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zune ao longe o mocho agoureiro
na lapa escura o lobo uiva
zurra a mula presa na brenha do atoileiro
brilha no céu o relâmpago de faísca ruiva
grita o santo ferido pelo dardo certeiro
destoam os trovões na noite cálida
cinge o corpo inanimado e
triste reza a pueril freira pálida
aterrada pelo ato impensado
do anômalo e ambicioso pela matéria plácida
as nuvens plúmbeas abrem-se
a luzerna argêntea cobre o arfante corpo
o turbilhão tépido e silante
exacerbam sobre o lívido morto
do bosque some-se a lépida corça
voam as últimas folhas do tronco tosco
denso velame de terra cai
sobre o cadáver do morto
daquele que a ira de Deus atrai
a patética cena aumenta no albor
a santa freira em seus arroubos
tem seu corpo em extremo langor
disseca o voo dos corvos
compreendendo seu sóbrio labor
pelas aras tem olorosa paz parida
lobrigando a idílica vida
tornando-se das almas amiga
conturbada venceu a malina
andou pelas plagas e viu que para as Santas Almas
não havia orago.
viu templos de Isabel, de Maria,
de Inês, de Paulo e do Discípulo Amado,
somente das almas não havia encontrado.
voltou às grenhas do bosque
chamou homens e mulheres
que sentados cantavam bizarria
pronunciavam reviretes
encarnicou a Santa Freira Maria
não podia contar com estes
espiritados alegretes!
com ademanes rompantes
bridou os tristes manifestantes
discorreu o ambiente
mantendo o siso, confiante,
não poderia aderir àquilo,
dispensando-os com cobro antes!
prostrou em oração constante
o ocaso dava vida aquelas serras
íngremes, escabrosas,
penhas toscas, rotundas, matizadas,
mas o olhar de fé tornavam-nas apenas
pétalas de rosas...
deixando-as abrandadas!
pensou em ali fundar a capela
na amurada parca da serra.
taful seguia a freira diariamente
pela frágua das rochas
construindo o templo do Amor Ardente
mas a atroz população da vila
logo a acusou de idolatria.
com a mofina vida
assim mesmo sem cessar seguia
camponesas onzoneiras logo exclamavam:
- Onde iria?
Logo chegou ao padre
notícias da sacrílega freira
seria derrubado o templo da
execranda feiticeira!
a alcovitice subia pelas ruas
deviam apear a morada naquela sexta-feira!
as multidões proliferavam
vinham homens, mulheres e crianças nuas
seguia o povo parvo e ledo
disseminando aquele desvario
em tilintar de armas sem medo
para matar a serviçal freira
seguia o armentio
férvidos seguiam os néscios
impregnando pelos tortuosos rios
ia uma potestade de cegos!
o bramido chegou à gruta
pertinazes invadiram:
coerência pediu a Santa Musa
as pedras e os altares riscados
por tudo que o ódio emana
homens fulôs e aguerridos
naquela bulha insana
os turíbulos são esbandalhados
por aquela consciência ufana
os corpos insanamente violentados
pelos jagunços de mente inumana
a lança perpassa a freira santa
desalentado jaz seu corpo ao chão
poento, plácido, encanta,
ao herético povo sem coração
no ermo medita os restos de vida
pedindo comiseração
os primores do Amor não
necessitam de templos
traduzem-se em ação...
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