Já entardecia quando Maria Dolores chamou sua filha:
- Venha, querida, venha tomar banho, tomar uma sopinha e descansar. Amanhã iremos para o sítio do vovô !
Ana Carolina, uma garotinha de cinco anos, estava, como sempre gostava de fazer, sentada no gramado entre as muitas margaridas, admirando os seres alados que ali pairavam: borboletas, abelhas e beija-flores.
O sítio era bastante simples, mas aconchegante e Ana Carolina logo tratou de correr entre as galinhas, patos, porcos e abraçar Bernardo, um velho buldogue que a adorava. A casa era cerca por murtas e havia uma grande diversidade de árvores frutíferas, além de flores, muitas flores que o avô especialmente plantava para sua neta.
Logo ao chegar, Clóvis levou a neta para o lago que fica próximo dali, bastando seguir a estreita trilha entre a pastagem. No caminho Ana Carolina colhia florezinhas que se destacavam entre as gramas. Ali era um lugar que amava. Ao fundo haviam taboas e lírios do brejo, muito alvos e perfumados. Do outro carrapateiras e sobre as águas aguapés floridos com sua flores violáceas flutuando entre peixinhos multicoloridos.
Após o almoço, Ana Carolina brincava com algumas penas de angolas e perus embaixo de um florido pé de saia branca, quando teve a idéia de ir ao lago. Levantou-se e seguiu a já conhecida trilha. Sentou-se próxima às margens sorrindo para os lambarizinhos. Os patos nadavam ao longe e só se ouvia a algazarra de coleirinhas no capinzal.
De repente no meio do lago formou-se um brilhante redemoinho azul. Ana Carolina ficou curiosa, mas não se atreveu colocar os pés na água gelada.
Um sanhaço a sobrevoou e pousou ao seu lado. Para surpresa da menina, o sabiá disse:
- Sei que você gosta muito de flores e de todos os animais, por isso queremos lhe dar um presente. Você quer ?
- Quero, respondeu rapidamente a garotinha sem vacilar.
- Para isso você deverá me prometer três coisas: ser obediente, não contar a ninguém e continuar amando todas as flores e animais. Você promete ?
- Prometo, respondeu ela hipnotizada pela avezinha.
- Então você conhecerá a dona desse lugar. É a fada do lago.
Dentre os aguapés elevou-se uma fadinha. Seu vestido brilhava como a madrepérola e suas asinhas refletiam muitas cores enquanto batiam vigorosamente.
- Ana Carolina você irá voar comigo. Feche os olhinhos e me dê sua mão.
Como num devaneio, Ana Carolina viu-se ergue-se no ar. Haviam surgido asas e estava pequenina, do tamanho da fadinha. Voou entre as libélulas, borboletas e cigarras. Pousou de leve nos lírios do brejo e tocou as águas do lago com seus pezinhos. Sorria muito, sempre acompanhada pela fadinha, atenta e cuidadosa.
Após muitas brincadeiras, Ana Carolina mostrou-se cansada.
A fadinha disse, então, que a levaria de volta para casa, mas ela deveria se lembrar sempre de suas três promessas. Voaram até a casa e desceram sobre as flores azuis da hortênsia, bem perto da entrada da cozinha.
Sonolenta e exausta, Aninha viu uma galinha carijó vindo correndo em sua direção.
- Ela vai me comer, mãe – começou a gritar, entre lágrimas, temendo ao olhar ameaçador da galinha.
Maria Dolores e sua avó Anita correram rapidamente para fora e espantaram a galinha, já assustada pelos berros da menina.
- O que aconteceu ? Você nunca teve medo das galinhas !, revelou a avó surpresa.
E no colo de sua mãe, Ana Carolina foi colocada em sua cama para descansar. Não demorou para entrar em profundo sono.
Hoje Ana Carolina é bióloga e ainda não entendeu se tudo o que aconteceu foi verdade ou fruto de sua imaginação.
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