domingo, 9 de outubro de 2011

O ORÁCULO DA ANACONDA


   foto Geraldo Bossini    


            Após meses sem férias, Hugo e Renata decidiram conhecer o Acre. Destino: Santa Rosa do Purus. Hugo tinha verdadeiro fascínio em conhecer o Brasil, arquivando fotos coletadas na internet dos mais variados pontos turísticos. Pouco sabia sobre o Acre e a melhor maneira de conhecer seria visitá-lo. Sairiam da agitação e costumeiro corre-corre da Avenida Paulista e se refugiariam nas imediações da selva. Seria uma grande aventura, em especial para Murilo, de cinco anos, contemplado com todo arsenal de curiosidade próprio da idade. Murilo pouco conhecia além do apartamento e o zoológico, o Parque do Ibirapuera, que eventualmente buscavam para fugir do estresse do dia a dia.

            Os preparativos e as expectativas, certa apreensão por parte de Renata, receosa de que algo ruim acontecesse, uma vez que sonhara várias vezes que uma anaconda engolia Murilo às margens de um igarapé. Por vezes, falou a Hugo se não deveriam buscar outro lugar, afinal poderiam ir para Fortaleza, Natal, Salvador, Recife entre outros locais em geral procurados pelos turistas. Mas não houve diálogo, a decisão havia sido tomada e Hugo era bastante intransigente.

            A cidade era pequena, porém bastante aconchegante e logo encantou Renata e para Murilo foi uma festa, com espaço para correr e se divertir. Para Hugo era a realização de um sonho. Amava a natureza e a possibilidade de respirar ar puro, o cheiro da mata, de repente ver uma onça pintada, jacarés, araras e uma diversidade de outros animais o deixava sem fôlego. Ao menos era o que alardeava. A cidade ficava próxima ao Peru e as recordações de Macchu Picchu intensificavam suas emoções.

            Uma caminhada pelo Porfírio de Moura, a praça e depois alguns momentos de descanso. Estavam exaustos pela viagem. Logo Hugo estreitou amizade com vários moradores da cidade, em especial João Guigó. A amizade entre as famílias se estreitou. João Guigó era amasiado com Teresa Canguçú, tinham como filhos Anajá, de seis anos, e Caiubi, de oito anos. Moravam em um casebre incrustrado na mata, isolados da cidadezinha. As visitas tornaram-se freqüentes. Murilo se deliciava.

            Repentinamente, Hugo assumiu ares de caçador. Adquiriu uma arma e afirmou que iria caçar. João Guigó o advertiu, ali viviam em paz com a natureza. Respeitavam a vida da floresta, as plantas, os animais e os seres espirituais que ali residiam desde o início. Havia sim quem explorava os recursos, mas aquela família não permitia qualquer dano aos seus irmãos.

            Teresa Canguçú em suas longas conversas com Renata explicava que o ser humano em nada se diferenciava dos demais seres. Haviam plantas e animais que adoeciam, competiam espaço, usavam artifícios para sobreviver e sobrepor-se, que diferença havia entre eles e o ser humano, questionava. Todos nasciam, viviam e morriam. Morrem brotos, morrem crias, morrem crianças. A dor do parto da mulher não é diferente da anta. O arranhão que fere o macaco produz a mesma dor quando fere o homem. A árvore velha cede em decrepitude como o ancião consumido pelo tempo. Animais e plantas haviam construído relações milenares, somente o homem não se considerava interdependente dos demais seres.

            As comparações que Teresa fazia há princípio chocavam Renata, mas os passeios que faziam pela mata e as demonstrações, a análise vendo como tudo acontecia no mundo natural, deixou Renata reflexiva, nunca havia visto o mundo daquela forma. As plantas e cada animal passavam a demonstrar emoções, a ter uma vida como a de qualquer pessoa. Os pássaros machos exibindo-se e tentando seduzir a fêmea, que analisava e fazia charme, em outras estratégias de sedução. Os casais monogâmicos entre as aves, muito mais fiéis e comprometidos que muitos casais humanos que se inflamam de princípios e conceitos de moral e religiosos, para ocultarem o que fazem em momentos que não são vistos.

            Hugo, no entanto, estava obcecado pela caça e não tendo o apoio de João Guigó decidiu embrenhar-se na mata sozinho. Havia momentos de incrível silêncio, como se todos os seres o espreitassem. A sensação de estar sendo observado era assustadora. Em outros insetos e aves emitiam sons diversos, sendo difícil identificar a origem. Os mosquitos mostravam-se também um transtorno em alguns momentos. Foi quando deparou-se com um caititu. Era o que precisava. Um tiro certeiro atravessou o crânio do animal. Pegou-o como a um troféu, subindo em um tronco de uma árvore caída e repleta de orelhas de pau e trepadeiras. Estava exultante.

            Decidiu rumar de volta para a casa de João Guigó, apesar de suas repreensões. A mata parece ter mudado de posição e não conseguia mais identificar o caminho. Andou em círculos por um bom tempo. Ruídos nas folhas secas demonstravam que algum animal grande encontrava-se nas redondezas. Uma pancada na nuca e viu apenas o chão aproximar-se. Despertou amarrado em uma árvore de tronco grosso e áspero. Desesperado procurou dos cipós espinhosos que o atavam ao tronco. Com sacrifício e muitos arranhões e chagas desvencilhou-se e como que guiado chegou à casa de João Guigó já trade da noite. Em seu pescoço identificou em um cordão a bala que havia liquidado o caititu.

            Embora assustado, Hugo não era pessoa de baixar a crista facilmente.

            Passados alguns dias, em uma caminhada pela mata próxima, foi surpreendido pelo desejo do filho ao ter um macaquinho ao avistar a mãe macaca carregando em suas costas sua cria. Um tiro certeiro pôs fim à macaca. Diante do cadáver retirou o macaquinho indefeso e entregou ao filho.

            Teresa Canguçú o repreendeu veemente, horrorizada. O macaquinho não suportaria e passados mais alguns dias realmente morreu. Hugo simplesmente lançou o corpinho do animal junto a uns arbustos. Renata o desconhecia. Aquele lugar revelava uma face de Hugo que jamais pensou que existisse. Passou a refletir sobre alguns reações violentas que demonstrava eventualmente, as reclamações dos funcionários da empresa apontando um caráter que ela não conseguia enxergar.

            O dia amanheceu e Renata não viu Murilo na cama. Percorreu a casa. O passar do tempo foi deixando-a apreensiva. Hugo chegou com pães e leite. Achou que Murilo estivesse com ele. Não estava. Foram até a casa de João Guigó. Não estava lá. Entraram em pânico. Relataram o desaparecimento para a polícia. Andaram por toda a cidade. Nenhuma notícia. Ninguém havia visto o menino. Renata torturava-se com os sonhos que tivera com a anaconda. Caminharam às margens do rio. Alguns jacarés, pescadores, nenhum indício do filho.

            Naquela noite, Murilo havia sido levado por Teresa Canguçú a uma família embrenhada na mata. Dona Maria Cubiu recebeu a criança. Desejava um filho, o que tivera havia sido engolido por uma anaconda. Impedida de ter outros filhos ficou realizada ao receber Murilo, que a partir daquele dia foi batizado com o nome de Camilo, o nome do filho morto. Renata nunca mais veria o filho, nunca o localizariam infiltrado na floresta. Assim como o macaquinho fora retirado da mãe, Hugo sentiria a dor da distância, da perda, do amor sem esperança.

            Hugo e Renata caíram devassados pelo sofrimento. Dia a dia vasculhavam cada metro quadrado na esperança que se esgotava. Os dias de férias também esvaíam, mas não deixariam o lugar até que não tivessem informações do filho, fosse vivo ou morto.

            Em uma ronda pela mata com João Guigó, Hugo irritado e cada vez mais inconseqüente disparou um tiro no crânio de uma capivara, que caiu morta instantaneamente. João Guigó abaixou-se e murmurou algo nos ouvidos do animal, acariciando a face e fixando com olhar feroz o descontrolado companheiro. Seguiram entre as árvores copadas. Até Hugo escorregar e ao tentar levantar-se sentiu o cano da arma de João Guigó em sua testa.

            O homem não refletiu e disparou. O corpo de Hugo tombou pesado. João Guigó fez alguns cortes para que sangrasse e lançou-o no rio que ladeava o lugar. Ali piranhas e outros peixes iriam se banquetear.

            A madrugada e o sol da manhã evidenciaram o pânico de Renata com filho e marido desaparecidos. Parecia ter enlouquecido vagueando pelas ruas da cidade e passando dias perdida na mata. Dizia que seu filho a chamava de dentro da anaconda e o espectro do marido podia ser visto preso na floresta. Passou a ter visões que impressionavam as pessoas.

            Em uma casinha no seio da floresta Dona Palmira recebe diariamente dezenas de pessoas. Dizem que ela coloca a pessoa sentada em um toco e pelas costas os benze. Durante o benzimento tem visões e fala sobre a vida da pessoa fazendo curas e aconselhando sobre o hoje e o amanhã. Usa um xale feito da pele de sucuri. Não fala do seu passado. Ninguém sabe que seu verdadeiro nome é Renata e de toda tragédia que viveu naquele lugar muitos anos atrás. Os anos foram cruéis fazendo-a envelhecer terrivelmente.

            Naquela manhã, Maria Cubiu preparava-se para levar o filho com estranha febre até a falada Dona Palmira. Talvez somente ela poderia curá-lo.  

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CONTOS EMANADOS DE SITUAÇÕES COTIDIANAS

“Os contos e poemas contidos neste blog são obras de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência”

SABORES DO COMENDADOR

Ator Nacional: Carlos Vereza

Ator Internacional: Michael Carlisle Hall/ Jensen Ackles/ Eric Balfour

Atriz Nacional: Rosamaria Murtinho / Laura Cardoso/Zezé Mota

Atriz Internacional: Anjelica Huston

Cantor Nacional: Martinho da Vila/ Zeca Pagodinho

Cantora Nacional: Leci Brandão/ Maria Bethania/ Beth Carvalho/ Alcione/Dona Ivone Lara/Clementina de Jesus

Música: Samba de Roda

Livro: O Egípcio - Mika Waltaire

Autor: Carlos Castañeda

Filme: Besouro/Cafundó/ A Montanha dos Gorilas

Cor: Vinho e Ocre

Animal: Todos, mas especialmente gatos, jabotis e corujas.

Planta: aloé

Comida preferida: sashimi

Bebida: suco de graviola/cerveja

Mania: (várias) não passo embaixo de escada

O que aprecio nas pessoas: pontualidade, responsabilidade e organização

O que não gosto nas pessoas: pessoas indiscretas e que não cumprem seus compromissos.

Alimento que não gosta: coco, canjica, arroz doce, melão, melancia, jaca, caqui.

UM POUCO DO COMENDADOR.


Formado em Matemática e Pedagogica. Especialista em Supervisão Escolar. Especialista em Psicologia Multifocal. Mestre em Educação. Doutor Honoris Causa pela ABD e Instituto VAEBRASIL.

Comenda Rio de Janeiro pela Febacla. Comenda Rubem Braga pela Academia Marataizense de Letras (ES). Comenda Castro Alves (BA). Comendador pela ESCBRAS. Comenda Nelson Mandela pelo CONINTER e OFHM.

Cadeira 023, da Área de Letras, Membro Titular do Colegiado Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba, patronesse Juliana Dedini Ometto. Membro efetivo da Academia Virtual Brasileira de Letras. Membro da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. Membro da Literarte - Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos. Membro da União Brasileira de Escritores. Membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza (ALAF). Membro da Academia de Letras de Goiás Velho (ALG). Membro da Academia de Letras de Teófilo Ottoni (Minas Gerais). Membro da Academia de Letras de Cabo Frio (ARTPOP). Membro da Academia de Letras do Brasil - Seccional Suíça. Membro da Academia dos Cavaleiros de Cristóvão Colombo. Embaixador pela Académie Française des Arts Lettres et Culture. Membro da Academia de Letras e Artes Buziana. Cadeira de Grande Honra n. 15 - Patrono Pedro I pela Febacla. Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Iguaba Grande (RJ). Cadeira n.º 2- ALB Araraquara.

Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Taquaritinga pelos serviços em prol da Educação. Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Bebedouro por serviços prestados à Educação Profissional no município. Homenagem pela APEOESP, pelos serviços prestados à Educação. Título de Cidadão Bebedourense. Personalidade 2010 (Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade Mais Influente e Educador 2011(Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade 2012 (ARTPOP). Medalha Lítero-Cultural Euclides da Cunha (ALB-Suíça). Embaixador da Paz pelo Instituto VAEBRASIL.

Atuou como Colunista do Diário de Taquaritinga e Jornal "Quatro Páginas" - Bebedouro/SP.
É Colunista do Portal Educação (http://www.portaleducacao.com.br

Premiações Literárias: 1º Classificado na IV Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – SP, agosto/2005, Clube Amigo das Letras – poema “A benção”, Menção Honrosa no XVI Concurso Nacional de Poesia “Acadêmico Mário Marinho” – Academia de Letras de Paranapuã, novembro/2005 – poema “Perfeita”, 2º colocado no Prêmio FEUC (Fundação Educacional Unificada Campograndense) de Literatura – dezembro/2005 – conto “A benção”, Menção Especial no Projeto Versos no Varal – Rio de Janeiro – abril/2006 – poema “Invernal”, 1º lugar no V Concurso de Poesias de Igaraçu do Tietê – maio/2006 – poema “Perfeita”, 3º Menção Honrosa no VIII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba – setembro/2006 – poema “Perfeita”, 4º lugar no Concurso Literário de Bebedouro – dezembro/2006 –poema “Tropeiros”, Menção Honrosa no I concurso de Poesias sobre Cooperativismo – Bebedouro – outubro/2007, 1º lugar no VI Concurso de Poesias de Guaratinguetá – julho/2010 – poema “Promessa”, Prêmio Especial no XII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba, outubro/2010, poema “Veludo”, Menção Honrosa no 2º Concurso Literário Internacional Planície Costeira – dezembro/2010, poema “Flor de Cera”, 1º lugar no IV Concurso de Poesias da Costa da Mata Atlântica – dezembro/2010 – poema “Flor de Cera”. Outorga do Colar de Mérito Literário Haldumont Nobre Ferraz, pelo trabalho Cultural e Literário. Prêmio Literário Cláudio de Souza - Literarte 2012 - Melhor Contista.Prêmio Luso-Brasileiro de Poesia 2012 (Literarte/Editora Mágico de Oz), Melhor Contista 2013 (Prêmio Luso Brasileiro de Contos - Literarte\Editora Mágico de Oz)

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