Poesia Brasileira
Contemporânea: conceitos e desconstruções
“Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.”
(Ariano Suassuna)
Contam-se as lendas que o Brasil não
lê. Há quem questione o futuro de um país em que os leitores desaparecem qual
poeira ao galope do tempo. O clamor se torna ainda mais desesperado quando nos
detemos a observar, impávidos, o desenvolvimento de novas tecnologias.
Notebooks, tablets, iphones, ipeds circulam dominantes pelas mãos de jovens e
adultos. Fala-se cada vez mais em livros digitais. Anuncia-se a extinção do
livro impresso. Perguntamo-nos, embora emudecidos pelas evidências, sobre o
destino das imensas bibliotecas e os mecanismos que serão utilizados para
sentir o livro, manuseá-lo, cheirá-lo, saborear aquela leitura, grifar e fazer
anotações no rodapé.
Por sua vez almejamos o renascimento
de um Álvares de Azevedo, um Cruz e Souza, um Manoel Bandeira, quem sabe o
retorno de Drummond? Impacta em nós a
certeza de um momento caótico para a cultura. Onde estão esses homens e
mulheres, de sensibilidade extrema, cuja genialidade apreciamos, degustamos,
recriamos nossos dias tingidos de sonhos, de deleite, de imaginação?
Em meio a esse cenário,
aparentemente inóspito, chama-nos à atenção algo improvável: a produção
literária no país cresce assustadoramente. Seja no sistema de cooperativas ou apoiados
por Academias Literárias (que também germinam com vitalidade), diversos autores
– poetas e contistas – têm seus trabalhos publicados em antologias que circulam
pelos diferentes Estados do país e abarcam leitores das mais diversas faixas
etárias e níveis sociais.
Se o Brasil não lê, estranhamente
ele escreve; e são muitas as produções. O intuito aqui não é avaliar o teor
literário dessas criações, mas ressaltar que elas se materializam a cada
instante e livros são editados e distribuídos periodicamente. Essas
considerações são válidas até mesmo porque quem conhece um pouco de literatura
deve saber que muitos nomes reverenciados hoje somente foram reconhecidos após
sua morte. Destaque se faz a Thoreau, Tolkien, Rimbaud, Emily Dickinson, entre
outros nomes conhecidos, inclusive brasileiros como Lima Barreto e Oswald de
Andrade.
A questão que se faz emergente é,
então, identificar os poetas vivos e seus trabalhos. Cada cidade tem pelo menos
um poeta, um contista, um trovador...alguém que no enlevo de sua inspiração
registra na primeira folha de papel que encontra os burburinhos de sua alma.
Essas pessoas, com grandes possibilidades, não são escritores de destaque, não
são veiculados pela mídia, não são procurados por editoras. No entanto, são
relíquias literárias que se contentam com o fluir sereno de seus versos e, nem
sempre, terão obras depositadas para consulta pública em uma biblioteca.
As bibliotecas, por sua vez, tomaram
outras dimensões. Estão nas nuvens. O mundo virtual trouxe possibilidades para
que muitos poetas abrissem a gaveta de sua escrivaninha e lançassem seus
escritos na internet. Sites, blogs e redes sociais passaram a dar visibilidade
poética a uma série de pessoas, mesmo que o único objetivo fosse dar mobilidade
às letras antes encarceradas na penumbra.
Antologias, blogs e redes sociais
passaram a (re)criar espaços. E como são muitos os leitores! Como são inúmeros
os escritores brasileiros contemporâneos!
Poderíamos citar centenas, mas nos
deteremos a três que consideramos destacados, não apenas pelas técnicas e zelo
pela língua portuguesa, mas também pelo estilo. Referenciam-se como poesias
contemporâneas. E o que dizer disso? Trata-se de uma poesia em transformação,
tem os pólens deste tempo. Não são odes, elegias, idílios ou epitalâmios. São
devaneios, beijos adocicados em quem os lê, um torvelinho poético que se agita
nas páginas do livro ou da internet.
Por vezes olhar e não enxergar
A
verdade que se esconde lá
Desejando
que o reflexo fosse inverso
Mas
a verdade lá está a te questionar
(Consciência – Flávia Assaife)
Flávia Assaife nasceu em Brasília. É formada em Administração de Empresas, pós-graduada em Gestão de Pessoas, Gestão de Negócios, Gestão do Varejo e Docência Superior. Atualmente reside no Rio de Janeiro, onde ministra aulas em cursos de graduação e pós-graduação. Flávia é autora dos livros “Ouço a Voz do Coração através de um Mergulho Interior”, “Sussurros da Alma”; “Os Viajantes da Lua” e "Segredos do Coração", dentre outros.
Em se tratando da
importância do blog para a poesia, podemos citar o Trilha de Luz, desenvolvido
por Jonas Sanches e acessado pelo endereço eletrônico (http://trilhasdeluz.blogspot.com.br/). Jonas está presente nas redes
sociais e integra várias Academias Literárias. Citemos Cantiga do Vento:
E o vento misturou as letras
fez versos reversos om a intuição,
e o vento assoviou poesia
cantando uma rima de satisfação.
Falar sobre a poesia brasileira
contemporânea é romper barreiras, estilos, paradigmas alicerçados pelo tempo.
Os versos do poeta passeiam desenhados pela liberdade. Extraem do âmago a
essência, das letras se traduzem novas formas de escrever.
como o sulco da caligrafia
chegando toda semana. como
o pulôver vermelho
que veste agora (não era
a volta para casa, um consolo,
nem
a limusine negra veio buscá-la
de outro poema)
(Poema ”De Dentro da Caixa Verde”,
de Marília Garcia)
Em cada poesia o cheiro brasileiro
de Flávia Assaife, Jonas Sanches e Marília Garcia. Contam-se as lendas que o
Brasil não lê...talvez esse Brasil precise ser redescoberto, precise de um novo
olhar, não simplesmente otimista de que alguém que quer acreditar em algo
fantástico, mas o olhar de quem sabe que a literatura está florescendo e merece
ser valorizada.
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