as entrevistas de Silas, interessou-se e pelo assunto e decidiu procurá-lo. No final da tarde abriu o portão de ferro do museu, solicitando ao vigilante que a conduzisse ao historiador. Dada a aparência da senhora, não se fez de rogado conduzindo-a instantaneamente.
- Sou Isadora, tenho lido sobre o ataúde e seu trabalho. Acredito que poderei colaborar. Estou me colocando à disposição.
Silas exteriorizou um aberto sorriso de felicidade. Apesar de toda agitação na cidade, poucos se interessaram efetivamente em um estudo mais aprofundado. Entusiasmado conduziu-a até o esquife. Era de madeira de lei, talhado com figuras e inscrições enigmáticas, embora desgastado pelo tempo alguns desenhos pareciam ter sido dourados, outros azuis e pretos. Abrindo a tampa podia-se contemplar a mulher que repousava com longos cabelos, um vestido já bem esfarelado e os pés descalsos.
- E veja, revelou ele animado, ela usava jóias. Encontrei estes anéis, este colar e estas pulseiras. Parecem ser de prata, mas vou precisar da ajuda de um ourives...
Isadora aproximou-se da caixa contendo as relíquias da senhora. Olhou cada anel, traziam também símbolos curiosos. Manteve-se em silêncio tumular fitando e copiando os desenhos.
Houve um grande identificação entre eles. Combinaram encontrar-se todos os dias ao final da tarde para discutirem o assunto.
As figuras no caixão assemelhavam-se a serpentes, labaredas, luas e folhas, incluindo as inscrições enigmáticas. Nos anéis via-se besouros e rostos estilizados adornados por pedras semipreciosas.
Desde o ataque à Prefeitura muitos homens começaram a ser encontrados mortos, esfolados, o que foi atribuído a grande onda de violência que tomou conta da cidade. O primeiro corpo foi encontrado perto do rio. Era jovem talvez com uns dezoito anos. Estava nu estendido junto à margem e irreconhecível. Sofrera um ataque de picadas de abelhas. Os ferrões atingiram especialmente a área genital. Provavelmente estava nadando quando foi surpreendido pelo enxame que o dilacerou.
Cerca de meio dia depois um homem teve a pele arrancada. Havia sido amarrado a uma castanheira-do-pará e esfolado. Possivelmente havia sido arrastado até lá, onde teria ocorrido o crime. Demonstrava também pouca idade.
Passado não muito tempo a polícia foi novamente acionada. Outro jovem havia sido encontrado. Havia sinais claros de tortura com espetos de bambu enfincados por debaixo das unhas e na uretra, arranhões por todo o corpo como garras afiadas.
O office-boy do hotel da cidade foi identificado como outra vítima. Havia sido empalado. O poste com o corpo havia sido fixado na calada da noite onde a árvore fora arrancada.
A cidade estava aterrorizada. Já era possível catalogar onze pessoas. Todos já demonstravam ter medo de sair de casa, em especial os rapazes, pois aparentava serem eles o foco dos assassinatos.
Ao meio-dia seis mulheres com quase um século de idade sentaram-se na modesta sala de Dona Casemira. Haviam conversado e precisavam fazer alguma coisa. Eram as mais antigas da cidade. Dona Casemira já completara cento e dois anos.
- Nós sabemos o que está acontecendo, resmungou Dona Casemira, enquanto distribuía xícaras de chá de melissa. Precisamos romper nosso silêncio, nossa cidade e nossos meninos estão ameaçados.
- Você acha mesmo possível que seja ela ?, questionou um tanto incrédula, Dona Guilhermina, apoiando-se na bengala para roubar um pedaço de bolo de milho disposto sobre a mesa central.
- Estive pensando nas muitas histórias de minha avó Isaura, comentou Dona Deolinda, sobre aquela mulher. Será mesmo que ela foi despertada e está matando nossas crianças ? Um dos mortos era neto da Natalina...um bom menino.
- Minha finada mãe sempre falava dela com total desprezo, uma mulher capaz de qualquer atrocidade. Temo que ela tenha retornado da terra dos mortos e está aqui conosco. E se for ela, como poderemos nós, pobre velhas, impedi-la?, disse Dona Edwiges, arrumando o lenço na cabeça e beijando o crucifixo que trazia espetado próximo ao coração.
As outras mulheres pareciam rezar, balbuciando palavras incompreensíveis, recostadas na poltrona e com olhar perdido na memória do tempo.
- Sim, amigas, estamos falando de Lubaya. A poderosa Lubaya, senhora que dominou nossa cidade e toda região a sua volta até os confins, ninguém sabe até onde reinou. Ela está conosco, repetindo os mesmos desvarios de outrora.
Lubaya havia sido uma escrava africana comprada por Otacílio Fernão Pinto, Barão de Muribara, destemido Senhor de Engenho, trazendo-a para mucama em sua fazenda. Ela foi batizada com o nome de Maria do Carmo e aos poucos evidenciou-se na família. Otacílio se via cada dia mais apaixonado e, com a morte da esposa, não tardou em substituí-la. Logo a poderosa negra ordenava a todos, castigando impiedosamente os próprios escravos, com requintes sádicos. Não demorou a ser temida por toda a região. Conta-se que as pessoas se curvavam com sua passagem, inclusive os brancos.
As estórias circulavam a boca miúda narrando os abusos de Maria do Carmo, como usar uma pasta de pimenta nas relações sexuais, entre outras maneiras de ver seus amantes sofrerem. Picadas de marimbondos, espancamentos e mesmo os instrumentos de tortura dos escravos como a roda alta, o cavalete, a berlinda eram usados enquanto copulava com eles.
Sua preferência era por jovens rapazes. Especulava-se que ela se nutria da vitalidade deles e suas almas eram seu principal e predileto alimento.
Quando assumiu o poder retomou seu antigo nome africano e exigia que a chamassem dessa forma, sem que a fitassem nos olhos. A desobediência era punida com a morte, sempre de maneira a servir de lição a toda comunidade. O cenário era montado onde fora sepultada e ali mesmo eram enterrados.
Morreu idosa e cruel. Ao morrer todos se apressaram em enterrá-la e o cipreste seria a porta impedindo-a de retornar um dia. Agora a árvore estava arrancada e seu caixão aberto. Ela iria destruir a todos! Dia a dia mais corpos masculinos seriam encontrados.
O cachorro começou a latir persistentemente, levando Dona Casemira à porta.
- Desculpe o atraso, mas perdi-me no tempo, analisando os símbolos estampados na urna, justificou Isadora enquanto cumprimentava a todas as senhoras e se sentava, demonstrando conhecê-las de longa data.
Contrariando as orientações da mãe, Maurício saiu, ia de encontro de outros colegas. Jurou inúmeras vezes que tomaria cuidado, evitando locais ermos e sem iluminação, buscando andar em lugares movimentados. Dentro de si ria das preocupações da mãe e das estórias que circulavam pela cidade. Haviam combinado de comer lanche logo atrás da matriz.
Caminhou displicente e logo próximo a estátua de Santa Izabel de Portugal, protetora da cidade, enfiou a mão no bolso em busca do maço de cigarros. “Que sua mãe não soubesse disso”. Acendeu e prosseguiu.
Na escadaria da igreja avistou uma bela garota. Podia admirar seus seios quase expostos saindo do vestido de tecido leve, suas coxas roliças e olhar triste. Os hormônios da adolescência logo despertaram.
- Moço!, chamou ela olhando-o como se pedisse ajuda. Não tenha medo, você pode me ajudar ?
- Claro, disse Maurício soltando baforadas de fumaça com ar de machinho, e olhando nos peitos da mulher.
- Não sou daqui e me perdi...estou com muito medo !, disse ela languidamente.
Maurício sentou-se ao lado da moça e pegando em suas mãos, procurou acalmá-la, solicitando maiores informações sobre como teria parado ali na escadaria da igreja. Ela narrou que seus pais haviam visitado a cidade e ela se afastara com toda a confusão na cidade não encontrando mais a família. Sabia apenas que eles estariam no sítio dos Mendonça, mas não sabia como chegar lá.
O menino avaliou a distância e entendeu que poderiam chegar lá a pé, embora tivessem que caminhar um bocado. Ela insistiu que ele a levasse até lá. Sensualmente por várias vezes tocara o rosto e as coxas do rapaz, o que o levou a acompanhá-la também por outras intenções. Ela possuía apetitosos lábios carnudos e sua pele negra a enchia de exótica atração.
A lua brilhava no céu iluminando a estrada. Aos poucos a moça foi ficando mais descontraída, solta, dançando e cantando no meio da estrada deserta. O rapaz contagiou-se.
- Que morro é aquele ?, perguntou ela aconchegando-se a Maurício e acariciando seu peito.
- Chamam de Morro do Uivo. Falam que lá há noite se ouvem ruídos como de lobos, esclareceu olhando-a com desejo.
- Você já fez amor lá ?, intimou ela sem rodeios.
Maurício abaixou a cabeça envergonhado, respondendo um não quase inaudível.
- Vamos até lá ? Deve ser incrível fazer amor olhando as luzes da cidade lá embaixo...não quer ir ?, e dizendo isso disparou na frente correndo como um veado mateiro na grama em direção ao morro.
Maurício encorajou-se e a seguiu, mas era impossível alcançá-la. Por instantes temeu entrar naquele pasto com tantas notícias de assassinatos, mas o impulso sexual era mais forte.
Quando atingiu o alto do morro pode ver a moça nua sentada sobre seu vestido.
- Tire a roupa !, ordenou ela demonstrando querer não perder tempo.
O rapaz despiu-se timidamente e ajoelhou-se ao lado da moça para beijá-la.
- Estamos aqui e nem sei seu nome...refletiu ele.
- Lubaya..., disse acariciando o corpo delineado do rapaz, e já que estamos no Morro dos Uivos, quero que você seja um lobo e sejamos animais.
Entre uivos, arranhões, Maurício entregou-se a algo que nunca havia vivenciado antes. Lubaya sobre ele o levou a quase asfixia proporcionando estranhos prazeres. Quando ejaculou com incrível agilidade Lubaya usando uma faca de bolso decepou o pênis de Maurício, mantendo-o dentro de si.
Já tardava quando um grupo de garotos encontrou o corpo de Maurício totalmente desmembrado. Dona Deolinda desmaiou quando soube que seu bisneto também fora apanhado pelo fantasma.
Silas estava inconformado, entrou no museu abalado. Abriu a porta da sala onde estava a urna e deu de topo com a jovem negra. O processo de sedução iniciou-se com os trejeitos, olhares e corpo escultural da moça.
Isadora chegou a tempo e visualizando os dois abraçados, disse em voz alta:
- Ogrando oco bafolu inuri chamarim !!! Atachi belorum dextruorum...
Lubaya olhou-a com pavor e diluiu-se nos braços do historiador. “Temos muito o que conversar”, revelou a mulher.
Isadora narrou-lhe a estória de Lubaya, falou das anciãs e que ela fazia parte daquela cidade. Sua mãe havia lhe preparado para esse momento, descendia de uma escrava que vivera ao lado de Lubaya e ela própria havia feito o encantamento para que não mais emergisse da sepultura. Quando soube da descoberta apressou-se em chegar a cidade e contactar Silas.
O fato parece ter irritado profundamente Lubaya que destroçou em uma só noite cinco rapazes. Era um aviso sobre seu poder. Cada uma das senhoras do círculo de anciãs caiu morta. Uma atacada pelo cachorro, outra escorregou da escada, outra atropelada, acidentes aparentemente naturais provocados pela vingativa anciã com corpo de uma jovem. Enquanto se banhava Isadora sentiu mãos invisíveis a asfixiando, não teve como pronunciar as palavras que iriam afugentá-la. Foi encontrada caída no banheiro.
Silas desesperado arrastou o caixão até sua pick-up. Iria se livrar daquilo. Após várias tentativas conseguiu fazer o carro pegar. Em alta velocidade dirigiu-se a um descampado onde poderia queimá-lo. Lubaya surpreendeu-o atravessando a pista saindo do nada. O carro sem direção desceu uma ribanceira incendiando junto a altos eucaliptos. O caixão foi atirado longe, preservando o corpo de ser queimado. Em pouco tempo a urna estava de volta ao museu.
Os historiadores identificaram o cadáver como de Maria do Carmo, uma Senhora de Engenho, que vivera ali nos primórdios da cidade. Uma senhora poderosa e influente e da qual o prefeito descenderia.
Por determinação do prefeito o caixão foi levado ao cemitério local, onde foi depositado no jazigo da família, com honras militares. Uma missa foi encomendada para que aquela alma tivesse paz.
Na porta da capela, Lubaya sorria. Ela teria paz...a cidade talvez não.

CUNHAPORA

- Vai ser muito bom, cara !, disse Eduardo, o Kadu, enquanto escolhia os trajes femininos, peruca e maquilagem entre risos e algazarra.
Era a primeira vez que participaria do carnaval naquela cidade, incrustada no sertão, pequena e bucólica, com grandes praças e muita gente velha conhecida papeando animadas acompanhadas por um cãozinho e pouco trânsito de veículos. Ali o carnaval era comemorado de maneira muito particular, as pessoas “trocavam de sexo”. Os homens travestiam-se de mulheres e as mulheres, de homens. Com esses trajes invadiam bares, restaurantes e ocupavam as ruas em grande folia. Era uma incrível catarse. Cada um procurava expor de maneira mais clara possível seu outro lado. Kadu estava na cidade em visita ao amigo de faculdade, João, que divulgava com grande eficiência o evento.
João já havia separado seu bustiê, uma minissaia, uma peruca de cabelos exageradamente encaracolados, uma sandália plataforma cor de palha. Fariam parte do grupo também outros amigos. A festa começaria na sexta-feira com churrasco e muita cerveja, onde também iria ocorrer a escolha da Lady do grupo.
Uma chuva fina parecia não colaborar para a plenitude das brincadeiras, embora ela não fosse impedimento. A cidade ia para as ruas de uma maneira ou de outra e para isso não havia idade, crianças e idosos contracenavam nas poucas ruas e se concentravam à beira do lago, onde quiosques e música os aguardavam.
Kadu produziu-se atentando-se a cada detalhe com a ajuda de Paula, irmã de João. Caprichou nas unhas, cílios postiços e preferiu colocar meia calça, já que tradicionalmente os homens nada colocavam por debaixo das saias, nem shorts, nem cueca...o objetivo era a provocação e a liberdade. Isso porém, sem conotação sexual, a diversão imperava, na mais pura zueira.
A cerveja começou a circular no grupo de amigos logo cedo, já devidamente trajados. João simulava trejeitos de madame em sua plataforma, rebolando e levando tapas na bunda enquanto passava. Aos poucos chegaram Thiago com um vestido de malha branca e flores azuis muito justo no corpo evidenciando todos os contornos possíveis, chinelos, peruca loura com uma flor de plástico velha e desgastada, como que arrancada de uma sepultura abandonada. Lauro apareceu trajando um “tomara que caia”, em que todos rezavam para que não caísse e uma saída de banho, sandálias, peruca curta preta e maçãs do rosto extraordinariamente vermelhas. Adriano chegou com uma peruca Marilyn Monroe, vestido de decote e botinas.
Aos poucos outros foram chegando, surpreendendo com sua imaginação e deboche.
Em outra casa um grupo de garotas também se especializava no trato masculino. Porém, esse encontro somente aconteceria bem à noite, junto ao lago, onde todos iriam se reunir.
Entre palhaçadas e cerveja chegou o horário previsto para invadirem as ruas nas tradicionais celebrações de Momo. A alegria era contagiante, com muitas risadas e surpresas ao se depararem com os trajes dos colegas, engraçados e promovendo situações divertidas como beijar a namorada que possui farto bigode.
A chuva muito fina dava um aspecto de neblina, gradualmente ensopando a todos os participantes dessa farra. Kadu estava extasiado, muito bêbado, cantando e dançando, irreverente e despachado. Logo foi parar em cima do caminhão onde iria ocorrer a disputa da Lady. Foram doze candidatos, um mais escandaloso que outro exibindo seus dotes e “feminilidade”, levando o público ao delírio. O corpo de jurados era formado por cinco mulheres de diferentes idades e “puramente” masculinas.
Após exibições e gargalhadas, o vencedor foi Kadu, como não poderia deixar de ser. Saiu carregado pela multidão, sendo lançado ao ar e regado com muito mais cerveja.
Entusiasmado lançou-se no lago e nadou até uma escultura feminina que emergia das águas, no centro do lago.
A festa prosseguia. Com o avançar das horas era comum as pessoas se atirarem no lago, incluindo alguns exageros que faziam com que algum corpo fosse encontrado no dia seguinte boiando nas águas. Também casais podiam ser surpreendidos na penumbra, entre árvores, movidos pelo desejo e efeitos do álcool.
Adriano, desde o churrasco, seguia Kadu com os olhos, estudando seu corpo, gestos e beleza. Aproveitou-se quando Kadu sentou-se na sarjeta para se aproximar. Embora surpreso com a investida do amigo não se recusou a desfrutar aqueles momentos. A noite os encobriria, ninguém ficaria sabendo. Dirigiram-se ao prédio da antiga Estação Ferroviária, agora abandonada.
A Estação ficava próximo à nascente que dava origem ao lago. Um lugar repleto de antigas estórias e lendas, inclusive a que deu origem a festa.
Antigamente a cidade era habitada por indígenas e o lago era considerado a morada de uma velha deusa chamada Cunhapora. Contavam que Cunhapora era de extraordinária beleza, nas noites de lua cheia caminhava às margens da lagoa e encantava os rapazes levando-os para um festim sexual no fundo das águas, de onde nunca mais retornavam. Todos os anos os aldeões ofereciam-lhe homenagens com flores, danças e um rapaz era escolhido e lançado às águas. Acreditavam que tal providência evitava que a deusa caminhasse pela aldeia e levasse consigo outras pessoas. Também evitava-se a propagação de doenças que a deusa lançava quando contrariada.
Aos poucos a lenda se metamorfoseou no Carnaval, pela coincidência de datas, persistindo a escolha do rapaz, que no início vestia-se com os trajes de Cunhapora. A deusa coberta de lodo e flores aquáticas deixava revelar seu colo, objeto de atração e desejo dos mancebos locais.
Entregue aos prazeres, os rapazes não viram que uma moça se aproximava. Kadu estremeceu ao avistá-la na penumbra, não pelo susto, mas por ter sido flagrado e sua reputação masculina abalada. Adriano fitou-a, tentando identificar afinal conhecia todas as pessoas da cidade. Seu olhar vítreo e hipnótico atraiu Kadu para si com uma profunda auto-confiança. O rapaz não vacilou aproximando-se a passos lentos da misteriosa mulher.
Adriano irritou-se e num misto de indignação e ciúmes abandonou a Estação para que os dois pudessem curtir o momento a sós. Atravessou as ruas escuras com lágrimas nos olhos, decepcionado e triste, rumo a sua casa.
Algumas poucas pessoas permaneciam no ritmo carnavalesco, muitos estavam estirados no chão esgotados. A chuva havia cedido espaço a uma noite calma. Não demoraria para o sol reaparecer.

_____  _____

A tarde já avançava e muitas pessoas procuravam Kadu. Temiam que tivesse se afogado ou pudesse ser encontrado em coma alcoólico em algum lugar. A pequena cidade movimentou-se na busca que todos intuíam infrutífera.
Mais um carnaval em que a Lady desaparecia e, certamente, celebrava no fundo do lago com alegria e prazer nos braços de Cunhapora. Caberia a João selecionar mais um belo rapaz para o próximo carnaval.
A tradição se mantinha e Cunhapora estava satisfeita, graças à Irmandade Abayomi, um grupo secreto que velava pelas antigas tradições e promovia o “alegre encontro” com a deusa.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O GRILO

Cricrila o grilo
entre as folhagens
Sinfonia elaborada
no seu modesto violino
tece seus sons e melodias
Incansável insiste
nesse ritmo que até parece triste
mas é para sua namorada
sorria, não se encante
nem sonhe com seu amado nesse momento
ele apenas busca acasalamento.

O BOI

Mastiga e mastiga
num ruminar incessante
ele rumina a grama
segue o boi
fungando no capim
há quem rumina a vida
com a mesma insistência
com a mesma inconsciência
insulta, cavoca, revira
mastiga, engole e devolve
regurgitando o passado
pastando no hoje
O amanhã ?
Há muita grama pra se pastar !

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O VASO

em um canto jaz um vaso solitário
decorado, belo e caro
enfeita o canto
argila modelada e aquecida
um dia dormente e esquecida
na beira do rio
suporte de uma samambaia
com os pés n´água
úmida e fria

água, fogo, terra e ar
elementos que se unem
se abraçam, entrelaçam, se fundem
metamorfose da terracota

a criança desatenta e estabanada
espalha cacos e adornos
da cerâmica quebrada
alheia aos gritos dos donos

segue a nobre terra modelada
para junto de plásticos, dejetos e latas
no lixão revolto a céu aberto
pedaços perdidos junto às patas
de um viralatas morto.

a magnitude esvaiu abandonada
sem esplendores
na umidade plácida do húmus
e os gases fétidos com chamas azuladas
ignorada pelos urubus.

triste fim daquela majestade
devolvida à mórbida natureza
castigada pelas tempestades
apoteose de sua realeza.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A ESPADA DE D. PEDRO

Roubaram a espada de D. Pedro !
Ah, se somente fosse ela
Na verdade faltava a espada
Aquela que proclamou a independência
Que rogou a liberdade
A liberdade de tirar-lhe até a espada
Foi pau Brasil foi ouro, foram pedras preciosas
Foi dinheiro em malas e cuecas
Meias e sacolas
Foi a carteira do vizinho
Meu notebook, minhas notas antigas

Ah, mas não foi só a espada
De bronze com cheiro de comércio
Não o comércio de especiarias
Mas o de ferro velho
É ! Não se ofenda !
Esse é o valor da velha espada
Juntamente com fios de cobre
Tampas de bueiros
E materiais de construções.

Levaram mais que a espada
Foi-se a decência, a ética, o civismo
Sob o fio da espada
Corta-se a história
Uma história que prossegue
Século a século
Lapidada, roubada, vilipendiada
Pelos próprios brasileiros.

Mas não fique indignado !
A espada será reposta
Talvez de plástico, madeira ou papelão.
Papelão não pode
Há quem venda a espada novamente !

Se quiseres preservar a história
Só há um caminho
Ou a torna sem valor comercial
Ou a trata com carinho
Em pura transmissão oral.

TODO PODEROSO

esmago a formiga e o caracol
chuto o gato e o cachorro
o bêbado, o andarilho, o ancião
sou forte, jovem, destemido
enfrento pai, mãe e professor
escarro na rua
esbarro, machuco, esmurro
intocável, belo, sedutor

meninas desmaiam só num toque
me querem, suspiram, desejam
não estudo, não trabalho
levo a vida num arrasto
sou líder, comando, ordeno, até mato

fumo, bebo, me acabo
deus é uma pilhéria
não faço acordos, nem contratos
olho e isto basta
não me enfrente
antes de você teve muita gente
que pus em seu lugar

não lembram meu nome
apenas desapareci
me ajeito no meio de um bosque
em cova de terra fofa
marcado por moscas
devorado por toscas minhocas e vermes

minha valentia sucumbiu
na lei da selva
sempre há o mais forte
meu corpo sumiu
mas muitos acharam que foi sorte
ninguém procurou
ninguém mais me viu.

TEMPESTADE

nuvens árduas num céu de bronze
o raio rasga a pedra
num grito desmemoriado de prazer
ribomba e bomba
seiva ácida escarlate
que eu bebo e me embriago
dos suores que te escorre
num sopro destemido
gemido quieto e amargo
me agarro e não largo
destroço, arranho, arrebento
na fúria dos elementos

vou rolar despenhadeiro abaixo
numa celebração dionisíaca
entre espumas e espasmos
lamber o sêmen que escorre da montanha
lúgubre, imponente, retumbante
doce líquido do baiacu
arrebatando num instante
eterno e nauseante
meu corpo para outra realidade

e sem idade
possa eu em infinita juventude
brincar entre anjos e sátiros
sobre uma vitória-régia.

NEGRO

o homem vacila no caminho
caminho de terra, de pedra, de asfalto
asfalto preto, negro de basalto
betume escuro, noite ébano tapetando a rua
rua de estrelas
na brilhante galáxia que repousa em meu pensamento
como um chifre
tuba de Wagner
soprando o tempo no som do espaço
que eu caço
predador voraz que devora
cada hora
em sonhos sombrios e eróticos
como lânguido beijo
no prepúcio da morte
negra em seu manto de Halaster
mágico e cruel
atraente e fatal
como viúva negra que te arrasta para o sempre
num espelho de obsidiana

o homem vacila no caminho
caminho de terra, de pedra, de asfalto
asfalto preto, negro de basalto
betume escuro, noite ébano tapetando a rua
que crua e nua avança infinita
como pelo pubiano
em cópula com o deus cornudo
inocente e pura
como a chuva que cai fina e persistente
dentro do meu corpo
meigo e travesso
nos braços de Morfeu
que embora todo seu
brinca e se esconde nas muitas portas da memória
abre e fecha
mostra e se oculta
nas sombras do Pau de Óleo
no alto do morro.
Morro.

ADOÇÃO

Olhos pedintes, distantes, solitários
Olhos que pedem aconchego
Um quero colo mergulhado no abandono

Há casa abandonada
Gente abandonada
Terra abandonada
Bicho abandonado

O cãozinho olha com esperança
Alguém que o abrace e reconheça
Que lhe afague, enlace, o perceba
Entre tantos outros com o mesmo sonho

Sonho do gatinho
O preto, o branco, o cinza, o malhado
Malhado foi na vida
Até surrado, chutado, sofrido

Tem gente que não é gente
Mas também não é animal
Animal tem sentimento
Tem carinho, tem afeto, tem ternura

Muita gente tem que aprender a ser animal
Uns querem ser anjos
Mas não conseguem ser gente
Não conseguem ser animal
Estranha busca espiritual

Então vai
Dá seus primeiros passos
Adote
Tem de toda marca e etiqueta
De toda raça e que já perdeu

Olhe nos olhos e sinta o coração
Só quem tem pode sentir.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

TALVEZ UMA DESPEDIDA

“Apenas vivo minha vida com muita alegria... sem rótulos, sem preconceitos, sem nenhum tipo de restrição às pessoas.” (Renato Cesar Bussadori - http://mktprofessor.spaces.live.com)


Pois é, ele se foi. E apesar de todo impacto causado pelo fato de sair de cena assim tão rapidamente, deixa muitas histórias, mensagens e registra sua presença na eternidade. Há muitas coisas boas para falarmos. À princípio a importância de tê-lo conhecido, convivido com sua figura tão divertida, despojada, alegre e culta. Talvez tenha sido incompreendido em muitas circunstâncias, mas os gênios são assim. Eles precisam passar para que seus ensinamentos possam emergir com transparência.
Foram muitos momentos compartilhados, pessoalmente ou online, sempre muito produtivo discutir temas diversos como Educação, Política, Cultura, em tons irônicos e apimentados, o que o caracterizava de maneira inquestionável. Sempre soube tratar cada tema com profundidade e extrair de cada fato as ocultas entrelinhas.
Talvez fosse um inconformado. Inconformado com a pobreza, a falta de educação ou a despreocupação em aprender, crescer, ser melhor. Discutimos várias vezes sobre aquelas pessoas que não enxergavam o valor precioso de cada dia.
Alguém autêntico que nunca deixou de dizer o que pensava, de registrar sua indignação, de cobrar posturas, de questionar e apresentar duras e verdadeiras análises sobre coisas que as pessoas conviviam pacificamente e no âmago não aceitavam. Para externar pensamentos é preciso coragem, é preciso força, é preciso ser você mesmo. E ele foi.
Agora não está mais conosco. Planos e projetos foram diluídos com a mesma rapidez com que nos deixou. Evanesceram como a fumaça do incenso consumindo o aroma e ascendendo aos céus. E esse é um lugar especialmente reservado para pessoas como ele. Não tenho dúvidas de que sua consciência hoje descansa em paz. Não havia espaço para dor ou rancor em seu coração. Rapidamente dizia, apontava, rangia, brigava e tudo desaparecia com a mesma intensidade com que havia principiado. A alma sempre foi límpida.
Conhecer pessoas como estas são oportunidades e bênçãos para poucos. Hoje não importa onde está, se no Paraíso, se Planos Espirituais, se apenas na memória das pessoas. O que importa é que esteve, esteve entre nós e essa presença será perene. Não importa quanto tempo passe, quantas luas se sucedam, quantas pessoas se aproximem e se afastem de nós, ele permanecerá intocável, vivo, com sua maneira irreverente e inteligente de mostrar-se, de conquistar cada um.
Aqueles que conheceram Renato Bussadori sabem do que estou falando e sabem que em nada exagero ou excluo de sua personalidade arrebatadora.
Não sei se terei saudades, pois certamente estará me acompanhando sempre, em meus pensamentos, em meus caminhos, até que um dia, talvez tornemos a nos encontrar e, como sempre fazíamos, colocar as fofocas em dia de maneira efusiva e alegre.
Cabe-nos viver cada dia intensamente e seguindo seu modelo de existência saber ser sublime, encantar-se com os acontecimentos mais simples, rir-se de si mesmo, brincar, sorrir e deixar por onde passarmos essa aura tão brilhante e aromática daqueles bons espíritos que por uma licença divina visitam rapidamente a Terra para que sejamos melhores e mais felizes.
Segue teu caminho, Glorioso, outras pessoas precisam compartilhar sua felicidade.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

CREPÚSCULO

"Há coisas que conhecemos e coisas desconhecidas, entre elas há portas" (Jim Morrison)

MARROM TURQUESA

Venho nas cores marrom e turquesa
Missangas, búzios e aloés
Senhor das folhas e da beleza
Não demonstre surpresa
Um misto caboclo
Que trás o passado de Roma e da Espanha
Não me desafia ou assanha
Você vai perder

Não meça comigo fortaleza
Pois nesse espaço sou o aço
Venço a palha e o ferro
Não tenho medo de berro ou
De corpo fechado
Desmancho teia, rede e embaraço

Sou forte na lança

Filho de Oxóssi e Iansã
De crença nos balangandãs
Nos pretos velhos de Angola
No curandeiro da mata
Pajés, quilombolas e xamãs

Ouça meu grito e minha saudação
Que ecoa no espaço
Comunhão com os antepassados
Entrecortando caminhos
Na mata fechada


Venho num redemoinho
Misterioso e oculto
Surjo e desapareço
Sem lugar, sem tempo,
Esse é meu passatempo
Olhar o vento
E ler teu pensamento

Danço num só momento
Entre árvores e nuvens
Olho o fundo da alma
E coleto cristais
Imersos nos olhos de quem me vê
A você dou da palma
Enebriante vinho para beber

Desmemoriado e adormecido
A flecha certeira te atinge o peito
Confuso pelo vento vai ser levado
No farfalhar da bamburucema

Devias ter percebido
poucos sabem viver dentro da mata
encontrar abrigo e alimento
ter como amigo o vento
e ali sobreviver.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O RETORNO

"Como a alma corporificada passa continuamente neste corpo, da infância à juventude e à velhice, a alma similarmente passa para outro corpo após a morte. Uma pessoa sóbria não se confunde com tal mudança “. Bhagavad Gita 2,13

O cão estava avançando agressivamente contra o portão de madeira envernizada. A frente da casa era muito arborizada, com um flamboyant e heras nos muros, além de mussaendas e gramíneas. A casa era tipo de fazenda, com ampla varanda ao redor, bem arejada, decorada com vasos de samambaias, copos de leite e antúrios. Carrancas e bancos de madeira rústica também decoravam o ambiente gerando tranqüilidade e simplicidade. A família não gostava do luxo, embora pudesse adotá-lo se o quisesse. Uriel era um mastim napolitano, jovem, de pelagem brilhante e bem cuidada. Investia contra o carteiro, que por alguma razão desconhecida ele detestava.
Malvina, gorda e risonha, abandonou o fogão e dirigiu-se apressada para recolher a correspondência, antes que Uriel tivesse uma síncope. Conferiu nomes e endereços e avançou para o interior da casa. Havia uma cestinha de vime onde cartas, bilhetes e lembretes eram colocados. Retornou aos seus afazeres. Cuidava da casa como se fosse sua, afinal estava com aquela família há incontáveis anos. Sabia de cada personalidade, hábito, mania e vontades de cada um. Preparava com imenso carinho os pratos preferidos e até separava as roupas que iriam usar naquele dia. Zelava pelas plantas e seu fiel amigo Uriel. Passava praticamente o dia ali sozinha, mas isso em nada a incomodava. Conhecia até os ninhos dos passarinhos nas árvores, a visita de uma família de gambás na jaqueira e beija-flores e borboletas que bailavam pelos camarões vermelhos, lantanas e hibiscus.
Além de Malvina ali residiam Catarina e seu esposo, Amadeu, e os filhos Ágatha e Fernando. Davam-se muito bem, respeitando-se as ações e reações naturais dos adolescentes. Os filhos eram gêmeos. Extremamente diferentes um do outro a não ser pela aparência. Ágatha, muito branca, de olhos azuis claríssimos, cabelos dourados, era bem questionadora, desconfiada e precisava sempre de provas materiais para seus questionamentos. Estudiosa, curiosa, obstinada, mostrava uma liderança natural, embora freada e controlada pelo rigor dos pais. Fernando, também loirinho, de pele alva, olhos de um azul celeste belíssimo, já demonstrava um caráter mais reservado. Pacato, atento, observador, muito bom na área de humanas e assustador nas exatas. Tinha uma marca de nascença ao lado esquerdo do umbigo na forma similar a uma flor de lis.
Viajavam muito, sempre interessados em conhecer lugares novos. Álbuns e mais álbuns de fotos registravam as peregrinações da família. Sempre tinham estórias para contar, episódios vivenciados nas mais diferentes situações ocorridas durante as viagens.
Naquele dia, Malvina estava preparando um saboroso nhoque ao sugo, prato predileto de Fernando. Para que não surgisse ciúmes entre os irmãos, de sobremesa caprichava no bolo de nozes para Ágatha. Na verdade todos comiam, mas os pratos dedicados a esse ou aquele refletiam o carinho de Malvina pelas “crianças”.
Catarina entrou esbaforida pela casa, acelerando o coração de Malvina. Fernando havia sido atropelado ao sair do colégio e estava no hospital. Amadeu já estava lá com ele. Pediu a Malvina que tranqüilizasse Ágatha e ficasse também confiante que iria agora ao encontro do marido. “Reze por ele”, recomendou.
A anciã correu para junto de seu modesto altar onde se visualizava um crucifixo, uma imagem de Nossa Senhora das Dores, uma imagem de São Roque e um rosário. Acendeu contrita uma vela e iniciou um ciclo de orações para que tudo estivesse bem.
Porém, os dias se passaram. Fernando estava em coma e não reagia. A família despencou em tristeza. Um profundo silêncio pairou sobre a casa; mesmo os pássaros que sempre a alegravam pareciam estar em oração. Foram dezessete dias de expectativas, esperanças e lágrimas que atordoaram a todos. No décimo sétimo dia faleceu. Uma cortina negra cobriu a casa. A alegria, os planos de viagens, os pratos saborosos foram excluídos da rotina. Via-se pessoas paradas, silenciosas, meditativas. Era muito freqüente surpreender as pessoas chorando e recusando-se acreditar no que havia acontecido e aguardavam a entrada misteriosa de Fernando pelo portão, brincando com Uriel, jogando a mochila sobre o sofá, deixando a camiseta na cozinha, a calça no banheiro e percorrendo a casa de cuecas para deixar as meias e tênis no quarto, lançados aleatoriamente.
Aos poucos as pessoas voltaram às suas atividades, sem o entusiasmo e vibração que caracterizava a residência. Os pássaros voltaram a entoar seus cantos, mas pareciam melancólicos e espaçados, como se um nó na garganta os impedisse de continuar. Malvina estava inconsolável e Uriel estranhava a ausência de seu amigo, buscando refugiar-se ao lado da cama do velho companheiro.
Ágatha adotou uma postura agressiva e revoltada. Arremessou a imagem do Arcanjo Gabriel que possuía contra a parede e declarou que não acreditava mais em Deus e em mais nada. O rendimento na escola caiu drasticamente. Tornou-se irônica e sarcástica. Recusava-se ir a missa e chegou algumas vezes alcoolizada em casa vindo de Raves. Os pais passaram a preocupar-se e buscaram aconselhar a filha, compartilhando a dor e o sofrimento. Porém, a menina demonstrava estar alheia a todos os argumentos.
Meses se passaram e os solstícios se sucederam sem que algo pudesse fazer reviver a família.
- Este é Lukas !, apresentou o moço aos pais que assistiam televisão dirigindo-se ao seu quarto. Apresentou sem formalidades, arrastando-o pela mão e sem dar tempo para qualquer palavra.
Lukas. Cabelos castanhos escuros bem lisos escorrendo pelo rosto, um piercing na boca, camiseta bem maior que o número dele, bermuda jeans bem desgastada e um tênis que parecia ter feito o caminho de Santiago. Enfim, passou a freqüentar a casa. Aos poucos também a dormir na casa. Ágatha parecia mais feliz e Lukas tinha uma conversa amistosa, agradável, divertida e contagiante. Fez bem para todos. Malvina logo aprendeu, com uma sensibilidade extrema, a reconhecer os alimentos preferidos dele. Estavam namorando e os pais aprovaram reconhecendo ser uma ótima pessoa, embora imaturo e inconseqüente em razão da própria idade.
Um brilho pálido reacendeu. Lukas acreditava em muitas coisas, inclusive que Fernando estava bem em algum lugar, continuando sua vida de outra maneira, em outro plano, o que fortalecia Catarina e Amadeu que, embora católicos fervorosos, deixaram-se abater gravemente e essa certeza já não era apresentada com tanta convicção. O namorado levava incensos para a casa comprados de monges Hare Krishna que encontrava nas ruas e dizia que era preciso trazer boas energias para a casa. Todos acabavam apreciando e curtindo os incensos, mantras e pedras com que presenteava.
Em um certo domingo decidiram fazer um churrasco. Amadeu e Lukas foram comprar cerveja, gelo, carnes, enquanto Malvina se esmerava no arroz, nas saladas, vinagrete. Ágatha convidou alguns amigos e amigas. Uriel foi presenteado com um enorme osso que prendeu sua atenção o dia todo. Não demorou para que o cheiro de carne se espalha-se.
Os amigos de Ágatha foram chegando. Eram poucos: Karen, Glaci, Rafael, Gustavo e Paolo. Todos muito divertidos e chegaram agitando a festa. Karen era mística, com um belo vestido indiano, cabelos curtos e um colar de sementes pendurado no pescoço. Glaci com jeans, camiseta, cabelos ruivos, cheia de tirar o sarro nos outros e logo fez amizade com Amadeu, com interminável conversa. Rafael, moreno, cabelos bem curtinhos, chinelo, bermuda, regata, fazia mais o gênero largado. Gustavo de calça de moleton, camiseta e havaiana, aparentando uma idade bem menor do que tinha, miudinho, mas com músculos já definidos. Paolo sem camisa, bermuda, chinelo, queimado do sol, loiro, olhos cor de mel. Era possível perceber a cumplicidade entre eles, um pequeno gesto se tornava uma monografia.
Beberam, riram, divertiram-se. Muito samba de roda. A alegria que havia desaparecido brotava.
Malvina aproveitando o momento de felicidade foi caminhar ao redor da casa e checar as plantas. Voltar a viver. Percebeu um vulto no quarto de Ágatha e aproximou-se do vidro da janela para certificar-se do que acontecia. Sentados na cama Lukas e Gustavo estavam se beijando. Suas pernas tremularam, começou a suar frio. Continuou sua caminhada confusa e inquieta. Achou por bem nada comentar. Quando retornou todos estavam novamente reunidos, chamando-a e oferecendo um copo de cerveja, pois sabiam que ela não bebia nada com álcool. Simulou normalidade.
Os dias se passaram. Malvina estava incomodada vendo Lukas chegar abraçado com a menina, beijá-la e dormir no mesmo quarto que ela, de repente fazendo bem mais do que isso. Criou coragem, aproveitando estarem as duas na cozinha.
- Você conhece bem o Lukas, minha menina ?, insinuou puxando conversa.
- Humm, acho que sim...por que ?, perguntou enquanto saboreava um pedaço de pizza gelado que havia pegado na geladeira.
- E o Gustavo ? Ele tem namorada ?, rodeou.
- Não tem não. Ele é boa gente, é o melhor amigo do Lukas!, ponderou enchendo o copo de refrigerante.
- E você nunca sentiu nada esquisito entre eles ?, arriscou puxando a cadeira e sentando-se quase na frente de Ágatha.
A menina desandou a rir.
- Você não entenderia, Vininha ! Seria demais pra sua cabeça !, disse levantando e dando um sonoro beijo nas bochechas da mulher.
Certamente ela sabia, meditou Malvina. Avaliou que seria conveniente falar com Catarina sobre isso, não poderia permitir que a menina se perdesse com pessoas assim. Ele era bonzinho, mas esse traço não fazia dele mais uma pessoa bem vinda.
A conversa com Catarina foi bombástica, fugindo do controle que Malvina acreditou que teria. No almoço, Catarina e Amadeu trancaram-se no quarto. Ouviam-se gritos, choros e murros provavelmente no guarda-roupas. As coisas pioraram quando Ágatha foi convocada para a reunião.
A menina saiu transfigurada e olhando de forma ameaçadora para Malvina declarou sem rodeios : “A felicidade tinha voltado e você conseguiu acabar com ela”.
Desde aquele dia Ágatha trancou-se no quarto. Não havia mais diálogo. Entrava e saía como se não conhecesse ninguém. Afastou-se de Lukas por imposição dos pais.
Sob o olhar atento de Malvina foi notado que entre enjôos e inchaços, Ágatha deveria estar grávida.
Outra bomba foi detonada sobre a casa. Repreensões, ameaças, críticas, lamentações e Ágatha completou seus nove meses de gestação. O nascimento do bebê passou uma borracha sobre o passado. Alisson transformou-se no xodó de todos, até mesmo de Uriel que o protegia deitando-se ao lado do berço. À medida que crescia assemelhava-se cada vez mais fisionomicamente a Fernando. Aos poucos além da fisionomia, gestos, expressões e em especial a marca de nascença. A mesma flor de lis estava estacionada ao lado do umbigo do menino.
Lukas havia mudado de cidade acompanhando a família. Jamais saberia da existência do filho.
Alisson era indolente, desorganizado, algumas vezes implicante, desleixado. Da mesma forma que Fernando, chegava desnudando-se e espalhando roupas por todos os cômodos, assim era o menino. Catarina o observava atenta relembrando o filho. Como ele puxou para o Fernando ! Se fosse filho dele talvez não parecesse tanto !
Em certa tarde quando dirigiu-se à escola para buscá-lo, Catarina encontrou uma velha amiga, Sofia, e resolveram parar em um café para conversarem e colocar as fofocas em dia, já que não se viam há muito tempo. Riram bastante, relembraram os dolorosos momentos do falecimento de Fernando e o íngreme caminho até o nascimento de Alisson. Foi quando Sofia, com seus imensos olhos verdes, fitou a amiga e segurando-lhe firme nas mãos, assegurou:
- Cara amiga, é provável que você não acredite, mas Alisson é Fernando. Eu posso ver com uma nitidez incrível isso. Seu filho voltou para seus braços...
- Queria tanto acreditar nisso, minha amiga !, revelou entre lágrimas, - mas isso não é possível, meu filho morreu e eu preciso me conformar, embora tanto tempo tenha passado e ainda espero acordar desse pesadelo e senti-lo me abraçando de novo.
- Querida, veja, abra os olhos ! Qual a diferença entre eles ? O jeito de andar, de falar...até a mesma marca de nascença ! Deus está lhe dando todas as provas de que ele não morreu, apenas está em outro corpo !, disse Sofia carinhosamente.
As evidências eram inquestionáveis. Até o nhoque de Malvina o seduzia, como antes. Catarina, contudo, resistia em aceitar que seu filho tivesse retornado, ao mesmo tempo em que Alisson tornara-se um abençoado oásis no árido deserto de sua vida.
Ao chegar em casa encontrou seu marido afundado no sofá lendo, atento e reflexivo, o Evangelho Segundo o Espiritismo. Vendo Catarina entrar, olhou-a demoradamente e comentou:
- Você já percebeu como Alisson e Fernando são parecidos ?

CONTOS EMANADOS DE SITUAÇÕES COTIDIANAS

“Os contos e poemas contidos neste blog são obras de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência”

SABORES DO COMENDADOR

Ator Nacional: Carlos Vereza

Ator Internacional: Michael Carlisle Hall/ Jensen Ackles/ Eric Balfour

Atriz Nacional: Rosamaria Murtinho / Laura Cardoso/Zezé Mota

Atriz Internacional: Anjelica Huston

Cantor Nacional: Martinho da Vila/ Zeca Pagodinho

Cantora Nacional: Leci Brandão/ Maria Bethania/ Beth Carvalho/ Alcione/Dona Ivone Lara/Clementina de Jesus

Música: Samba de Roda

Livro: O Egípcio - Mika Waltaire

Autor: Carlos Castañeda

Filme: Besouro/Cafundó/ A Montanha dos Gorilas

Cor: Vinho e Ocre

Animal: Todos, mas especialmente gatos, jabotis e corujas.

Planta: aloé

Comida preferida: sashimi

Bebida: suco de graviola/cerveja

Mania: (várias) não passo embaixo de escada

O que aprecio nas pessoas: pontualidade, responsabilidade e organização

O que não gosto nas pessoas: pessoas indiscretas e que não cumprem seus compromissos.

Alimento que não gosta: coco, canjica, arroz doce, melão, melancia, jaca, caqui.

UM POUCO DO COMENDADOR.


Formado em Matemática e Pedagogica. Especialista em Supervisão Escolar. Especialista em Psicologia Multifocal. Mestre em Educação. Doutor Honoris Causa pela ABD e Instituto VAEBRASIL.

Comenda Rio de Janeiro pela Febacla. Comenda Rubem Braga pela Academia Marataizense de Letras (ES). Comenda Castro Alves (BA). Comendador pela ESCBRAS. Comenda Nelson Mandela pelo CONINTER e OFHM.

Cadeira 023, da Área de Letras, Membro Titular do Colegiado Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba, patronesse Juliana Dedini Ometto. Membro efetivo da Academia Virtual Brasileira de Letras. Membro da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. Membro da Literarte - Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos. Membro da União Brasileira de Escritores. Membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza (ALAF). Membro da Academia de Letras de Goiás Velho (ALG). Membro da Academia de Letras de Teófilo Ottoni (Minas Gerais). Membro da Academia de Letras de Cabo Frio (ARTPOP). Membro da Academia de Letras do Brasil - Seccional Suíça. Membro da Academia dos Cavaleiros de Cristóvão Colombo. Embaixador pela Académie Française des Arts Lettres et Culture. Membro da Academia de Letras e Artes Buziana. Cadeira de Grande Honra n. 15 - Patrono Pedro I pela Febacla. Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Iguaba Grande (RJ). Cadeira n.º 2- ALB Araraquara.

Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Taquaritinga pelos serviços em prol da Educação. Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Bebedouro por serviços prestados à Educação Profissional no município. Homenagem pela APEOESP, pelos serviços prestados à Educação. Título de Cidadão Bebedourense. Personalidade 2010 (Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade Mais Influente e Educador 2011(Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade 2012 (ARTPOP). Medalha Lítero-Cultural Euclides da Cunha (ALB-Suíça). Embaixador da Paz pelo Instituto VAEBRASIL.

Atuou como Colunista do Diário de Taquaritinga e Jornal "Quatro Páginas" - Bebedouro/SP.
É Colunista do Portal Educação (http://www.portaleducacao.com.br

Premiações Literárias: 1º Classificado na IV Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – SP, agosto/2005, Clube Amigo das Letras – poema “A benção”, Menção Honrosa no XVI Concurso Nacional de Poesia “Acadêmico Mário Marinho” – Academia de Letras de Paranapuã, novembro/2005 – poema “Perfeita”, 2º colocado no Prêmio FEUC (Fundação Educacional Unificada Campograndense) de Literatura – dezembro/2005 – conto “A benção”, Menção Especial no Projeto Versos no Varal – Rio de Janeiro – abril/2006 – poema “Invernal”, 1º lugar no V Concurso de Poesias de Igaraçu do Tietê – maio/2006 – poema “Perfeita”, 3º Menção Honrosa no VIII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba – setembro/2006 – poema “Perfeita”, 4º lugar no Concurso Literário de Bebedouro – dezembro/2006 –poema “Tropeiros”, Menção Honrosa no I concurso de Poesias sobre Cooperativismo – Bebedouro – outubro/2007, 1º lugar no VI Concurso de Poesias de Guaratinguetá – julho/2010 – poema “Promessa”, Prêmio Especial no XII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba, outubro/2010, poema “Veludo”, Menção Honrosa no 2º Concurso Literário Internacional Planície Costeira – dezembro/2010, poema “Flor de Cera”, 1º lugar no IV Concurso de Poesias da Costa da Mata Atlântica – dezembro/2010 – poema “Flor de Cera”. Outorga do Colar de Mérito Literário Haldumont Nobre Ferraz, pelo trabalho Cultural e Literário. Prêmio Literário Cláudio de Souza - Literarte 2012 - Melhor Contista.Prêmio Luso-Brasileiro de Poesia 2012 (Literarte/Editora Mágico de Oz), Melhor Contista 2013 (Prêmio Luso Brasileiro de Contos - Literarte\Editora Mágico de Oz)

Antologias: Agreste Utopia – 2004; Vozes Escritas –Clube Amigos das Letras – 2005; Além das Letras – Clube Amigos das Letras – 2006; A Terra é Azul ! -Antologia Literária Internacional – Roberto de Castro Del`Secchi – 2008; Poetas de Todo Brasil – Volume I – Clube dos Escritores de Piracicaba – 2008; XIII Coletânea Komedi – 2009; Antologia Literária Cidade – Volume II – Abílio Pacheco&Deurilene Sousa -2009; XXI Antologia de Poetas e Escritores do Brasil – Reis de Souza- 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2010; Prêmio Valdeck Almeida de Jesus – V Edição 2009, Giz Editorial; Antologia Poesia Contemporânea - 14 Poetas - Celeiro de Escritores, 2010; Contos de Outono - Edição 2011, Autores Contemporâneos, Câmara Brasileira de Jovens Escritores; Entrelinhas Literárias, Scortecci Editora, 2011; Antologia Literária Internacional - Del Secchi - Volume XXI; Cinco Passos Para Tornar-se um Escritor, Org. Izabelle Valladares, ARTPOP, 2011; Nordeste em Verso e Prosa, Org. Edson Marques Brandão, Palmeira dos Indios/Alagoas, 2011; Projeto Delicatta VI - Contos e Crônicas, Editora Delicatta, 2011; Portas para o Além - Coletânea de Contos de Terror -Literarte - 2012; Palavras, Versos, Textos e Contextos: elos de uma corrente que nos une! - Literarte - 2012; Galeria Brasil 2012 - Guia de Autores Contemporâneos, Celeiro de Escritores, Ed. Sucesso; Antologia de Contos e Crônicas - Fronteiras : realidade ou ficção ?, Celeiro de Escritores/Editora Sucesso, 2012; Nossa História, Nossos Autores, Scortecci Editora, 2012. Contos de Hoje, Literacidade, 2012. Antologia Brasileira Diamantes III, Berthier, 2012; Antologia Cidade 10, Literacidade, 2013. I Antologia da ALAB. Raízes: Laços entre Brasil e Angola. Antologia Asas da Liberdade. II Antologia da ACLAV, 2013, Literarte. Amor em Prosa e Versos, Celeiro de Escritores, 2013. Antologia Vingança, Literarte, 2013. Antologia Prêmio Luso Brasileiro - Melhores Contistas 2013. O tempo não apaga, Antologia de Poesia e Prosa - Escritores Contemporâneos - Celeiro de Escritores. Palavras Desavisadas de Tudo - Antologia Scortecci de Poesias, Contos e Crônicas 2013. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXIII, RG Editores. Antologia II - Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro. antologia Escritores Brasileiros, ZMF Editora. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXVI - RG Editores (2014). III Antologia Poética Fazendo Arte em Búzios, Editora Somar (2014). International Antology Crossing of Languages - We are Brazilians/ antologia Internacional Cruce de Idiomas - Nosotros Somos Brasileños - Or. Jô Mendonça Alcoforado - Intercâmbio Cultural (2014). 5ª Antologia Poética da ALAF (2014). Coletânea Letras Atuais, Editora Alternativa (2014). Antologia IV da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). A Poesia Contemporânea no Brasil, da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). Enciclopédia de Artistas Contemporâneos Lusófonos - 8 séculos de Língua Portuguesa, Literarte (2014). Mr. Hyde - Homem Monstro - Org. Ademir Pascale , All Print Editora (2014)

Livros (Solos): “Análise Combinatória e Probabilidade”, Geraldo José Sant’Anna/Cláudio Delfini, Editora Érica, 1996, São Paulo, e “Encantamento”, Editora Costelas Felinas, 2010; "Anhelos de la Juvenitud", Geraldo José Sant´Anna/José Roberto Almeida, Editora Costelas Felinas, 2011; O Vôo da Cotovia, Celeiro de Escritores, 2011, Pai´é - Contos de Muito Antigamente, pela Celeiro de Escritores/Editora Sucesso, 2012, A Caminho do Umbigo, pela Ed. Costelas Felinas, 2013. Metodologia de Ensino e Monitoramento da Aprendizagem em Cursos Técnicos sob a Ótica Multifocal (Editora Scortecci). Tarrafa Pedagógica (Org.), Editora Celeiro de Escritores (2013). Jardim das Almas (romance). Floriza e a Bonequinha Dourada (Infantil) pela Literarte. Planejamento, Gestão e Legislação Escolar pela Editora Erica/Saraiva (2014).

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