domingo, 11 de março de 2012

MAL FEITO


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         Faz sete anos que Elisa faleceu, dentre eles três em que definhou misteriosamente. Diariamente venho ao seu túmulo, trago flores novas, às vezes abro um vinho, o de sua preferência, espumante e doce e juntos o saboreamos. Algumas vezes a vejo ou a ouço em nossa casa. Na cozinha onde gostava de ficar preparando sempre um prato novo ou apenas sentada ouvindo música. A ouço cantar, mexer nos pratos e panelas, empurrar cadeiras. Parece preferir ficar distante do quarto onde por meses a fio sofreu dores alucinantes, disfarçando-as com submisso sorriso e um olhar que buscava ser alegre entre as lágrimas que escorriam.

Conheci Elisa no caminho do trabalho. Com chuva ou sol eu buscava o ponto de ônibus rumo à fábrica de calçados. Em um dia chuvoso e frio, o ônibus lotado, parecendo que todos haviam decidido naquele dia fazer uso do circular, ajeitei-me como pude, empurrando um e outro e me acomodando nos restritos espaços disponíveis. Na parada próxima ao hospital uma moça desesperou-se quase impedida de chegar à saída. As pessoas não lhe davam espaço para passar, apesar de suas rogativas. Auxiliei-a, algumas vezes mal educadamente, pois algumas pessoas não se tocavam. Ela agradeceu-me apressada.

Nunca mais a vi até ferir-me na fábrica. Levado ao hospital fui atendido por ela, enfermeira de plantão. Conversamos bastante, rimos daquele dia no ônibus, falei sobre a produção de calçados femininos e de alguns modelos que iria gostar. Interessou-se em conhecer a fábrica, embora eu acreditasse que sua fala fosse apenas gentileza enquanto ela dava alguns pontos no meu braço. Mas não foi simples promessa, em um final de tarde foram me chamar dizendo que estava sendo procurado por uma moça. A moça era Elisa. Apresentei-lhe todos os setores e combinamos jantar. Havia uma pizzaria muito boa e ela declarou ser apaixonada por escarola. Nessa noite, pela primeira vez, tomamos um vinho juntos. O vinho que seria o símbolo de nossa união.

A partir desse dia intensificaram os encontros, os telefonemas e eu lhe remetia flores uma vez por semana. Gostava de flores de tons azulados ou arroxeados. Muitas vezes eu rodava a cidade toda em busca de uma flor que pudesse traduzir tudo o que sentíamos um pelo outro. Em uma das vezes enviei-lhe um colar de turquesas, belíssimo. Após ele, o noivado. Uma festa familiar, com poucos amigos, mas muito alegre. Um sonho que se materializava tão cheio de felicidade que parecia ser impossível estar acontecendo.

O casamento foi na Capela de Santo Ângelo, rodeada por um jardim de camélias, esporinhas e rosas. Viajamos para Roma. Elisa falava muito bem o italiano. Uma língua que apreciava. Ouvia suas músicas, cantarolava enquanto trabalhava em casa.

Pouco tempo depois nasceu Bertoldo, nosso menino. Bertoldinho. Ela apressou-se a ensinar-lhe as duas línguas. Como havia sido promovido e estava tendo um salário razoável, Elisa preferiu ficar junto de Bertodinho e deixou o hospital.

As coisas caminhariam bem se não fosse Rosa. Rosa era uma moça muito bonita, ambiciosa, dedicada no trabalho e que acreditou estar apaixonada por mim. Enviava cartões e presentes que eu procurava não aceitar e esclarecê-la que deveria procurar outra pessoa, alguém que gostasse dela, mas Rosa estava estranhamente fixa na ideia de que se casaria comigo. Disse uma vez que bastaria um filho. Rosa buscou tornar nossas vidas um verdadeiro inferno. Fazia ligações para Elisa, interceptava-nos quando saíamos para jantar em algum restaurante, ameaçava-me.

Para dar um basta nisso encontrei um meio de despedi-la da fábrica. Falei longamente com ela e adverti que não mais se aproximasse de nós, em especial de Elisa. Rosa deixou o escritório transtornada, em prantos e avisou-me que minha felicidade terminava ali, naquele momento.

Daquele dia em diante começamos a encontrar coisas na casa. Uma oferenda com mariscos no portão de casa, uma bonequinha de pano cheia de cabelos de Elisa e espetada de alfinetes, um gato preto morto dilacerado e tendo fincado nele o nome de Elisa. Entendemos que Rosa buscava nos aterrorizar, pressionar, invadindo nossa casa sem ser vista e deixando recados ameaçadores através de objetos que postava nos mais surpreendentes lugares. Vultos passaram a ser vistos pela casa, ruídos durante a madrugada, gargalhadas que rompiam o silêncio e a tranquilidade de nosso lar. Algumas árvores secaram sem motivo aparente e com uma rapidez inacreditável.

Elisa solicitou que o Padre Edmundo fosse benzer a casa. Confiava nele. O Padre almoçou conosco, esclareceu que se tratava apenas de pressão psicológica e que acreditássemos em Deus e não naqueles objetos que nenhum mal poderiam nos fazer. Naquela noite dormimos serenos, sem qualquer acontecimento anormal. Estamos certos de que as bênçãos haviam exorcizado quaisquer energias negativas que pudessem estar circulando pela residência.

Fomos chamados ao colégio, em uma tarde, com a informação de que Bertoldinho havia se machucado. Tinha caído do escorregador e quebrado o braço. Mas eram coisas que poderiam acontecer a qualquer criança hiperativa.

Na madrugada, contudo, Elisa despertou com fortes dores abdominais. Essas dores se ampliariam e acompanhariam Elisa até seus últimos dias. Exames inúmeros, visitas a diferentes clínicas e pareceres contraditórios dos médicos. Não se identificavam as causas das dores e emagrecimento contínuo de Elisa. A cada dia uma palidez parecia cristalizar-se em seu rosto, os olhos foram se tornando opacos e o sorriso difícil de emergir de tanto sofrimento.

Procurei Rosa. Pedi que me perdoasse, mas não a amava e se ela tivesse feito algum mal a Elisa que fosse desfeito, ela não tinha culpa do fato de eu não gostar dela. Rosa contou que sustentava a família e que perder o emprego levou a todos a uma série de privações. A mãe já idosa não resistiu a falta de comida, morreu de fome. Sua irmãzinha passou a prostituir-se para ganhar um pedaço de pão. Reafirmou que eu não seria mais feliz e Elisa morreria. Ofereci-lhe dinheiro, jóias, o que desejasse para parar com essa vingança, mas Rosa disse que apenas iria desfazer o que havia feito se fôssemos para a cama.

Saí da casa paupérrima de Rosa com um imenso nó na garganta.

Dias após Elisa recebeu a fita com as imagens do que acontecera comigo e Rosa. Elisa manteve esse segredo. Somente depois de muito tempo da morte dela é que a encontrei escondida em sua caixinha de lembranças. A preservara sem nunca tocar no assunto.

Um suspiro mais profundo e Elisa deixou este mundo fisicamente. Mas ainda continua comigo, talvez tenha me perdoado pela traição, entendendo que buscava um meio de tirá-la daquele sofrimento. Não sei de Rosa, disseram-me que havia viajado, ido embora em busca de parentes distantes.

Bertoldinho  parece feliz. É estudioso, dedicado e quer cursar medicina.

Hoje trouxe hortênsias para Elisa. A tarde está clara com um leve rosa no horizonte. No túmulo ao lado, tanto quanto eu uma moça parece não se esquecer de seu falecido marido. Chama-se Lúcia Helena. Tem o jeito meigo de Elisa. Alguma coisas parece nos atrair um para o outro.

- Vejo que você, eventualmente, deixa aqui uma garrafa de vinho. Sua esposa tinha bom gosto...também aprecio muito essa marca – comentou ela olhando-me com um leve sorriso.

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CONTOS EMANADOS DE SITUAÇÕES COTIDIANAS

“Os contos e poemas contidos neste blog são obras de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência”

SABORES DO COMENDADOR

Ator Nacional: Carlos Vereza

Ator Internacional: Michael Carlisle Hall/ Jensen Ackles/ Eric Balfour

Atriz Nacional: Rosamaria Murtinho / Laura Cardoso/Zezé Mota

Atriz Internacional: Anjelica Huston

Cantor Nacional: Martinho da Vila/ Zeca Pagodinho

Cantora Nacional: Leci Brandão/ Maria Bethania/ Beth Carvalho/ Alcione/Dona Ivone Lara/Clementina de Jesus

Música: Samba de Roda

Livro: O Egípcio - Mika Waltaire

Autor: Carlos Castañeda

Filme: Besouro/Cafundó/ A Montanha dos Gorilas

Cor: Vinho e Ocre

Animal: Todos, mas especialmente gatos, jabotis e corujas.

Planta: aloé

Comida preferida: sashimi

Bebida: suco de graviola/cerveja

Mania: (várias) não passo embaixo de escada

O que aprecio nas pessoas: pontualidade, responsabilidade e organização

O que não gosto nas pessoas: pessoas indiscretas e que não cumprem seus compromissos.

Alimento que não gosta: coco, canjica, arroz doce, melão, melancia, jaca, caqui.

UM POUCO DO COMENDADOR.


Formado em Matemática e Pedagogica. Especialista em Supervisão Escolar. Especialista em Psicologia Multifocal. Mestre em Educação. Doutor Honoris Causa pela ABD e Instituto VAEBRASIL.

Comenda Rio de Janeiro pela Febacla. Comenda Rubem Braga pela Academia Marataizense de Letras (ES). Comenda Castro Alves (BA). Comendador pela ESCBRAS. Comenda Nelson Mandela pelo CONINTER e OFHM.

Cadeira 023, da Área de Letras, Membro Titular do Colegiado Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba, patronesse Juliana Dedini Ometto. Membro efetivo da Academia Virtual Brasileira de Letras. Membro da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. Membro da Literarte - Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos. Membro da União Brasileira de Escritores. Membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza (ALAF). Membro da Academia de Letras de Goiás Velho (ALG). Membro da Academia de Letras de Teófilo Ottoni (Minas Gerais). Membro da Academia de Letras de Cabo Frio (ARTPOP). Membro da Academia de Letras do Brasil - Seccional Suíça. Membro da Academia dos Cavaleiros de Cristóvão Colombo. Embaixador pela Académie Française des Arts Lettres et Culture. Membro da Academia de Letras e Artes Buziana. Cadeira de Grande Honra n. 15 - Patrono Pedro I pela Febacla. Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Iguaba Grande (RJ). Cadeira n.º 2- ALB Araraquara.

Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Taquaritinga pelos serviços em prol da Educação. Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Bebedouro por serviços prestados à Educação Profissional no município. Homenagem pela APEOESP, pelos serviços prestados à Educação. Título de Cidadão Bebedourense. Personalidade 2010 (Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade Mais Influente e Educador 2011(Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade 2012 (ARTPOP). Medalha Lítero-Cultural Euclides da Cunha (ALB-Suíça). Embaixador da Paz pelo Instituto VAEBRASIL.

Atuou como Colunista do Diário de Taquaritinga e Jornal "Quatro Páginas" - Bebedouro/SP.
É Colunista do Portal Educação (http://www.portaleducacao.com.br

Premiações Literárias: 1º Classificado na IV Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – SP, agosto/2005, Clube Amigo das Letras – poema “A benção”, Menção Honrosa no XVI Concurso Nacional de Poesia “Acadêmico Mário Marinho” – Academia de Letras de Paranapuã, novembro/2005 – poema “Perfeita”, 2º colocado no Prêmio FEUC (Fundação Educacional Unificada Campograndense) de Literatura – dezembro/2005 – conto “A benção”, Menção Especial no Projeto Versos no Varal – Rio de Janeiro – abril/2006 – poema “Invernal”, 1º lugar no V Concurso de Poesias de Igaraçu do Tietê – maio/2006 – poema “Perfeita”, 3º Menção Honrosa no VIII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba – setembro/2006 – poema “Perfeita”, 4º lugar no Concurso Literário de Bebedouro – dezembro/2006 –poema “Tropeiros”, Menção Honrosa no I concurso de Poesias sobre Cooperativismo – Bebedouro – outubro/2007, 1º lugar no VI Concurso de Poesias de Guaratinguetá – julho/2010 – poema “Promessa”, Prêmio Especial no XII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba, outubro/2010, poema “Veludo”, Menção Honrosa no 2º Concurso Literário Internacional Planície Costeira – dezembro/2010, poema “Flor de Cera”, 1º lugar no IV Concurso de Poesias da Costa da Mata Atlântica – dezembro/2010 – poema “Flor de Cera”. Outorga do Colar de Mérito Literário Haldumont Nobre Ferraz, pelo trabalho Cultural e Literário. Prêmio Literário Cláudio de Souza - Literarte 2012 - Melhor Contista.Prêmio Luso-Brasileiro de Poesia 2012 (Literarte/Editora Mágico de Oz), Melhor Contista 2013 (Prêmio Luso Brasileiro de Contos - Literarte\Editora Mágico de Oz)

Antologias: Agreste Utopia – 2004; Vozes Escritas –Clube Amigos das Letras – 2005; Além das Letras – Clube Amigos das Letras – 2006; A Terra é Azul ! -Antologia Literária Internacional – Roberto de Castro Del`Secchi – 2008; Poetas de Todo Brasil – Volume I – Clube dos Escritores de Piracicaba – 2008; XIII Coletânea Komedi – 2009; Antologia Literária Cidade – Volume II – Abílio Pacheco&Deurilene Sousa -2009; XXI Antologia de Poetas e Escritores do Brasil – Reis de Souza- 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2010; Prêmio Valdeck Almeida de Jesus – V Edição 2009, Giz Editorial; Antologia Poesia Contemporânea - 14 Poetas - Celeiro de Escritores, 2010; Contos de Outono - Edição 2011, Autores Contemporâneos, Câmara Brasileira de Jovens Escritores; Entrelinhas Literárias, Scortecci Editora, 2011; Antologia Literária Internacional - Del Secchi - Volume XXI; Cinco Passos Para Tornar-se um Escritor, Org. Izabelle Valladares, ARTPOP, 2011; Nordeste em Verso e Prosa, Org. Edson Marques Brandão, Palmeira dos Indios/Alagoas, 2011; Projeto Delicatta VI - Contos e Crônicas, Editora Delicatta, 2011; Portas para o Além - Coletânea de Contos de Terror -Literarte - 2012; Palavras, Versos, Textos e Contextos: elos de uma corrente que nos une! - Literarte - 2012; Galeria Brasil 2012 - Guia de Autores Contemporâneos, Celeiro de Escritores, Ed. Sucesso; Antologia de Contos e Crônicas - Fronteiras : realidade ou ficção ?, Celeiro de Escritores/Editora Sucesso, 2012; Nossa História, Nossos Autores, Scortecci Editora, 2012. Contos de Hoje, Literacidade, 2012. Antologia Brasileira Diamantes III, Berthier, 2012; Antologia Cidade 10, Literacidade, 2013. I Antologia da ALAB. Raízes: Laços entre Brasil e Angola. Antologia Asas da Liberdade. II Antologia da ACLAV, 2013, Literarte. Amor em Prosa e Versos, Celeiro de Escritores, 2013. Antologia Vingança, Literarte, 2013. Antologia Prêmio Luso Brasileiro - Melhores Contistas 2013. O tempo não apaga, Antologia de Poesia e Prosa - Escritores Contemporâneos - Celeiro de Escritores. Palavras Desavisadas de Tudo - Antologia Scortecci de Poesias, Contos e Crônicas 2013. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXIII, RG Editores. Antologia II - Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro. antologia Escritores Brasileiros, ZMF Editora. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXVI - RG Editores (2014). III Antologia Poética Fazendo Arte em Búzios, Editora Somar (2014). International Antology Crossing of Languages - We are Brazilians/ antologia Internacional Cruce de Idiomas - Nosotros Somos Brasileños - Or. Jô Mendonça Alcoforado - Intercâmbio Cultural (2014). 5ª Antologia Poética da ALAF (2014). Coletânea Letras Atuais, Editora Alternativa (2014). Antologia IV da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). A Poesia Contemporânea no Brasil, da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). Enciclopédia de Artistas Contemporâneos Lusófonos - 8 séculos de Língua Portuguesa, Literarte (2014). Mr. Hyde - Homem Monstro - Org. Ademir Pascale , All Print Editora (2014)

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