Aguardamos a Era do Auto-Conhecimento que esperamos se instalar após essa época de trevas, similar ao que a humanidade já vivenciou na Idade Média. Percebemos nitidamente um número expressivo de pessoas aparentemente perdidas, cultuando a superficialidade e a ignorância, o vazio tem ocupado espaços importantes e nisso sofremos com a nostalgia de valores que se dissolvem a nossos olhos. Seja no campo político, religioso ou social, as relações se enfraquecem, apesar de tanto ouvirmos e visitarmos sites motivacionais e as empresas se desdobrarem focando na importância das relações interpessoais, networking e outros temas amplamente conhecidos por todos.
Faltam líderes expressivos, faltam pensadores de destaque, faltam referências principalmente para a juventude. Em que se espelhar? Qual ideal seguir? Na falta dele em geral o dinheiro fala bem mais alto e não é difícil a comercialização de opções, tendências e opiniões. Pode-se tornar-se contra ou a favor de uma pessoa ou causa conforme os recursos liberados. Acordos assim sempre existiram em toda história – basta conhecer o passado para não se chocar com o presente – embora, haja uma certa expectativa de que o homem tenha evoluído, melhorado, se aprimorado com o transcorrer dos séculos. Trêmulos e subjugados vemos que a evolução foi apenas tecnológica.
Um grande problema desse marasmo oriundo do cultivo da ignorância é justamente a divulgação restrita de tantas descobertas científicas, de tanto conhecimento que se resigna em ser apenas acadêmico. A própria escola precisa ser repensada. Se nos concentrarmos logo no chamado Ensino Fundamental, uma das importantes etapas da Educação Básica, com uma duração de nove anos, notamos que tanto tempo de estudo resulta em pouquíssima apropriação do conhecimento. Cerca de nove anos em que estudamos a Língua Portuguesa (o relevante saber ler e escrever) e a Matemática (saber contar) como bases importantes para os demais conhecimentos, e nem sempre temos a satisfação de encontrarmos alunos que dominam sua própria língua e cálculos básicos (somar, subtrair, multiplicar e dividir), geralmente chegam aos cursos ou etapas posteriores altamente comprometidos. Após nove anos de estudo uma pessoa deveria ter certo domínio daqueles conhecimentos. Se nos determos um pouco para refletir sobre a palavra fundamental encontraremos nos dicionários que ela significa “que serve de fundamento”, “que tem caráter essencial”. Até que ponto esta etapa do ensino está cumprimento seu papel de ser a estrutura na qual se ergue o conhecimento.
E antes que os mais exaltados partam para a natural autodefesa ou enumerem centenas de justificativas, não estamos aqui acusando os professores, nem mesmo os alunos, pais ou sociedade. Ressaltamos e isso precisa ser percebido que algo está errado e os objetivos não estão sendo atingidos, embora alguns índices possam tentar derrubar todas essas minhas palavras. Falo do dia-a-dia e quem é professor sabe muito do que estou falando.
Mas não desviamos nosso foco inicial: o mundo conturbado que estamos vivendo e a busca ansiosa pela Era do Auto-Conhecimento. Ocorre que toda transformação está ligada a conhecimento, não apenas o excesso de informações produzidas por um mundo globalizado. Sabemos rapidamente da ocorrência de um terremoto no Japão, mas poucos entendem suas causas e implicações. Poucos se importam com isso, afinal estamos bem longe de lá e não seremos atingidos!
Resvalamos aqui em outra questão bastante notória: o ego. Sofremos, aliás, dois momentos engaiolados em nosso interior: o ego e o individualismo. Provavelmente um estudioso de Psicologia fique com os cabelos eriçados, mas tratamos aqui o ego como é rotineiramente contemplado: o eu insuflado. Tão mais insuflado quanto maior a ignorância que fecunda o solo de onde brota, fazendo-o acreditar que subir em simples banquinho o aproxima do cume do Himalaia. Vivemos em um momento individualista da história. Os contatos virtuais são bem a janela disso. Não se conversa mais. Briga-se via email. Faz-se sexo pelo webcam. Certamente não vamos recorrer à tradicional frase “o mundo está perdido”, pois em nossa pálida opinião ele nunca se achou. Também não pretendo desenhar uma imagem negativa, há inúmeras coisas boas em coisa.
Quando escrevemos “20 de novembro – uma grande data” expomos os sinais que apontam para o colapso de nossa civilização. Há muitos indicadores sejam eles sociais ou ambientais, religiosos, políticos ou econômicos. Fim do mundo? Também não. Sorriam! Todos têm muito que construir nesse planeta. A questão é construir com autoconsciência e o primeiro passo é o autoconhecimento. A inscrição no templo de Delfos “conhece-te a ti mesmo” não para de gritar. Conhecer a nós mesmos é essencial para qualquer construção: construir algo para nós, construir algo para o outro, construir algo para o mundo. O primeiro passo é dado por nós mesmos, a partir do que sabemos de nós.
Muitas vezes penso que damos pouquíssimo valor para nossas vidas, gerando inúmeros limites ou cerceando-a a uma série de atividades rotineiras improdutivas, fixos na base da pirâmide de Maslow. Uma faixa importante, diga-se de passagem, porém urge olhar os degraus e iniciar a escalada até seu ápice.
Se desejamos alguma mudança futura ela necessita ter início agora através de nossas mais simples ações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário