sábado, 29 de dezembro de 2012

Os mais lidos 2012


Qual o poema e o conto mais lidos em 2012?

Poema: Coroa de Oxumaré


Conto: Pai Bernardino

www.imagensbahia.com.br

Se ainda não leu esta é a hora!

  

ENCANTAMENTO ZOOFÍLICO



fotosbossini.blogspot.com

cavalgo livre na algibeira  da vida, altaneira
crinas fluidas, alvas, em que firme  me agarro
sinto o trotar nos caminhos desconhecidos
conheço campos, praias, montes, sítios
vago a terra, o barro, a ponte, a enseada
beijo-te terna e enamorada, o pescoço esguio
acaricio as ancas, o peito, as coxas, os cílios
percorro-te assanhada, na descoberta atrevida
de cada trilha que me revela a vida, dias claros,
sussurro em teus ouvidos atentos , vontades e medos,
oculto-me em ti, dias escuros, sem lua, lua vermelha,
temo a noite de cada dia,  trote piaffer ,em que me contenho,
bebo do teu sangue sem que me cedas, as sedas que cobrem o amanhã,
lambo as gotas que escorrem, suores e lágrimas, dias comuns,
encantamento zoofílico na metamorfose em que transcendo
alço voo em céus de Pégaso, atrás a lua brilha, são Jorge e seu dragão,
cada um cavalga em seu tempo, heróis, santos, deuses, qualquer um,
garranos que pastam serenos pelo espaço sideral, gramado quintal,
cavalgo livre, crinas fluidas, sinto o trotar, conheço campos, beijo-te terna,
acaricio as ancas, percorro-te, cada trilha, sussurro, oculto-me, temo, bebo,
lambo, alço voo.


BANHO DE ERVAS PARA O NOVO ANO



meu novo ano tem cheiro da Bahia
alecrim, alfazema, manjericão e macaçá
um toque de arruda, de guiné, de araçá
tem rosas para Iemanjá e para a Virgem Maria

meu novo ano tem cheiro de pau d´angola
champagne, romã, lentilhas e cumaru
tem um canto suave que vem do mar
Janaína, Seriea, Dona Maria, minha Senhora

pode ser um dia como outro, cansado e preguiçoso
de celebrações, festanças, comidas e convivas
de qualquer forma é um jeito de começar de novo a vida
de pensar, repensar, refletir ou se embebedar

meu novo ano não é um dia qualquer
é recomeço, um reolhar, reeditar, reescrever
o que ontem foi, o que amanhã será, o que hoje precisa ser
por isso tem cheiro de encanto, de beleza, de magia

meu novo ano tem cheiro de promessa
uma promessa incrível de liberdade, de curtir a minha felicidade
de meu jeito, de meu modo de ser
sem regras, normas, leis, decretos, nada interessa
há não ser eu mesma, plena, minha alma em vento
senhora dos montes e das maresias.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Pessoas que marcaram 2012







Alguns se despedindo, outros dando início a um novo ciclo, todos marcaram 2012 com seu talento, competência e dom de transformar.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

PRESENTE DE NATAL


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Estrada de terra apenas marcada pela luz clara da lua. Em meio a mata nativa, a estrada forma uma encruzilhada. Terra macia, arenosa. Raramente transitada. Apenas o vento em ritmo dançante movendo os galhos altos. Vez ou outra uma coruja ou alguns morcegos. De resto é silêncio. Silêncio pesado. Cortado apenas pelo murmúrio de três pessoas. Com barro e a terra de uma sepultura uma bonequinha estava sendo, cuidadosamente, modelada. Na região da barriga, em uma cavidade, depositou-se um objeto pertencente a moça ali representada. Um redemoinho circulou a oferenda onde a boneca repousava. Palavras firmes.

- Se acredita em Deus apoie-se nele, pois vai precisar. Se é que Ele poderá ajudá-la...este é o meu presente de Natal...

Em sua casa a moça não supõe o que acontece. Está estendida em sua cama, satisfeita. De certa forma, acredita-se invulnerável tanto com relação à influências espirituais, quanto em suas ações profissionais. O marido ronca ao seu lado. Em outro quarto os filhos adormecidos mal se movem. Uma gata no cio sobre a casa promove certa histeria, emitindo sons assustadores. No meio da madrugada uma janela começa a bater ritmada pela pressão do vento. Levanta-se, olha a casa, sorri para a janela. 

Está acostumada ao cumprimento social de ir à missa, mostrar-se bem vestida e revelar-se penitente e devota aos olhos de seus amigos e clientes. Em sua mesa, na gerência da empresa, uma imagem da Virgem e um terço estão visíveis e sempre são tocados, teatralmente, no atendimento às pessoas, comovendo-as, em especial as senhoras mais velhas que percebe vulneráveis e que se encantam com estes gestos premeditados.

O dia amanhece como todos os outros e outros se sucedem. “Entre o plantio e a colheita há um tempo de espera”. Assim, confiante ela prossegue acreditando-se senhora plena de seu destino e do destino de várias outras pessoas, manipulando dados e informações, fornecendo relatos parciais ou mentindo para atingir seus objetivos. A imagem de boa moça, dedicada e espiritualizada alicerça suas ações calculadas e desonestas.

Meses atrás ela deparou-se com homem que julgou também fácil de utilizar para seus projetos. Mentiu, enganou, sorriu, desejou Feliz Natal : “Aproveito para desejar Boas Festas a você a sua mãe, que é muito querida por nós aqui na agência”. Olhar piedoso e certa de seu convencimento. Naquele momento, contudo, traçara seu destino. Estava diante de um feiticeiro. Alguém que lia além das palavras, dos gestos. Lia a alma. Em pouco tempo teve ele em mãos vários dados que poderiam criar-lhe vários problemas administrativos, mas perder o emprego ou iniciar um processo seria pouco. Ele desejava-lhe todo o mal.

Foi assim que retirou de sua mesa um objeto que talvez nem percebesse ou valorizasse. Mas o objeto estava impregnado de sua energia. 

“Os chineses têm igualmente perfeita consciência da  possibilidade  de  fazer  mal  a  um homem causando dano ou lançando uma maldição sobre uma imagem dele, especialmente se nela estiver escrito seu nome” (O Ramo de Ouro – Sir James George Frazer)

E assim cada ingrediente foi selecionado para que atuassem sobre a vida dela. Gradativamente, como se apenas uma sucessão de desgraças, um período mal que pudesse estar atravessando. Como seu socorro seria o padre, estava convicto de que o mal não seria desfeito e iria consumi-la dia a dia.

O toque no telefone na empresa e voz atribulada do outro lado da linha denunciou que algo grave ocorria. O filho se engasgara na escola enquanto comia uma coxinha. Na coxinha um osso de frango. Pronto-Socorro. Apenas um susto. Estava bem. O pequeno osso fora removido com êxito. Ao saírem do hospital, um devaneio e a criança foi atirada ao longe por um veículo em alta velocidade. Novo corre-corre, lágrimas, grito, desespero. A criança não resiste.

A mulher cai em prostração. O marido a acusa por negligência. O menino estava assustado, atordoado, deveria ter estado próxima dele. Passa a ignorá-la. Cria horários para não encontrá-la. Entra e sai da casa sem vê-la. Passa a dormir no quarto do menino. 

Meses de turbulência. Clientes agressivos entram em cena, onde seu ar teatralizado não convence. O marido anuncia que deixará a casa. Conhecera uma pessoa. Não a amava mais. Familiares interferem, o padre o procura, amigos aconselham. Ele a abandona.

Casa enorme, em espaço e silêncio. A vida pouco a pouco lhe arrancava o que mais amava. Um sentimento profundo de tristeza a devassava. O toque do telefone parecia-lhe um tormento. Sinal de más notícias. Prenúncio de tragédias. E realmente foi. Sua mãe fora internada às pressas. Idosa, parecia não resistir.
A moça clamava aos céus para que também não retirasse quem mais amava. Mas os céus silenciaram. O féretro seguiu com poucos presentes. 

Pensou em deixar o trabalho, mas ele lhe dava vida. Apesar dos sofrimentos adquirira vícios, com seus clientes continuava agindo dissimuladamente.

O homem retorna à agência. Finalizações. Conversas fúteis e profissionais. Ele a observa. Está magra e abatida. Possível divisar as olheiras, as mãos trêmulas. Esforça-se para ser natural. Ele lhe cumprimenta. Mão firme. Olhos nos olhos, que ela disfarça. Nunca olha nos olhos. Sente o calor dele. Mãos ásperas. Fortes.

- Você deveria deixar a agência..., comenta ele reticente.

Ela ignora. Tem o controle de tudo. Não depende da aprovação de ninguém. Ela decide. Ela age. Ela faz as regras.

O homem sai com o tercinho que ela mantém em sua mesa. Imperceptível. Horas mais tarde ela o procurará, mas não vai encontrá-lo. Ele será útil.

Pesadelos tomam conta de suas noites. Acorda suada, febril, agitada. O filho pede ajuda está em um lugar sombrio e lodoso, sente fome e frio, sofre com a solidão e teme a escuridão. Outras noites o marido é esfaqueado pela nova esposa. Em outras ao chegar do trabalho encontra a casa em chamas.

Algumas amigas aconselham que adote um cachorrinho ou gatinho para suprir sua tristeza. Mas não gosta de animais. A casa é bonita, seus tapetes e sofás custaram caro – desvio da conta de clientes – entre outros meios lucrativos que encontrou.

“Há pessoas que nós nunca podemos ofender com impunidade, e se nós o fizermos o dano é mortal, nós começamos a morrer em seguida da ação impensada” (Dogma e Ritual de Alta Magia - Eliphas Levi)

O psiquiatra passou-lhe a ministrar drogas potentes, deu-lhe afastamento. A mulher, contudo, não se sentia tranquila em deixar sua posição. Fosse pelo status, fosse para que um possível sucessor não identificasse os procedimentos ilícitos que sempre adotara. Seu interior latejava, ardia em fogo, sentia-se acuada. Sua vida ruía sem que pudesse se apegar a qualquer coisa que construíra até então. Onde pisava se tornava areia movediça. 

Um cartão chegou à sua caixa de correios. Esquecera-se de seu aniversário. Um belo cartão. A mensagem. Celebre os dias que lhe faltam. Feliz Aniversário. Sentou-se trêmula e fatigada. Talvez  faltassem poucos dias. O suicídio começara a fazer parte de seus pensamentos, de seus planos. 

Ele acaricia uma grande rosa vermelha e aveludada. Junto a ela tangerinas e outras oferendas. A lua cheia brilha. Intensa. Apenas o ruído dos grilos e pererecas.

- Aqui findam seus dias, Eliane...para você uma rosa...

A mulher tenta dormir em um sono agitado. Uma vela que lhe aconselharam acender para seu anjo de guarda tomba com o vento e suas chamas se alastram pelas cortinas. O fogo se propaga rapidamente. A dose exagerada de calmantes lhe bloqueia a percepção. Em pouco tempo é consumida pelas labaredas.


Antologia Brasileira Diamantes III



Caros amigos, estou fazendo parte desta obra muito bem esculpida por Fídias Teles juntamente com outros colegas escritores.

domingo, 23 de dezembro de 2012

INCERTEZA


fotosbossini.blogspot.com

na agonia da tarde em que o esplendor do dia se esvai
fito o horizonte mergulhado em tons rubros de poeira
em mim cai o pesar tardio de uma vida periférica
na soleira da porta me recosto no silêncio que não me sai
olho entristecido a existência quimérica que teci
sonhos que delineei com esmero, sorrisos plácidos e tolos,
enalteci desejos impalpáveis, mergulhei em águas esquecidas,
e consumido fui pelo ácido impiedoso da realidade
sonhos fúteis em sublimes momentos de minha doce vida
livros débeis de páginas amarelecidas, apagadas, iletradas,
ocultando em folhas desgastadas registros vagos
de alguém que esperou e assim como a tarde, o dia expirou,
a vida se foi, o vento levou, a madrugada gélida acolheu-me
recém-nascido, sorriso idiota, olhar vago contemplando o nada,
quisera eu ter saudades de meus tempos idos
eles, porém, nunca foram vividos...foram regurgitados!
a tarde desmaia no colo da noite enquanto contemplo mais um dia
espero, espero, espero que algum dia aconteça
isso nos difere dos outros animais, aprendemos a imobilidade da incerteza.


sábado, 22 de dezembro de 2012

A todos que acompanham este blog FELIZ 2013 !!!


O REVEILLON NA CASA GRANDE


http://imagens-de-fundo.blogspot.com/2011/07/imagem-de-fundo-banco-virado-para-o-rio.html

Na casa grande, no alto da Rua General Freitas, acobertada por um descomunal sobreiro de raízes salientes e tronco de diâmetro impressionante, as mulheres se agitavam sob o olhar absorto de Jeremias, o cão. Ele desatento, ignorava a agitação que imperava na residência. Moravam cinco mulheres que, embora o tempo tivesse passado célere e deixado marcas visíveis, estavam entusiasmadas com a proximidade das comemorações do novo ano. Tal momento era sempre aguardado e tratado com primor. Momento este em que filhos e sobrinhos retornavam. Riam, comiam, bebiam, narravam estórias improváveis e retornavam ocasionalmente durante o ano.

Naturalmente, embora morassem juntas cada uma possuía um temperamento muito particular. Haviam nascido e crescido naquela casa enorme, alta, de cômodos amplos e um quintal que mais parecia uma chácara, emoldurado com um conjunto de árvores frutíferas e arbustos floridos. Ali Jeremias repousava. Jeremias era um perdigueiro, cuja descendência acompanhava a família. Mas enquanto ele cochilava as mulheres refletiam sobre o necessário para a ceia. Leitoa, salpicão, arroz com amêndoas, salada tailandesa. Frango cisca para trás então não convinha estar relacionado. Mau agouro. Nada de energia negativa para entrar o ano. O inevitável conflito. Duas das irmãs queriam pato. Outra carneiro. Cardápio difícil e que exigia ser bem pensado. O ano deveria ser bom.

E se o mundo acabasse? Melhor seria depois da ceia. De barriga cheia e satisfeitos. Difícil seria alçar aos céus com tamanho peso. Provavelmente herdariam uma propriedade no purgatório. Para todos os efeitos era algo previsto, muitas pessoas se preparavam para isso, com mantimentos para o caso de sobrevivência e com orações caso sobrasse apenas a alma. Dentre as irmãs, Georgina não acreditava em nada disso. Injuriava-se pelo fato de algumas pessoas se entregarem a crenças ameaçadoras fosse com inferno, fim de mundo ou um ser ameaçador e caprichoso. Isaura benzia-se aflita. A irmã queimaria nos mármores infernais. Lúcia ria. Ria desde menina. Pouco entendia das coisas da vida e muito menos das coisas da morte. Silene ocupava-se com a lista de compras, compenetrada. Laura não pendia nem para um lado nem para o outro. Na dúvida, era melhor esperar para ver.

O primeiro carro chegou abarrotado de gente. Isadora,  filha de Isaura, com marido, dois filhos, a nora e um rebento de poucos meses que não fazia a menor ideia do significava toda aquela agitação. Georgina, Silene e Lúcia optaram por ficarem solteiras. Laura, após um casamento incerto e a morte do marido, reuniu-se com as velhas irmãs.  Izildo, o marido, era fascinado por essa estória de final dos tempos. De alguma maneira ansiava por ele. Parecia estar nó íntimo o desejo sôfrego pelo fim. Quem sabe começasse de novo e melhor. Novo Adão, nova Eva, agora com mais experiência para repovoar o mundo. Georgina sorria pelo canto da boca. Há quanto tempo o homem perambulava pelo mundo. Civilizações começaram e diluíram. As sociedades se sucedem, tecendo uma indecifrável colcha de retalhos. Um copiar e colar onde crenças e modelos são esculpidos para atenderem novas concepções de mundo.

- Então acaba!, gritava Izildo buscando perturbar Georgina.

A velha senhora sorria complacente como que orientando uma criança. As coisas são mais antigas do que pressupomos, regurgitava ela. Mas o mundo não vai acabar. O fato é que um dia faraós foram filhos de deuses, um dia as pessoas se curvavam para Ishtar e Ixchel, um dia se acreditou que o poder da legião romana era imperecível, tudo passa, dizia parecendo mergulhar no tempo.

Mas a questão primordial era que o mundo acabaria para alguns leitões, talvez patos e carneiros que se estenderiam inertes e saborosos sobre a extensa mesa do réveillon. Lúcia queria ponche, gostava da bebida. Silene anotou champagne e vinho, refrigerantes e ingredientes para fazer meia de seda. Nunca faltava meia de seda. Tanto nela quanto na ceia.

Isaura passeava com o bebê pela casa, afinando a voz e caprichando na utilização de palavras erradas e incompletas, procurando fazer-se entender pela criança que a olhava atenta. Quem seria essa louca?, talvez questionasse. Jeremias continuava em seu cochilo, nem dignando mover-se para receber os recém-chegados. Eram da família, não havia com que se preocupar. Antes o descanso na terra úmida à sombra dos arbustos. Por outro lado, as mulheres pareciam necessitarem gritar com suas vozes agudas para se comunicarem, o que o tiraria da deliciosa letargia que buscava preservar.

Aportaram ao grande portão descascado pelo tempo, duas sobrinhas e um outro sobrinho a tiracolo com sua noiva, grávida e inchada, imensa com os pés similares a um pão feito em casa. Laura exasperou-se. A criança nasceria a meia-noite no casarão. Um ungido. Um avatar. Georgina ironizou que poderia ser o substituto de Cristo, botando fim à era cristã. Isaura benzeu-se inúmeras vezes pelo sacrilégio. Docinhos, sorrisos, muitas gargalhadas. A família se reunia para encerrar mais um ciclo. Mal se viam durante o ano. Na verdade nem compareceram quando Judite, a matriarca, mãe das cinco irmãs falecera. Os sobrinhos eram filhos de Leomar, que havia viajado para o Belém do Pará com sua mais nova amante, Conceição. Para ele o ciclo realmente estava recomeçando. A esposa havia falecido há alguns meses, mas a amante era bem mais antiga, embora negassem interrogativos e surpresos.

Como todo encontro familiar fofocas se entremeavam com lembranças, expectativas e pausa para alguma cena da televisão permanentemente ligada. Laura, entre suspiros, revelou que gostaria de passar o réveillon no mar, jogar flores e champagne no mar. Isaura benzeu-se aterrorizada. Macumba. Feitiço. Coisa de gente atrasada! A irmã perguntou se fazer uma sopa de lentilhas para dar sorte, acender a vela para o anjo de guarda, mastigar as sementes de romã – já reservada – não partia do mesmo princípio. Izildo interferiu brincando. Vamos tomar um banho de erva de cheiro e se preparar para o novo ano! 

Preparativos na cozinha. O caminhão trazendo as compras estacionou na porta da casa. Caixas e caixas de mantimentos. Cada ingrediente, cada item, era acariciado entre sorrisos, como relíquias, pelas irmãs. Tudo era feito com muito carinho. Pratos perfumados que agitavam a vizinhança. 

Palmas no portão. Enfim, Jeremias desperta e late, dirigindo-se à entrada da casa. Um mendigo. Pedinte. Mal cheiroso. A senhora tem alguma coisa? Estou com muita fome!, solicita com as mãos, a voz e o olhar cansado.

- Não tem nada, não, meu senhor!, dispara Silene.

O homem se afasta em alguns passos e Lúcia o persegue com um prato bem preparado nas mãos. O senhor pode levar o prato e o talher, complementa. Deus abençoe a senhora! Ele senta-se para comer à sombra do sobreiro. Jeremias acha por bem deitar-se próximo ao portão, em guarda, para o caso da casa ser invadida ou atacada pelo transeunte.

Lúcia é assim, adverte Silene. Dá até as roupas do corpo. Volta-se, então, para as compras desembalando tudo e distribuindo os alimentos pela geladeira, freezer e armário. Morde algumas uvas suculentas e decide colocar uma música. “Não tem tradução”, de Aracy de Almeida. Os sobrinhos abanam a cabeça zombeteiros. Mas as irmãs dançam num reencontro. Cantam juntas. Alegres. Georgina fala aos sobrinhos que um dia as músicas que ouvem hoje também chocarão seus filhos e netos. Mas quem viveu aqueles momentos sabem o significado delas.

Contudo, terminada a apresentação de Aracy, os mais jovens assumiram o controle e “Louquinha” ressoou pelo casarão com Mc k9. Foram, então, buscar cerveja para iniciar as celebrações do novo ano. A festa de Jano.

Jeremias recebeu um belo fêmur comprado no açougue especialmente para ele. Gargalhadas e a tristeza natural de quem tem a barriga cheia. Lúcia mantinha em seu guarda-roupas uma caixa de remédios para socorrer casos de indigestão e outros males decorrentes dos excessos das datas festivas. Apenas não eram permitidos fogos de artifício e rojões para que Jeremias não fosse perturbado. 

De qualquer maneira, reunidos, mesmo que o assunto não fosse externado, cada um renovava seus compromissos consigo mesmo. Cada um a sua maneira. Em determinado momento, Laura recolheu-se ao seu quarto. Reclusa chorou. Sempre desejara ter sua própria família, com marido, filhos e netos. Com a morte rápida e trágica de Noel teve como única opção voltar para o alto da General Freitas e desistir de seus sonhos. Entretanto, um novo ano recomeçava e com ele, em sua alma sofrida, reluzia fosca uma indelével esperança.

domingo, 16 de dezembro de 2012

OVO NEGRO


http://animaisbemestranhos.blogspot.com.br/2010/04/peixe-vaca.html

“No principio não havia nada. Apenas caos e escuridão. Todo o universo era um imenso ovo negro, e dentro dele estavam Yin e Yang, opostos que coexistem mantendo um delicado equilíbrio. Dentro deste ovo havia, também, um terceiro elemento: um espírito desenvolvendo-se em total silêncio”.
(Mitologia Chinesa)

 Somente após décadas da descoberta do planeta Kepler 22b foi que a sonda espacial Dercy 102 pousou em sua superfície com a tarefa de coletar materiais para análise. Estudos realizados demonstraram atmosfera similar a da Terra, embora com massa 2,4 vezes maior. As teorias de criação do mundo foram abaladas, apesar de entidades religiosas buscarem contornar os fatos, em especial procurando impedir a divulgação junto aos fiéis. O fato é que imagens coletadas de Kepler 22b colocaram a prova crenças e conceitos tanto religiosos, quanto científicos. O trabalho de pesquisa e exploração uniu China e Brasil em uma busca quase insana pelo indevassável Universo.

A Estação Experimental, denominada Lien-Eiruba, passou a ser atenção do mundo, localizada em Campos do Jordão, tornou-se área militar, gerando especulações da imprensa e originando livros que se tornaram best-sellers dado os assuntos polêmicos e recheados de mistério. A ansiedade pela exploração do planeta também passou a gerar divagações das mais diversas. Encarregados da missão, generais Carmelo Darago e Guo Chang, mantiveram o suspense, selecionando imagens e cuidando pessoalmente dos textos a serem divulgados.

As primeiras amostras que chegaram impressionaram a cientista Lian e o geólogo Marcelo. Estavam estupefatos pela quantidade de âmbar azul localizada. A sonda identificava grande quantidade do material. Outras pequenas sondas carregadas já haviam sido lançadas. A quantidade contida nas pequenas sondas superava toda exploração existente na Terra. A ideia de levar trabalhadores para Kepler 22b e explorar suas riquezas aumentava a cobiça dos generais e seus presidentes. Com atmosfera similar, bastava encontrar meios de burlar a gravidade, fato que as sondas comprovavam.

Guo Chang inspecionou os carregamentos que chegavam abundantes. Passariam pelos estudos geológicos, análises químicas e biológicas, intencionando detectar alguma forma de vida, mesmo que bactérias. 

Marcelo estava divorciado, após passar um longo tempo dependente químico e discussões violentas com a esposa Cássia. Do casamento nasceram Thiago e Eleonor, com dez e doze anos respectivamente. Após sua recuperação as relações com a esposa se mantiveram ríspidas e escassas, atendendo ao necessário. O sonho de Thiago era voar pelos céus identificando novos planetas, luas e estrelas. Eleonor, com sua boneca, havia se apegado a mãe e estava inclinada a Biologia Marinha.

Por sua vez, Lian, filha única de Guo Chang, era determinada, inflexível e rigorosa em seus conceitos, atenta exclusivamente ao trabalho e focada na exploração de Kepler 22b. As caixas de âmbar azul a seduziram de tal forma que passou a esquecer-se de dormir e alimentar-se, precisando ser forçada pelos auxiliares para que garantisse sua sobrevivência.

A madrugada revelou algo ainda mais magnífico. Enquanto manipulava as resinas chegadas do planeta distante, Lian verificou incrustado no âmbar um material negro. Efetuando a limpeza teve em suas mãos uma pedra, similar à obsidiana, negra e reluzente na forma de um ovo de gansa. Seu achado a fez ligar imediatamente para Marcelo, que se encontrava em pleno ato sexual com Anna Marine, com quem eventualmente se encontrava e terminava suas noites. Voou para o laboratório diante da descoberta.
 
O objeto era de extraordinária beleza. Compacto. Reluzente diante da luz da branca. Ultrassons mostraram compartimentos internos concêntricos. Passaram semanas debruçados no estudo do material. O mineral era desconhecido. Casualmente Marcelo percebeu que a incidência de diferentes irradiações de luz revelavam seu interior de forma particular. Sob a exposição da luz azul visualizava-se em seu interior uma espécie de feto. O espantoso é que o feto parecia crescer a cada observação. 

Pesquisas apontaram a presença de bactérias no âmbar e que proliferavam rapidamente em temperaturas mais baixas. Introduzidas em cobaias, as bactérias tornavam os animais resistentes a doenças e os revitalizavam, de maneira a mantê-los vivos por tempo indeterminado. Uma reunião com os presidentes dos dois países se fez urgente. Estavam a um passo de descobrir a imortalidade. Um grupo de pesquisadores voltou-se ao estudo das chamadas Liannus imortalis. Os resultados demonstravam-se assustadores.

Enquanto pesquisadores tocavam a imortalidade com seus potentes microscópios, uma série de mazelas assolava a população mundial. A fome, as guerras, doenças novas contracenavam com antigas como a cólera, o sarampo e a tuberculose, que retornaram consumindo milhares de vidas. Embora os laboratórios já tivessem em mãos antídotos suficientes para dizimar as doenças e os governos detivessem recursos para saciar a fome, o lucro mostrava-se o sinalizador para ações governamentais, acima de qualquer outro conceito ou valor.

Perante os estudos da Dra. Lian o ovo negro permaneceu imerso em acrilonitrila. O ovo estava gerando uma criatura. A primeira forma extraterrestre a nascer e ser estudada. Quando eclodiu surgiu um pequeno ser semelhante ao cruzamento incrível de uma Acanthostracion Quadricornis com uma Alvinella pompejana. O ser chamou a atenção de todos e mobilizou cientistas. A forma de vida pareceu estar tranquila e segura mesmo diante do olhar curioso das pessoas. Os pesquisadores, por sua vez, sentiam-se em profunda paz diante da criatura, conduzidos a um torpor e estado de meditação ou transe adentrando um estágio de sobreconsciência. O fato de se detectar obnubilação em alguns cientistas predispôs os generais a convocarem psicólogos e parapsicólogos para um outro estudo. Algumas pessoas eram levadas a um estado de amência produzindo medo a todos que possuíam acesso àquele ser cósmico.

Marcelo estava confuso e curioso. Aproximou-se e fitou profundamente aquele pequeno ser. Qiáo fú wǎ. Repetiu ele várias vezes o apelido que haviam dado ao E.T.iznho. Inofensivo. Pacato. Esculpido em um azul cintilante. 

 Qiáo fú wǎ olhou Marcelo como se tivesse identificado algo especial. Aproximou-se do vidro arrastando graciosamente. O moço pareceu sair de si e mergulhar-se em si mesmo. Lembranças. As discussões com Cássia e os arquivos mentais dessas discussões em seus filhos. Em um lapso de segundos pareceu entender os motivos e a forma de raciocínio de cada um dos envolvidos, associando as referências, experiências, sonhos e expectativas de sua esposa e filhos. Sentiu-se tolo em suas palavras e agressões. 

Nesse ínterim entendeu sua relação com Anna Marine, desde velhos tempos de infância, quando Anna ainda se chamava Mário. Todos os seus pensamentos se clareavam. Compreendia ter acessado uma consciência superior que tudo sabia, compreendia e pulsava em amor infinito.

Foi despertado aos chacoalhões por Dra. Lian. Já era o momento de fechar e blindar o laboratório. Apenas não perceberam a presença de Eva oculta nas sombras dos grandes armários. Quando a última luz apagou a moça emergiu das sombras e tendo em mãos uma lanterna aproximou-se de Qiáo fú wǎ. Ele demonstrou aguardá-la. Hipnoticamente ela abriu a cela em que se mantinha prisioneiro e caiu em convulsões. A criatura escorregou por entre os esgotos.

O desaparecimento do pequeno kleperiano acionou a defesa de elite dos dois países. Aos poucos, contudo, os noticiários alardearam mortes instantâneas de pessoas e animais. As pessoas aturdidas suicidavam-se em massa. Animais pareciam ter enlouquecido. Exames na represa que abastecia a cidade anunciaram a presença de elementos químicos similares ao da criatura. Estava contaminada.  Qiáo fú wǎ havia se refugiado na represa. Peixes começaram aparecer boiando e algas azuis disseminaram-se abundantemente. A presença de chuvas e a redução da temperatura gerou preocupações, pois o transbordamento da represa poderia contaminar ainda outras fontes.

Para desespero coletivo, Carmelo Darago e Guo Chang reuniram a equipe para apresentarem dados de pessoas contaminadas a partir de água de poços e vários rios e lagos próximos. A praga se alastrava em progressão geométrica. Fotos de satélites mostravam as algas azuis como fractais em vários pontos dominando a região.

A Dra. Lian informou que o estudo com as bactérias havia evoluído e testes demonstravam que seria o melhor antídoto contra as mortes das pessoas e a única para conter o próprio ser que as provocava. De alguma forma, ao que parecia o âmbar azul e as bactérias mantinham o ovo negro latente em Kepler 22b. Guo Chang e Darago não concebiam a ideia de abrir mão de tal descoberta. Agora entendiam as fotos de Kepler 22b revelando cidades abandonadas, apesar das construções monumentais.

O celular de Marcelo anunciou emergência. Os filhos estavam contaminados e encontravam-se em estado de histeria. Cássia mostrava-se desesperada e, vencendo os próprios sentimentos, resolvera ligar para o ex-marido. A morte dos filhos ocorreria em alguns dias. Desesperado, procurou Dra. Lian para que aplicasse o antígeno nas crianças. A recusa foi imediata. Aquele era um projeto secreto e não poderia ser utilizado sem permissão superior.

Encontrando a negativa de todos os superiores voltou para a casa onde encontrou os filhos em situação deplorável, extremamente pálidos e suando em abundância. Como sempre buscou os conselhos e o apoio de Anna Marine. Destemida e corajosa organizou um plano para roubarem o soro.

Madrugada alta, os dois adentram a área de segurança. Agredindo guardas, atirando quando preciso e golpeando-os de surpresa, tomaram em suas mãos algumas cápsulas. Cães de guarda os localizaram e passaram a persegui-los. Anna Marine foi destroçada por três deles. 

Marcelo chegou a casa já ao amanhecer, certo de que não poderia retornar. As câmeras de segurança o haviam registrado e naquele momento o exército estava em seu encalço. Injetou uma dose em cada filho, na esposa e em si mesmo. Fugiu. Somente então percebeu a desolação. Pessoas esqueléticas e alucinadas correndo pelas ruas. Corpos estendidos sendo consumidos lentamente pelos urubus. Pessoas pedindo ajuda presas em suas próprias casas. Nada mais tendo a perder entendeu que deveria voltar ao laboratório e lançar as cápsulas na represa tentando conter o intruso.

Escondido próximo à área de segurança foi surpreendido por Lian com uma mochila repleta de cápsulas.
 
- Não pergunte nada, apenas me siga – resmungou ela, rápida como um felino por entre carros e muros.
 
O entardecer refletia o sol, em total descaso, sobre a imensa lagoa. As algas formavam belíssimas figuras em nuances azuis. Figuras venenosas que atuavam na consciência como alucinógenos potentes. Em pontos estratégicos os frascos abertos foram lançados. 

Uma densa chuva iniciou com relâmpagos e trovoadas. As águas agitadas pela chuva espalhavam ainda mais rapidamente o soro, sendo possível ver as algas tornaram-se ebúrneas e diluírem quase que instantaneamente.

De mãos dadas e ensopados mergulharam na Serra da Mantiqueira. O rio Piagui estava contaminado o que levava a entender que muitas outras localidades estavam condenadas. Seria preciso segui-lo e espalhar o antídoto.

Com o jipe wrangler da Dra. Lian percorrendo a região, começou-se injetar nas águas dos rios as Liannus imortalis ou o soro obtido nas pesquisas. Sempre perseguidos por atiradores de elite, o casal desafiava o tempo e a própria vida.
 
Próximos ao rio Paraíba do Sul, Marcelo foi ferido na coxa por um tiro. Dra. Lian arrastou-o para o jipe e saíram a toda velocidade. Após quilômetros. Marcelo comentou sorridente que a bala fora expelida e o ferimento cicatrizado. De alguma maneira o antídoto também o mantinha invulnerável.

Reunida a imprensa informaram que a situação estava controlada, cientistas brasileiros e chineses haviam encontrado o antídoto para o mal que contaminava as águas, certamente algum produto químico despejado por uma indústria. As providências estavam sendo tomadas para que o fato fosse controlado e não voltasse a ocorrer. 

Darago e Guo Chang não tiveram escolha a não ser apoiar as declarações dos pesquisadores.

Meses se passaram, levando todos a retomarem suas vidas normais. Marcelo e Lian decidiram se casar. Thiago e Eleonor entraram com as alianças em uma cerimônia campestre e com a presença das altas autoridades brasileiras e chinesas. A lua de mel seria na Tailândia.

Hospedados no hotel, ouviram gritos de pavor, pessoas dementes corriam pelos corredores. Magras, pálidas, contaminadas. 


sábado, 8 de dezembro de 2012

A LIBÉLULA


Ixchel - Deusa Maia da Procriação e da Lua

Yèyé olomi tútú

Uma libélula entrou pela janela semiaberta da ampla sala de visitas. Voou, ignorando as telas primorosamente pintadas por artistas famosos, as almofadas e a cerâmica ricamente adornada que jazia impassível no cômodo da casa. A janela se abria para um jardim de gramado verde, agapantos floridos e uma pequena fonte desativada – precauções contra a dengue que se alastrava pela cidade. Buscando algo adentrou o corredor e invadiu o quarto onde Ricarda se ocultava, a semi-luz, fosca, opaca e enterrada em suas reflexões. Estava prostrada, sentada na cama, onde cachos de flores azuladas contrastavam com o fundo caramelo da colcha. Os exames uma vez mais deram negativo. A gravidez esperada não se concretizava. Elvio, seu esposo, entre acusações, responsabilizando-a, saíra ruidosamente e, com certeza, somente retornaria altas horas da noite, bêbado e ainda mais punitivo.

Entregue ao seu desespero e frustração não notou que não estava só na penumbra do quarto. Com os olhos embaçados pelas lágrimas apenas rememorava os sonhos de ser mãe, os projetos de Élvio, as cobranças familiares e a crença na constituição da família. Tudo se tornara um peso quase insuportável. Promessas, votos, simpatias. Os médicos afirmavam que possuía um corpo perfeito, saudável, pronto, mas algo parecia atuar para que seus sonhos se diluíssem com a rapidez em que uma nuvem se desfaz no firmamento. 

Como que despertando de um sono letárgico lembrou-se de sua cachorrinha Chel. Precisava conferir a água, dar-lhe a ração e checar sua caminha para a noite fria que se anunciava. Além disso, Chel estava prenha. Seria mamãe. Ricarda não percebeu, conscientemente, que havia um estranho sentimento de inveja minando o seu interior. Como que de maneira hipnótica foi atraída pelo som de passarinhos no ninho protegidos pela frondosa mangueira, clamavam pela mãe que chegava para nutri-los. Uma colmeia. Um formigueiro. Até mesmo as flores denunciavam que em breve gerariam frutos. Tudo se traduzia em maternidade. Somente a ela era negada essa faculdade, aparentemente tão simples e comum na natureza. Quantos filhos teria uma abelha rainha?

O cansaço e a decepção a levaram a mergulhar em profundo sono. O sono traçou-lhe um curioso caminho nas incertas brumas dos sonhos. Despertou em um jardim coberto de flores amarelas semelhantes a papoulas. O local era paradisíaco. O belo céu azul safirino e um vento fresco que a acolhia repleto de carícias. A sensação era de que sempre estivera ali. Uma sensação de comunhão, de plenitude. Uma cachoeira se denunciava pelo seu ruído e pássaros competiam com cantos encantadores. Uma libélula pousou em sua mão. Ricarda sentiu que algo a preenchia. Uma felicidade incomensurável se apoderava de sua alma. Sentiu que seria mãe.

Retornando de seu sonho mágico percebeu que Élvio roncava ao seu lado, vestido e cheirando a bebida. Acomodou-se em seu lado da cama e voltou ao sono, como que ouvindo “está tudo bem”.

Quando acordou o marido já havia saído para o trabalho. Aprontou-se para falar com sua médica, Dra. Noemy. Dada a intimidade contou-lhe o sonho, cheia de esperanças. Novos exames. Ricarda foi intimada a levar Elvio a fazer exames também, apesar de sua resistência e oposição a tal proposta já realizada outras vezes.

Passadas semanas, Ricarda foi visitar sua prima Alamanda. Alamanda era feita de doçura, do tipo mãezona, que se preocupava com todos e buscava oferecer sempre uma palavra de conforto a quem quer que fosse. Mais uma vez abriu seu coração. 

Alamanda convidou-a para almoçarem juntas. Faria um prato especial para comemorarem o reencontro após não se verem a tanto tempo. O prato especial seria ipeté. Um alimento a base de inhame e camarões. Ligou para o esposo e disse que passaria o dia com sua amiga. Foram sorrisos, lembranças e lágrimas. Todas as coisas que são permitidas para duas amigas de verdade.

Ricarda sentia-se reconfortada como naquele sonho entre flores amarelas. Alamanda é amarela. Incríveis coincidências. Maior coincidência foi uma libélula circular enquanto saboreavam um drinque à beira da piscina. O inseto passou a ser o símbolo de esperança. Esperança de ser mãe.

Sentada na varanda via a Lua, agora Nova, em sua beleza inconfundível no céu. Amava a lua. A lua era feminina. Mulher. Mãe da Terra. Ela regia o mar, os fluidos, os líquidos. Nossa Senhora da conceição pisava sobre a lua nova. Talvez seus pés se apoiassem na bela lua naquele exato momento. Solitária como ela. Elvio havia viajado ao México, a trabalho. Tais viagens eram comuns e Ricarda havia se habituado a ter a companhia de suas plantinhas e de Chel. A cachorrinha já acariciava zelosa seus seis filhotes. Estava orgulhosa de sua cria.

O corpo de Ricarda começou a apontar que algo se transformava. Recorreu a Dra. Noemy. Mais algum tempo e a confirmação se fez: uma criança se formava em seu ventre. Elvio quase não acreditou ao receber o telefonema. Desesperou-se pois deveria permanecer no país ainda por cerca de quinze dias. Estava exultante.

Com Arthur no colo, Ricarda olhou a estatueta de Ixchel com que o marido lhe presenteara. Uma libélula entrou no quarto da maternidade, como que verificando se estava tudo bem e alçou voo de volta para fora. Só então, Elvio revelou que havia procurado ajuda médica. De qualquer forma, um milagre. 



Estou fazendo parte da AFAF - confira !

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Pérola - de Humberto Domingos Pastore

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Agradeço o carinho da Cláudia Brino me presenteando com Pérola.
Agradeço ao Humberto pela dedicatória e por compartilhar a doce história dessa gatinha especial.
Na foto está o meu Mustafá!


Caminhada - Vieira Vivo

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Em uma das reuniões do Clube dos Poetas do Litoral, a Cláudia Brino solicitou que cada integrante fizesse um poema citando o nome de, no mínimo, dez livros publicados pelo Costelas Felinas. Aqui está um dos poemas produzidos onde se encontra o Encantamento (uma das minhas obras), expresso com a sensibilidade e competência literária de Vieira Vivo.

Caminhada

A partir da Vila dos Confins
botei o pé na estrada
sonhando em conhecer
até os impérios do sol e da lua

Vivenciei totalmente as quatro estações
e pleno de encantamento
percorri este admirável mundo novo
utilizando a ludicidade
de um jogo de amarelinha
e me senti, finalmente,
de alma aberta.

Hoje, banhado na essência da palavra
posso dizer a todos:
Confesso que vivi!

Caros amigos, Cláudia Brino e Vieira Vivo nossa admiração, respeito e agradecimentos!



Atividades 2013




Posse na ALAF – Academia de Letras e Artes de Fortaleza
Portfólio de Bologna – Literate

Antologia Raízes - Literarte

Antologia Nas asas da Liberdade - Literarte

Antologia Palavras Desavisadas de Tudo – Editora Scortecci

Livro Didático: METODOLOGIA DE ENSINO E MONITORAMENTO DA APRENDIZAGEM EM CURSOS TÉCNICOS SOB A ÓTICA MULTIFOCAL - Editora Scortecci
Publicação do romance JARDIM DAS ALMAS

Antologia Diamantes III – organização de Fídias Teles
Antologia Contos de Hoje – organizadores Abílio Pacheco e Deurilene Souza

Participação na FLIPOÇOS 2013
...e espero finalizar o meu site oficial.







quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

PARTÍCULAS DE MIM


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creio no ritmo dançante dos planetas
a valsa inebriante dos cometas
na pista muda dos mundos paralelos
a escuridão que os moem em farelos

há quem se proclame seguidor da luz
mas nas sombras se refresca e se refaz
conceitos cimentados milênios atrás
que nada ouça mostrar ou se traduz

errante das galáxias em mundos me apaixono
nas areias da Lua me enrosco e reconheço
usando  diamantes de Netuno como adereço
pilhérias e sonhos que cultivo e enalteço

a exuberância da Terra e outras terras que se escondem
entre asteroides velozes e anãs brancas que explodem
mundo pirotécnico de beleza e encantamento
o que sou eu, sentado na varanda, neste momento...?



INCERTEZAS


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"...Só o gato apareceu completo e orgulhoso: nasceu completamente terminado, anda sozinho e sabe o que quer." Pablo Neruda

anestésica apatia que pulsa sonolenta
calada e omissa diante das contendas
silêncio que simula ação e consciência
cegueira que por opção se faz demência

avatares voam pelos céus e se revelam
reescrevendo-se mutantes na história
sucedem-se deuses e suas tolas glórias
vultos temporários que mudos imperam

correm os tempos e seus mitos travestidos
mosaico de crenças ancestrais que se misturam
moldando na face do hoje deuses esquecidos
simulando verdades alvissareiras e desnudas

o mundo é uma renda que se faz bordada
cada ponto é esquecido e vê-se apenas a forma emoldurada
a linha que se faz no tempo é vista tão somente naquele momento
muda não fala, feita para tecer e observar o que se cala

somos deuses abandonados e esquecidos
vagando inconformados para a velhice e a morte
desenhando e escrevendo em seus rabiscos
algo oculto no além que talvez nos conforte



sábado, 1 de dezembro de 2012

O CONSELHO DA FOICE


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há uma questão que aflige muita gente
o que faria você se fosse morrer amanhã ?
entraria em depressão, ficaria indiferente?
comeria tudo que quisesse sem cobranças ou estresse?
sairia pelo mundo qual cigano para onde pudesse?
faria amor como uma cortesã, sem pudores ou cautelas?
rezaria com receio daquilo que ainda não veio?
lamentaria o fim de tudo e choraria por sua mazelas?
refletiria   sobre o mistério que em breve poderia estar frente a frente?
plantaria uma árvore, um arbusto, uma semente?
escreveria recordações vividas antes de dissolvidas pelo tempo?
diria te amo para quem nunca revelou seu sentimento?
se flagelaria por culpas ocultas e escondidas nos porões da vida?
celebraria ter vivido com tanta graça e seguiria para onde quer que fosse?
o fim pode ser uma foice, mas a foice gera brotos de recomeço.



O DIA DE QUEM NÃO VIU


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vozes avessas balbuciam ritmadas
noite se faz no quarto em trevas
o vento balouça o lustre

o sabiá admira a pitanga rubra
cheiro de frutas no ar
o gato balouça o rabo olhando o pássaro

o carro passa acelerado pelo asfalto ardente
não vê o quarto escuro
nem percebe o bote do gato sobre o sabiá

a vida passa enquanto centenas de coisas acontecem
simples ou ocultas em articulações diversas
o dia sempre está repleto de curiosidades

cada dia tem sua própria importância



MACAUBEIRA


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minha vida tem o gosto das macaúbas
saborosas em amêndoas, na altivez de seus cachos,
derrubada a pedradas insólitas por mãos ásperas
queda livre em vento no ar devasso que a acaricia
o impacto do solo, o salto, o percurso de fuga

a macaubeira isolada e de espinhoso caule
solitária cultiva seu fecundo cacho
forte além das chamas, do sol causticante,
distante do fresco e caudaloso riacho
é saraivada de pedras por suas castanhas

minha vida tem o sabor das macaúbas
desafios de cada dia na planície abandonada
impávida e bela sobre um condomínio de saúvas
nobre, quieta, muda, apaixonada

beijo a aurora antes de todos e despeço-me do dia
no esplendor de cada entardecer
ouço mais sons e vislumbro mais belezas
te nutro, te aconchego e te lanço esférico meu fruto
para que de mim não te esqueças.



POESIA FEITO VIDA

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cada crepúsculo anuncia um dia que se esgota
horas saboreadas com alegria e entusiasmo
minutos emperrados e ensopados de desencanto
o futuro que tanto ansiava se tornou ontem
tão rápido e fugaz que continuei o aguardando
em cada crepúsculo se esvaem os dias
seguidos um do outro qual gado no abate
com os dias se diluem os nossos ansiosos dias
dias de nossa vida tão curta e incompreensível
vida encantada, superada e fortuita
poesia feito vida, decepcionada e carcomida,
cada crepúsculo anuncia um dia que se esgota
ampulheta atrevida, intangível e rigorosa
mais um dia em que me faço ou me deixo
me alegro, celebro, ignoro ou entristeço
o futuro que tanto ansiava se tornou ontem
foi-se, escafedeu-se, arrastado pelas lembranças
lembranças de um futuro que se foi
recordações antigas que vislumbro no amanhã
um amanhã que talvez não tenha crepúsculo.



AS DORES DE EDILMA


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A tarde em meio quando Edilma fitou uma vez mais o relógio dependurado na parede. Ele sempre anunciava dor e sofrimento. As horas corriam para anunciar o momento em que o marido estava para chegar. Gustavo saía cedo, sempre ruidoso, despertando a esposa e filhos com seu temperamento irascível. Retornava para o almoço, de onde extraía motivos para criticar a família. O pó nos móveis, a calçada mal varrida, a comida sem temperos, o cachorro exageradamente festivo, a criança despenteada. O final da tarde era prenúncio de outros maus tratos  não apenas verbais, mas complementados com agressões físicas ou a destruição de um móvel, de uma louça ou algo que Edilma muito apreciasse. Por vezes, cortou árvores e arrancou arbustos apenas por ouvir elogios da esposa pelas flores, frutos ou viçosidade.

Exausta e abatida, com auto estima em declínio e sentindo-se o pior dos seres, Edilma decidiu botar fim aquela relação. Estava disposta a pagar todos os preços e a enfrentar todos os sofrimentos e ameaças, afinal era esse o seu cotidiano. A morte de seu pai, Angelo, deixando-lhe uma casa em lugar distante era uma esperança, embora untada com a dor e a certeza de estar realmente só.

Gustavo chegou demonstrando sinais de embriaguez, esbravejou, acusou-a de uma dezenas de coisas, examinou-a externando o quanto perdera a beleza e a sensualidade e relatou relações com outras mulheres, buscando evidenciar o quanto ele a rejeitava. Pela manhã, a mulher, com o coração aos saltos, trêmula e insegura, disse-lhe que não poderiam continuar juntos. Iria embora com os dois filhos. A reação de Gustavo era esperada. Esmurrou-a. Humilhou-a. Se fugisse seria encontrada e morta.

- Te encontrarei nem que seja no inferno!, garantiu ele fora de si, esmurrando a mesa e chutando cadeiras.

As crianças choravam amedrontadas, enquanto Gustavo deixava a casa aos passos firmes e olhar ameaçador. Edilma estava consciente de tudo que deveria enfrentar, mas atreveu-se. Juntou algumas roupas e das crianças, rumou para o ponto de ônibus. De lá, a rodoviária e, quem sabe a liberdade e a paz para si e seus filhos. Tiago, o menino, mais velho, e Luciana, a menininha.  A viagem seria longa. O tempo todo os filhos perguntavam por que o pai não iria viajar também. Os olhos marejados de Edilma fitava a paisagem trazendo lembranças dos bons tempos de namoro e primeiros anos de casamento. Tudo indicava ter o casamento perfeito. Aos poucos, contudo, o homem gentil e atencioso, transformou-se. Agressivo, esnobe, infiel e sarcástico, buscando inserir a cada dia um motivo para que Edilma se acreditasse feia, inútil, péssima esposa e mãe.

Um taxi levou-a até a antiga casa. Seus pais eram separados. A mãe falecera nos primeiros meses em que Edilma se casara e seu pai se mantivera distante, pois segundo ele, conhecia a índole de Gustavo e desaprovava a união. Dessa maneira, nem Edilma, nem Gustavo conheciam a residência paterna. Era um refúgio. A casa estava localizada na mata. Era uma pequena chácara perdida no tempo. A casa simples, porém confortável, trazia promessas de felicidade.

Alguns meses se passaram e Edilma acostumara-se à nova vida. Com os parcos recursos deixados por sua mãe e seu pai poderia sobreviver por um tempo sem trabalhar, embora precisasse a pensar nisso. Passou a criar porcos e comercializá-los, além de galinhas e verduras.

Sonhos eróticos com o marido passaram a perturbar-lhe as noites. Durante o dia o odiava e a noite o desejava em seus sonhos. Despertava entre gemidos e sensações de prazer. Abrir os olhos desencadeavam todo rancor que sentia por Gustavo. Outras vezes despertava ouvindo cadeiras serem despedaçadas e pancadas fortes pela casa. Entendeu que o marido lhe localizara e procurava assustá-la na madrugada.

Enquanto arrancava ervas daninhas da horta viu aproximar um garoto. Apresentou-se com o nome de Fred, filho dos Gastão, que possuíam propriedade ao lado da chácara. Estranhamente ele passou a anunciar o que aconteceria na madrugada. Um jarro será quebrado. O espelho do banheiro irá trincar. Haverá um estouro na cozinha. Os comentários do rapaz aconteciam qual vaticínios, deixando Edilma paralisada pelo pavor.

Uma tarde Luciana adentrou a casa aflita dizendo que encontrara o pai chorando próximo do poço. Edilma enrijeceu-se perturbada. Realmente ele a localizara. Com uma faca oculta no casaco caminhou pela propriedade em busca de rastros. Retornou tensa. Nada encontrara.

Algumas noites em paz e Fred reaparecia com outras informações apavorantes. Edilma ameaçou-o, acreditando ser o causador de todos os transtornos. 

- Cuide do menino! Não o deixe sozinho..., comentou se afastando com um sorriso irônico nos lábios repuxados.

Fred tinha a pele muito clara, com sardas no rosto e cabelos ruivos. Tinha o olhar muito atento, que não olha nos olhos com quem fala, não gerando confiança.

O fato é que Tiago adentrou a mata e se não fosse a chegada de Edilma teria sido picado por uma cobra. Edilma estava picando legumes para o almoço quando um arrepio percorreu-lhe o corpo qual descarga elétrica. O coração agitou-se. Tiago! Sentiu uma dor no peito e passou a buscar-lhe pela casa e adjacências. Luciana indicou a direção que o menino seguira.
Resolveu, então ir até a fazenda dos Gastão e colocar um ponto final naquela estória que já se prolongava exageradamente. Levou as crianças consigo. Foi recepcionada por três cães imensos. Um homem se aproximou indagando o que desejava. Apresentou-se como vizinha. O homem lamentou a perda do “seu” Angelo e pediu que entrasse até a casa. Uma senhora chamada Flores a recebeu entusiasmada. Filha de Ângelo. 
Edilma buscou palavras até perguntar onde estava Fred. Flores a olhou atônita. O que poderia desejar com ele? Expôs que eventualmente o rapaz  vai até a chácara conversar.

- Ficaria muito feliz se isso acontecesse, minha filha!, resmungou a mulher enxugando as lágrimas, - mas Fred faleceu há oito meses, picado de cobra.

O choque foi terrível. Flores mostrou-lhe as únicas três fotos que possuía dele. Uma quando bebê, outra com cerca de cinco anos e outra mais recente em um parque que visitara a cidade. Era mesmo ele. Edilma lamentou o equívoco, justificou que certamente confundira o nome e inventou algumas outras desculpas inconsistentes. Voltou à chácara perturbada, confusa e tomada pelo medo.

A madrugada trouxe novos momentos sensuais com Gustavo. Despertou nua em pleno ato sexual. Desde então passou a ver vultos pela casa. 

Arrumou-se e foi até a cidade. Criou coragem e ligou para sua antiga vizinha, Leonora, que havia sido sua confidente e consoladora por anos, motivando-a a ir embora dali.

- Gustavo tentou o suicídio assim que você se foi, ingeriu veneno de rato, mas os médicos conseguiram reverter o quadro. Alguns meses depois ele foi encontrado boiando no lago. Lamento, ele está morto.
Leonora trazia informações pesadas e que se transformaram em culpa para Edilma. Se tivesse permanecido, Gustavo estaria vivo. 

Quando aproximou-se da chácara visualizou Flores que a abraçou carinhosamente. 

- Você pode não acreditar, minha querida, mas a alma de seu marido não está tendo descanso. Está perturbado e anseia vingança. Venha esta noite em minha casa. Mesmo que você não acredite nisso, não deixe de comparecer.

Flores saltou ágil sobre a carroça e rumou para a fazenda. Mostrava-se uma mulher forte, embora enigmática. Ponderou sobre a possibilidade de aceitar o convite. Nunca acreditara em nada sobrenatural. 
Mais uma vez foi recebida pelos três cães gigantescos que zelavam pela fazenda. Flores abriu a porta sorridente e a abraçou acolhedora. Na penumbra da sala algumas pessoas rodeavam uma mesa grande de madeira. No centro um candelabro com velas de sebo bruxuleava contorcendo as imagens que a circundavam.

Um frei tomou a cabeceira da mesa. Proclamou palavras inteligíveis perante o silêncio aterrador. Mesmo os cães pararam de latir. O clima parecia pesar sobre todos, era como se pudesse apalpar a atmosfera que se criara. O frei falou em vozes estranhas ainda algumas vezes. De repente agitou-se, contorceu-se.

- Morri por você, Edilma. Quero você comigo!, a tonalidade da voz de Gustavo ressoou pelo ambiente.

Flores aproximou-se. Falou-lhe sobre perdão, paz e a necessidade de retomar seu caminho. Mas Gustavo estava inflexível. Queria Edilma morta.

A moça chorava desconsolada, incapaz de pronunciar qualquer palavra. 

O encontro notívago foi encerrado sem que Gustavo fosse convencido a adotar outra postura. Flores pediu que Edilma rezasse por ele e o perdoasse.

A manhã trouxe ar puro, o gorjear dos pássaros e a venda de alguns leitões. 

Flores caminhou pela chácara com um ramalhete de flores do campo. Encontrou Tiago e Luciana brincando próximos a casa. Procurou Edilma. Chamou-a. Subitamente viu Fred apontando para a represa. 

Nas águas frias, Edilma boiava já sem vida. 

Abraçou as crianças e levou-as para a fazenda. Talvez o sofrimento de Edilma tenha terminado. 



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PRESA E PREDADOR


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noite escura
olhar tristonho
a coruja passa

o voo é leve
o vento é fresco
camundongo passa

noite escura
o vento é fresco
o galho seco

a moça assusta
olhar tristonho
a vassoura passa

a coruja passa
a vassoura passa
o gato passa
atrás do camundongo



POETA CALEIDOSCÓPICO


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o interessante do poeta é ser camaleão
é ser moleque matreiro, é ser um ancião
o poeta
pode estar vivo e recém-chegado
o poeta
pode ser mesmo um desencarnado
o poeta
pode ser rio, montanha, primavera
descrever um palácio ou uma cratera
o poeta
pode ser feliz em seus versos sonhadores
e chorar enquanto escreve seus amores

o interessante do poeta é sua inexatidão
alheio à crença ou à religião
é uma colcha de retalhos
um mosaico em frangalhos
é paz e rebelião

o interessante do poeta talvez não seja o que escreve
o que sente, o que prescreve
o interessante do poeta
é produzir o que se sente
espalhar semente do que se pode ser
estranha luz que clareia as entranhas
que celebra e sente as dores humanas
e nos revela a beleza e a magia de viver. 



CONTOS EMANADOS DE SITUAÇÕES COTIDIANAS

“Os contos e poemas contidos neste blog são obras de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência”

SABORES DO COMENDADOR

Ator Nacional: Carlos Vereza

Ator Internacional: Michael Carlisle Hall/ Jensen Ackles/ Eric Balfour

Atriz Nacional: Rosamaria Murtinho / Laura Cardoso/Zezé Mota

Atriz Internacional: Anjelica Huston

Cantor Nacional: Martinho da Vila/ Zeca Pagodinho

Cantora Nacional: Leci Brandão/ Maria Bethania/ Beth Carvalho/ Alcione/Dona Ivone Lara/Clementina de Jesus

Música: Samba de Roda

Livro: O Egípcio - Mika Waltaire

Autor: Carlos Castañeda

Filme: Besouro/Cafundó/ A Montanha dos Gorilas

Cor: Vinho e Ocre

Animal: Todos, mas especialmente gatos, jabotis e corujas.

Planta: aloé

Comida preferida: sashimi

Bebida: suco de graviola/cerveja

Mania: (várias) não passo embaixo de escada

O que aprecio nas pessoas: pontualidade, responsabilidade e organização

O que não gosto nas pessoas: pessoas indiscretas e que não cumprem seus compromissos.

Alimento que não gosta: coco, canjica, arroz doce, melão, melancia, jaca, caqui.

UM POUCO DO COMENDADOR.


Formado em Matemática e Pedagogica. Especialista em Supervisão Escolar. Especialista em Psicologia Multifocal. Mestre em Educação. Doutor Honoris Causa pela ABD e Instituto VAEBRASIL.

Comenda Rio de Janeiro pela Febacla. Comenda Rubem Braga pela Academia Marataizense de Letras (ES). Comenda Castro Alves (BA). Comendador pela ESCBRAS. Comenda Nelson Mandela pelo CONINTER e OFHM.

Cadeira 023, da Área de Letras, Membro Titular do Colegiado Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba, patronesse Juliana Dedini Ometto. Membro efetivo da Academia Virtual Brasileira de Letras. Membro da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. Membro da Literarte - Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos. Membro da União Brasileira de Escritores. Membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza (ALAF). Membro da Academia de Letras de Goiás Velho (ALG). Membro da Academia de Letras de Teófilo Ottoni (Minas Gerais). Membro da Academia de Letras de Cabo Frio (ARTPOP). Membro da Academia de Letras do Brasil - Seccional Suíça. Membro da Academia dos Cavaleiros de Cristóvão Colombo. Embaixador pela Académie Française des Arts Lettres et Culture. Membro da Academia de Letras e Artes Buziana. Cadeira de Grande Honra n. 15 - Patrono Pedro I pela Febacla. Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Iguaba Grande (RJ). Cadeira n.º 2- ALB Araraquara.

Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Taquaritinga pelos serviços em prol da Educação. Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Bebedouro por serviços prestados à Educação Profissional no município. Homenagem pela APEOESP, pelos serviços prestados à Educação. Título de Cidadão Bebedourense. Personalidade 2010 (Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade Mais Influente e Educador 2011(Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade 2012 (ARTPOP). Medalha Lítero-Cultural Euclides da Cunha (ALB-Suíça). Embaixador da Paz pelo Instituto VAEBRASIL.

Atuou como Colunista do Diário de Taquaritinga e Jornal "Quatro Páginas" - Bebedouro/SP.
É Colunista do Portal Educação (http://www.portaleducacao.com.br

Premiações Literárias: 1º Classificado na IV Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – SP, agosto/2005, Clube Amigo das Letras – poema “A benção”, Menção Honrosa no XVI Concurso Nacional de Poesia “Acadêmico Mário Marinho” – Academia de Letras de Paranapuã, novembro/2005 – poema “Perfeita”, 2º colocado no Prêmio FEUC (Fundação Educacional Unificada Campograndense) de Literatura – dezembro/2005 – conto “A benção”, Menção Especial no Projeto Versos no Varal – Rio de Janeiro – abril/2006 – poema “Invernal”, 1º lugar no V Concurso de Poesias de Igaraçu do Tietê – maio/2006 – poema “Perfeita”, 3º Menção Honrosa no VIII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba – setembro/2006 – poema “Perfeita”, 4º lugar no Concurso Literário de Bebedouro – dezembro/2006 –poema “Tropeiros”, Menção Honrosa no I concurso de Poesias sobre Cooperativismo – Bebedouro – outubro/2007, 1º lugar no VI Concurso de Poesias de Guaratinguetá – julho/2010 – poema “Promessa”, Prêmio Especial no XII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba, outubro/2010, poema “Veludo”, Menção Honrosa no 2º Concurso Literário Internacional Planície Costeira – dezembro/2010, poema “Flor de Cera”, 1º lugar no IV Concurso de Poesias da Costa da Mata Atlântica – dezembro/2010 – poema “Flor de Cera”. Outorga do Colar de Mérito Literário Haldumont Nobre Ferraz, pelo trabalho Cultural e Literário. Prêmio Literário Cláudio de Souza - Literarte 2012 - Melhor Contista.Prêmio Luso-Brasileiro de Poesia 2012 (Literarte/Editora Mágico de Oz), Melhor Contista 2013 (Prêmio Luso Brasileiro de Contos - Literarte\Editora Mágico de Oz)

Antologias: Agreste Utopia – 2004; Vozes Escritas –Clube Amigos das Letras – 2005; Além das Letras – Clube Amigos das Letras – 2006; A Terra é Azul ! -Antologia Literária Internacional – Roberto de Castro Del`Secchi – 2008; Poetas de Todo Brasil – Volume I – Clube dos Escritores de Piracicaba – 2008; XIII Coletânea Komedi – 2009; Antologia Literária Cidade – Volume II – Abílio Pacheco&Deurilene Sousa -2009; XXI Antologia de Poetas e Escritores do Brasil – Reis de Souza- 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2010; Prêmio Valdeck Almeida de Jesus – V Edição 2009, Giz Editorial; Antologia Poesia Contemporânea - 14 Poetas - Celeiro de Escritores, 2010; Contos de Outono - Edição 2011, Autores Contemporâneos, Câmara Brasileira de Jovens Escritores; Entrelinhas Literárias, Scortecci Editora, 2011; Antologia Literária Internacional - Del Secchi - Volume XXI; Cinco Passos Para Tornar-se um Escritor, Org. Izabelle Valladares, ARTPOP, 2011; Nordeste em Verso e Prosa, Org. Edson Marques Brandão, Palmeira dos Indios/Alagoas, 2011; Projeto Delicatta VI - Contos e Crônicas, Editora Delicatta, 2011; Portas para o Além - Coletânea de Contos de Terror -Literarte - 2012; Palavras, Versos, Textos e Contextos: elos de uma corrente que nos une! - Literarte - 2012; Galeria Brasil 2012 - Guia de Autores Contemporâneos, Celeiro de Escritores, Ed. Sucesso; Antologia de Contos e Crônicas - Fronteiras : realidade ou ficção ?, Celeiro de Escritores/Editora Sucesso, 2012; Nossa História, Nossos Autores, Scortecci Editora, 2012. Contos de Hoje, Literacidade, 2012. Antologia Brasileira Diamantes III, Berthier, 2012; Antologia Cidade 10, Literacidade, 2013. I Antologia da ALAB. Raízes: Laços entre Brasil e Angola. Antologia Asas da Liberdade. II Antologia da ACLAV, 2013, Literarte. Amor em Prosa e Versos, Celeiro de Escritores, 2013. Antologia Vingança, Literarte, 2013. Antologia Prêmio Luso Brasileiro - Melhores Contistas 2013. O tempo não apaga, Antologia de Poesia e Prosa - Escritores Contemporâneos - Celeiro de Escritores. Palavras Desavisadas de Tudo - Antologia Scortecci de Poesias, Contos e Crônicas 2013. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXIII, RG Editores. Antologia II - Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro. antologia Escritores Brasileiros, ZMF Editora. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXVI - RG Editores (2014). III Antologia Poética Fazendo Arte em Búzios, Editora Somar (2014). International Antology Crossing of Languages - We are Brazilians/ antologia Internacional Cruce de Idiomas - Nosotros Somos Brasileños - Or. Jô Mendonça Alcoforado - Intercâmbio Cultural (2014). 5ª Antologia Poética da ALAF (2014). Coletânea Letras Atuais, Editora Alternativa (2014). Antologia IV da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). A Poesia Contemporânea no Brasil, da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). Enciclopédia de Artistas Contemporâneos Lusófonos - 8 séculos de Língua Portuguesa, Literarte (2014). Mr. Hyde - Homem Monstro - Org. Ademir Pascale , All Print Editora (2014)

Livros (Solos): “Análise Combinatória e Probabilidade”, Geraldo José Sant’Anna/Cláudio Delfini, Editora Érica, 1996, São Paulo, e “Encantamento”, Editora Costelas Felinas, 2010; "Anhelos de la Juvenitud", Geraldo José Sant´Anna/José Roberto Almeida, Editora Costelas Felinas, 2011; O Vôo da Cotovia, Celeiro de Escritores, 2011, Pai´é - Contos de Muito Antigamente, pela Celeiro de Escritores/Editora Sucesso, 2012, A Caminho do Umbigo, pela Ed. Costelas Felinas, 2013. Metodologia de Ensino e Monitoramento da Aprendizagem em Cursos Técnicos sob a Ótica Multifocal (Editora Scortecci). Tarrafa Pedagógica (Org.), Editora Celeiro de Escritores (2013). Jardim das Almas (romance). Floriza e a Bonequinha Dourada (Infantil) pela Literarte. Planejamento, Gestão e Legislação Escolar pela Editora Erica/Saraiva (2014).

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Metodologia e Avaliação da Aprendizagem

Pai´é - Contos de Muito Antigamente

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Contos de Geraldo J. Sant´Anna e fotos de Geraldo Gabriel Bossini

ENCANTAMENTO

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meus poemas

Análise Combinatória e Probabilidades

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juntamente com o amigo Cláudio Delfini

Anhelos de la Juvenitud

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Edições Costelas Felinas

A Caminho do Umbigo

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Edições Costelas felinas

Voo da Cotovia

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Celeiro de Escritores

Divine Acadèmie Française

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Prêmio Luso Brasileiro de Poesia 2012/2013

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Literarte/Mágico de Oz (Portugal)

Lançamento da Antologia Vozes Escritas

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Noite de autógrafos em Barra Bonita-SP

Antologia Literária Cidade - Volume II

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Poemas : Ciclone e Ébano

Antologia Eldorado

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Antologia II

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Antologia Cidade 10

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Org. Abílio Pacheco

Antologia da ALAB

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Antologia Poesia Contemporânea - 14 Poetas

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Lançamento do CELEIRO DE ESCRITORES

Contos de Hoje - Narrativas

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Literacidade

O Conto Brasileiro Hoje

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RG Editores

4ª Antologia da ALAF

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