Os homens de um antigo vilarejo são convocados para a guerra. Roderigo, um adolescente, aterrorizado pela possibilidade de integrar a tropa real, busca o alto da montanha e diante do abismo assim proclama:
Ó ominoso momento
te afastes do meu ser
os céus ouviram meu lamento
as tempestuosas vagas
tornaram-se calmas
para atentas ouvirem
o milagre das Santas Almas
Tempo I
os dias tangem aproximados
surge a ação nefanda
criando momentos demudados
nesta que é missão santa
imprópria a alistamento de soldados
não há explicação humana
é incógnito o hediondo fato
mas a compleição encanta
a vida inerme
e meu ser imbele, consternado
repugna a guerra execranda
estesta-se o momento atilado
espero a luz amafada
para o tênue e egrégio resultado
Tempo II
Oh! Grandioso prócer Haamiah !
Desce das nuvens do empíreo azul
Permita que eu ouça o estrondoso changor!
E vós, hercúleo gênio, mostra-me
teu poder esconso!
Destrói este vaticínio lôbrego
e oferece-me o apetecível descanso.
Livra-me das armas, esta agrura;
Poupa-me, vos peço, desta nódoa amargura.
Tempo III
A vós Almas Cristãs e Santas
Coadjutoras e silentes minhas
Em revérbero e fecundo instante tantas
vezes implorei intervenção na sina,
vi o vislumbre da esperança
nesta plangente vida...
A vós de cerúleos mantos
Que me livrastes do gilvaz arnês
Agradeço estes momentos santos,
Pois me pouparam de tanto desencanto.
Alforrias-te-me da enrediça situação
Que reboava em altercação.
Em Vós renasceu-me a coragem,
Certo de que não há voragem que
Não consigam dirimir.
Tempo IV
De sobre a lívida nuvem marmórea
Incide o estafeta celestial
Trazendo a insigne glória
Do aviltante presságio fatal.
Eu, atônito, ouço a voz aérea,
no tom ululante do mal.
Soturno o fulvo homem preconiza
A síncope em cenário quimérico
o eflúvio aquela morbidez cênica.
Virações transformam-se em procelas
libertando o turbilhão tantálico,
intricando a inefável cena e bela.
- O régio momento se aproxima
haverá anárquica ação em teu âmago
será abafado o odor da bonina
e tudo parecerá inorgânico!
Não cabe a vós conhecer os atos da metafísica
nem o labor que lhe cabe
mas não será envolvido com a frialdade da milícia!
Assim o nume parte níveo
Prorrompendo ufanista e cônscio
Sem explicar a arcana mensagem.
Somente o sensorial ajudaria,
Fluidos e mórbidos pensamentos
Aos poucos a obsessão apagaria.
Eis que vem a fúlgida imagem dos tempos
Imbuído pela cintilante ideia.
Evoco a rutilância dos santos!
Na mente intuitiva do homem
Acreditando na intervenção das divas!
Flavescentes nuvens vão
Formando anjos de esperanças vivas,
Insone depreco às almas
O agreste destino das armas!
A bulha da lesiva revolução
Ressurgem os sargentos trombudos
Iludidos por ínvio caminho
Nos regimentos difusos
Cativos de falsos carinhos!
Somente as almas fariam esta alteração,
Poupando-me deste pátio eivado
Destes homens acerbos
De suas ordens ríspidas
Tornando-nos seus escravos ou servos.
Afasta-me desta cena nítida
Que incute em meu espírito
A bruma dolente e excruciante da opressão,
Voraces soldados desvairados pela morte
Como selvagens crendo cegamente nos totens!
Abandonando as leis do Altíssimo
Para curvar-se ante as palavras dos homens!
Levianos e pretensos guardas
Exsurjam para o Amabilíssimo
Olvidem o faceto uniforme!
Apaguem os obstáculos que impecem
E tornam teu espírito disforme.
Deixem que os anjos vertam sobre vós
A hialina água lustral
Límpida, etérea e hiemal.
Ó almas santas de lactescentes cendais
Afastem de mim tenebroso destino
Tornem viçoso este ato marcescente
Iluminem este céu nubloso!
Os álacres dias rápidos
Mesclados e soturnos
Enleam a hirsuta dúvida
Com o falaz cupido!
Assim em crebro tom prossegue
Os macerados momentos
Transmontando cenas ardentes
Unidas a atinados adventos.
Ó poderosas intercessoras em clamor
Imploro intricado.
Não permita unir-me a estes algentes
Arranque estas grenhas que tem-me acuado
Retire das lapas estes zumbis e lança-os
nas vagas quentes!
Apaguem de mim este sofrimento
Deem-me a luz da confiança
Dissolvam este ser entanguido
Para que surja nele
o amor refletido.
Que venha a mim
A Luz Imortal do Mestre
Na eterna vivência comigo!
Alea jacta est.
Tempo V
Eis que chega o platibando dia esperado
Na aspereza do sergent, imaginando
Ver-se de seus domínios apartado!
Seu olhar a mim desamparando
Seus gestos, seu contantamento,
De minh´alma os olhos apartando
Não pude encobrir meu sentimento
Aos céus já, já aos santos se queixava
De meu escuro e triste alistamento.
O curso das expressões contemplava
E aquela ordem com que discorria
Almas Santas caridosas adonde estavam?
Efebos alegres adiante via,
Partindo eles, aumentava-me o tormento
Como isto o céu permitia?
De uma porta o regente aparecendo
Submissos, seletos
Cegamente obedecendo.
Assi só, de seu próprio natural
Apartado se via em terra estranha
A cuja triste dor não acha igual.
Só o doce gênio me acompanha
Nas tristes emoções qu´eu sentia
E nos lamentos que o ser banhava!
Quedaram as lantejoulas da fantasia
Da vida parecia isolado
Da fé que d´antes possuía.
Aqui contemplo o gosto já passado
Mas trouxeram-me as almas, a glória,
Abrandou-me o âmago desesperado
Para confirmar sobre eles a efluente vitória!
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