Quanto tempo não te vejo
Envelhecestes?
Onde está aquele sorriso branco
Hoje tão amarelado mas tão doce
Do açucar das horas
Que nas tardes frias de inverno
Ficava a beira da vida alimentando a morte.
Onde está aquele verde jovem dos teus olhos
Hoje tão esbranquiçados, avermelhados
Cheio dessa cinza densa que irrita.
Onde está o mais mínimo gesto de gratidão
Que as vezes esquecia na gaveta do teu quarto
E fingia que era uma criança.
Onde está aquele cabelo castanho claro
Que o tempo ousou em pintá-lo de dourado?
Seria o sol?
Onde está aquela figura radiante e quente
Que fazia das horas uma vida pequena e grande
Hoje tão fria e calculista...
Seria agora a lua?
A cada tempo sofrendo mutações?
Nova, cheia e minguante.
Que tempo é esse terminável
Que insiste a nos colocar máscaras na cara
E ao nos tirarmos a juventude
Nos carregando em direção de onde não queremos ir.
Que êxodo seria essa migração sem fim
Rumo a algum lugar
Ou a lugar nenhum.
Que mão é essa a segurar a xícara
Toda trêmula e insegura
Inibida e infeliz...
Que formiga é essa que adormece
Os braços , as pernas ,
E paralisa o mundo?
Que desgaste é esse feito pela brisa do mar
Ou pelo sal da vida que tanto nos enferruja
E nos trava ante a idade.
Que força é essa?
Essa dor que não cessa
Esse medo que não acaba
Essa ilusão de que tudo é eterno
E nos ofusca a visão e não mais nos deixa enxergar.
Essa consciência dos minutos ...
Que teima nos levar adiante.
E essa flacidez em que ousa disfarçar?
Essa vaidade irremediável
Essa memória já falha
Quem é voce?
Seria aquele sonho de criança
Onde os pais depositavam todas as suas esperanças...
Seria aquela revolução tresloucada,
Onde na calada da noite lutava com seus sonhos
Numa felicidade absurda.
Seria aquele depósito de mudanças
A mudar todos os princípios sempre feito uma camaleoa.
Não?
Quem seria voce então envelhecida
A espera de que por que
Como um réu a espera de algum julgamento
Com esse comportamento juvenil
Com essa vida, com essa semente da juventude
Feito fruta madura.
Não tenhas medo !
É apenas a sua imagem produzida
Que se reflete ante ao espelho...
Saulo Pimenta Neves
Escritor e poeta
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