quinta-feira, 16 de junho de 2011

A MATRIARCA


Um tanto perturbada, Samira saiu sem rumo. Queria andar. Quando tinha problemas andava até cansar, quando voltava estava mais tranqüila, segura e com propostas para superar as adversidades.
- Se a moda pega !, sua irmã brincava com seu estranho modo de digerir situações desgradáveis.
Mas o fato é que funcionava, ao menos para ela. Silena reagia de outra maneira. Gritava, xingava, esmurrava, num ciclone emocional incontrolável. Mesma educação, mesmo pai e mesma mãe, pessoas tão diferentes. Silena era temperamental, cheia de tirar satisfações com as pessoas, sua postura intimidava, as pessoas a engoliam para evitar os barracos que costumava fazer. Quando a situação se mostrava mais complexa, para fugir de confrontos que sabia não ter ascendência, mudava a estratégia e mostrava-se amiga ou vítima, sempre temperando com algumas lágrimas ou coitadismo.
Samira era diferente. Quieta, calada, explodia por dentro. Tentava ser agradável, amiga, disponível. Dentro de si um turbilhão rodopiava incessantemente com sonhos, autocrítica, censuras e uma boa dose de falta de auto-estima. Seu refúgio era a região dos lagos em sua cidade. Um lugar tranqüilo onde as pessoas faziam suas caminhadas, exercícios, pescarias informais ou simples contemplação da natureza. Lá se sentava, acolhida pela grama verdejante e voava com as garças, se encantava com as flores do aguapé, deixava-se levar pela brisa.
Naquele dia, em particular, soubera que Alexandre a traía e não apenas traía, saía com sua melhor amiga, ou pelo menos assim a havia considerado até então. Saía com Devanice. Magra, cabelos volumosos e vermelhos tingidos, sempre com uma calça muito justa. Gostava de parecer o que não era, dizer o que não tinha, enfim contava vantagens o tempo todo, fazia-se de dengosa, cheia de trejeitos, conquistou o moço. O pior é que ninguém contou, Samira viu. Por uma estranha intuição, decidiu ir almoçar tomando outra rua. Passou em frente ao trabalho de Devanice. Era atendente de uma Clínica Odontológica. Estavam agarrados embaixo de uma árvore. Chamam essa árvore de Mimosa. Pura ironia, quase uma afronta. A rua é Rua dos Prazeres. Tudo se encaixava, inclusive os dois. Passou na outra calçada, sem coragem de ir até eles. Dentro de Samira havia um desejo insuportável de espancá-los, dar na cara dos dois, esbravejar, arrancar todos os cabelos de  Devanice. Preferiu seguir em frente, remoendo os três anos, cinco meses e dois dias de namoro.
Em sua caminhada reconstituiu seus dias com Alexandre. Esteve desempregado, ajudou-o financeiramente, assumiu as prestações de sua moto, da faculdade e outras despesas que lamentava possuir. Agora a moto estava paga, a faculdade concluída e namorada nova. Os primeiros dias foram inesquecíveis, os primeiros meses intensos, esfriando gradualmente com a sobrecarga financeira arcada por Samira, que se ocupava em horas extras para dar conta das responsabilidades que assumira em nome do namorado. Chegava em casa exausta e ele mostrava-se altamente compreensivo, não se estendendo muito, já que ela precisava descansar. Alguns beijos e abraços e seguia com sua moto, acompanhado pelo sorriso complacente de Samira. Alexandre evitava o sexo, dizia que a queria por completo após o casamento, o que fazia com que dezenas de sonhos se empilhassem, românticos e inefáveis.
Sentada à beira do lago, Samira se repreendia, julgando-se idiota e incapaz de perceber o quanto havia sido usada. Há quanto tempo ele estaria com Devanice ? Talvez desde o início. Em geral saíam os três juntos, organizavam almoços juntos, churrasquinhos juntos, passeios juntos e, muitas vezes, se oferecia para dar uma carona e levá-la para casa. Como teria conseguido ser tão tola, durante tanto tempo ?
Decidiu andar pelas margens. Precisava andar. Pensou em se atirar nas águas, não sabia nadar, talvez morresse afogada, se tivesse sorte de não ser salva por algum transeunte. Voltava a refletir e não percebia as vantagens de morrer. Ele estava com ela, nem sentiria falta, pelo contrário, seria um alívio, o ajudaria mais uma vez livrando-se desse peso, agora inútil. Olhou as capivaras passeando. Devia ter nascido uma capivara, seria procurada em seu cio, iria parir e que se dane se seu parceiro a estava traindo ou não. Nadaria, pastaria e a vida seria quase perfeita. Quase por que poderia aparecer alguém e matá-la para comer. Mas estava sendo devorada viva por todos esses anos e sentia-se feliz, qual o problema de um tiro certeiro ?
Inconscientemente devorava suas unhas na ânsia de engolir-se, agredir-se, machucar-se. Era inadmissível que tenha permanecido cega a todo cenário tão transparente que se apresentava. Paixão cega e burra. Deixara de estudar, desconsiderou o sonho de seu carro, de suas expectativas de futura esposa de Alexandre e mãe de seus filhos. Agora ele estava formado, com sua moto e com Devanice. Samira estava na ponte olhando o rio e pensando em se lançar nas águas. Investira seu dinheiro nas alegrias e necessidades de seu ex-namorado.
Uma capivara, a grande matriarca, estava olhando fixamente para Samira, como se acompanhasse seus pensamentos e aflições. Samira fitou-a. Olhos nos olhos.
- Você é que é feliz, minha amiga !, considerou Samira tristemente, não conseguindo conter uma pesada lágrima que se lançou ao chão.
Uma centena de pensamentos se debatiam conflituosos. Respirou profundamente. Uma vez mais olhou para a matriarca. Pegou o celular e alegou um problema que a impediria de retornar no período da tarde. Uma desculpa esfarrapada que não faria diferença, ao longo dos anos trabalhara feito uma camela, sem faltar um dia se quer, com chuva, frio ou sol.
Parou no salão da Alzira. Queria passar por uma transformação, novo corte e coloração dos cabelos, unhas das mãos e pés. Renovaria seu guarda-roupas. Depois disso, compraria seu carro, financiado, mas seria seu carro.
Eram quase nove horas da noite quando Alexandre parou sua moto em frente a casa de Samira. A moça segurou a ebulição que se formou dentro de si, antes de ouvir o ronco da moto estava segura e decidida, agora temia abrir a porta. Mais um suspiro e saiu na varanda. Estava deslumbrante, uma beleza que até então estivera escondida. Alexandre surpreendeu-se. Com modos machistas a censurou, não queria a mulher dele daquele jeito. Mas Samira estava forte, mais forte que imaginava. Com elegância soube pontuar cada momento em que viveram juntos. Não cobrou nada, mas deixou clara sua importância na vida dele. Depois revelou que o tinha visto com Devanice. Negou. Vergonhosamente negou.
- Não é preciso mentir ou se justificar, não sou mais necessária, agora é o momento de você viver com Devanice. Você a ama, não ama ?
Alexandre estava confuso. Ameaçou, intimidou, dissimulou. Samira estava impassível. Alexandre afirmou que ela não viveria sem ele. Gritou. Esmurrou a árvore. Uma grande Santa Bárbara. Declarou que Samira iria se arrepender. Saiu a toda velocidade.
Dentro de casa, a moça rendeu-se às emoções.
Por dias mostrou-se no emprego de Samira, na entrada ou na saída, e algumas noites, talvez bêbado ou drogado.
Cinicamente, Devanice a procurou com ares ameaçadores de uma pessoa ofendida, dizendo que jamais trairia sua melhor amiga. Samira a ignorou, comportando-se como se a moça não existisse.
A surpresa de Samira, no entanto, foi quando seu chefe, Sr. Ademar, anunciou a abertura de uma filial em outro Estado e a convidou para gerente. Era o desafio que precisava para sentir-se ainda mais viva. Aceitou.
Coincidência ou não seu apartamento fica próximo a um lago onde desfilam capivaras. Da janela de seu quarto, as segue com o olhar, talvez haja um elo, uma ligação, uma mensagem subliminar, de qualquer forma houve uma conversa muda naquele dia no lago, onde a matriarca implantou algo em Samira que a fez mudar e não se abater por alguém que não se fazia merecedor de sua dedicação. 

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CONTOS EMANADOS DE SITUAÇÕES COTIDIANAS

“Os contos e poemas contidos neste blog são obras de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência”

SABORES DO COMENDADOR

Ator Nacional: Carlos Vereza

Ator Internacional: Michael Carlisle Hall/ Jensen Ackles/ Eric Balfour

Atriz Nacional: Rosamaria Murtinho / Laura Cardoso/Zezé Mota

Atriz Internacional: Anjelica Huston

Cantor Nacional: Martinho da Vila/ Zeca Pagodinho

Cantora Nacional: Leci Brandão/ Maria Bethania/ Beth Carvalho/ Alcione/Dona Ivone Lara/Clementina de Jesus

Música: Samba de Roda

Livro: O Egípcio - Mika Waltaire

Autor: Carlos Castañeda

Filme: Besouro/Cafundó/ A Montanha dos Gorilas

Cor: Vinho e Ocre

Animal: Todos, mas especialmente gatos, jabotis e corujas.

Planta: aloé

Comida preferida: sashimi

Bebida: suco de graviola/cerveja

Mania: (várias) não passo embaixo de escada

O que aprecio nas pessoas: pontualidade, responsabilidade e organização

O que não gosto nas pessoas: pessoas indiscretas e que não cumprem seus compromissos.

Alimento que não gosta: coco, canjica, arroz doce, melão, melancia, jaca, caqui.

UM POUCO DO COMENDADOR.


Formado em Matemática e Pedagogica. Especialista em Supervisão Escolar. Especialista em Psicologia Multifocal. Mestre em Educação. Doutor Honoris Causa pela ABD e Instituto VAEBRASIL.

Comenda Rio de Janeiro pela Febacla. Comenda Rubem Braga pela Academia Marataizense de Letras (ES). Comenda Castro Alves (BA). Comendador pela ESCBRAS. Comenda Nelson Mandela pelo CONINTER e OFHM.

Cadeira 023, da Área de Letras, Membro Titular do Colegiado Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba, patronesse Juliana Dedini Ometto. Membro efetivo da Academia Virtual Brasileira de Letras. Membro da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. Membro da Literarte - Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos. Membro da União Brasileira de Escritores. Membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza (ALAF). Membro da Academia de Letras de Goiás Velho (ALG). Membro da Academia de Letras de Teófilo Ottoni (Minas Gerais). Membro da Academia de Letras de Cabo Frio (ARTPOP). Membro da Academia de Letras do Brasil - Seccional Suíça. Membro da Academia dos Cavaleiros de Cristóvão Colombo. Embaixador pela Académie Française des Arts Lettres et Culture. Membro da Academia de Letras e Artes Buziana. Cadeira de Grande Honra n. 15 - Patrono Pedro I pela Febacla. Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Iguaba Grande (RJ). Cadeira n.º 2- ALB Araraquara.

Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Taquaritinga pelos serviços em prol da Educação. Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Bebedouro por serviços prestados à Educação Profissional no município. Homenagem pela APEOESP, pelos serviços prestados à Educação. Título de Cidadão Bebedourense. Personalidade 2010 (Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade Mais Influente e Educador 2011(Top of Mind - O Jornal- Bebedouro). Personalidade 2012 (ARTPOP). Medalha Lítero-Cultural Euclides da Cunha (ALB-Suíça). Embaixador da Paz pelo Instituto VAEBRASIL.

Atuou como Colunista do Diário de Taquaritinga e Jornal "Quatro Páginas" - Bebedouro/SP.
É Colunista do Portal Educação (http://www.portaleducacao.com.br

Premiações Literárias: 1º Classificado na IV Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – SP, agosto/2005, Clube Amigo das Letras – poema “A benção”, Menção Honrosa no XVI Concurso Nacional de Poesia “Acadêmico Mário Marinho” – Academia de Letras de Paranapuã, novembro/2005 – poema “Perfeita”, 2º colocado no Prêmio FEUC (Fundação Educacional Unificada Campograndense) de Literatura – dezembro/2005 – conto “A benção”, Menção Especial no Projeto Versos no Varal – Rio de Janeiro – abril/2006 – poema “Invernal”, 1º lugar no V Concurso de Poesias de Igaraçu do Tietê – maio/2006 – poema “Perfeita”, 3º Menção Honrosa no VIII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba – setembro/2006 – poema “Perfeita”, 4º lugar no Concurso Literário de Bebedouro – dezembro/2006 –poema “Tropeiros”, Menção Honrosa no I concurso de Poesias sobre Cooperativismo – Bebedouro – outubro/2007, 1º lugar no VI Concurso de Poesias de Guaratinguetá – julho/2010 – poema “Promessa”, Prêmio Especial no XII Concurso Nacional de Poesias do Clube de Escritores de Piracicaba, outubro/2010, poema “Veludo”, Menção Honrosa no 2º Concurso Literário Internacional Planície Costeira – dezembro/2010, poema “Flor de Cera”, 1º lugar no IV Concurso de Poesias da Costa da Mata Atlântica – dezembro/2010 – poema “Flor de Cera”. Outorga do Colar de Mérito Literário Haldumont Nobre Ferraz, pelo trabalho Cultural e Literário. Prêmio Literário Cláudio de Souza - Literarte 2012 - Melhor Contista.Prêmio Luso-Brasileiro de Poesia 2012 (Literarte/Editora Mágico de Oz), Melhor Contista 2013 (Prêmio Luso Brasileiro de Contos - Literarte\Editora Mágico de Oz)

Antologias: Agreste Utopia – 2004; Vozes Escritas –Clube Amigos das Letras – 2005; Além das Letras – Clube Amigos das Letras – 2006; A Terra é Azul ! -Antologia Literária Internacional – Roberto de Castro Del`Secchi – 2008; Poetas de Todo Brasil – Volume I – Clube dos Escritores de Piracicaba – 2008; XIII Coletânea Komedi – 2009; Antologia Literária Cidade – Volume II – Abílio Pacheco&Deurilene Sousa -2009; XXI Antologia de Poetas e Escritores do Brasil – Reis de Souza- 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2009; Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil – Celeiro de Escritores – 2010; Prêmio Valdeck Almeida de Jesus – V Edição 2009, Giz Editorial; Antologia Poesia Contemporânea - 14 Poetas - Celeiro de Escritores, 2010; Contos de Outono - Edição 2011, Autores Contemporâneos, Câmara Brasileira de Jovens Escritores; Entrelinhas Literárias, Scortecci Editora, 2011; Antologia Literária Internacional - Del Secchi - Volume XXI; Cinco Passos Para Tornar-se um Escritor, Org. Izabelle Valladares, ARTPOP, 2011; Nordeste em Verso e Prosa, Org. Edson Marques Brandão, Palmeira dos Indios/Alagoas, 2011; Projeto Delicatta VI - Contos e Crônicas, Editora Delicatta, 2011; Portas para o Além - Coletânea de Contos de Terror -Literarte - 2012; Palavras, Versos, Textos e Contextos: elos de uma corrente que nos une! - Literarte - 2012; Galeria Brasil 2012 - Guia de Autores Contemporâneos, Celeiro de Escritores, Ed. Sucesso; Antologia de Contos e Crônicas - Fronteiras : realidade ou ficção ?, Celeiro de Escritores/Editora Sucesso, 2012; Nossa História, Nossos Autores, Scortecci Editora, 2012. Contos de Hoje, Literacidade, 2012. Antologia Brasileira Diamantes III, Berthier, 2012; Antologia Cidade 10, Literacidade, 2013. I Antologia da ALAB. Raízes: Laços entre Brasil e Angola. Antologia Asas da Liberdade. II Antologia da ACLAV, 2013, Literarte. Amor em Prosa e Versos, Celeiro de Escritores, 2013. Antologia Vingança, Literarte, 2013. Antologia Prêmio Luso Brasileiro - Melhores Contistas 2013. O tempo não apaga, Antologia de Poesia e Prosa - Escritores Contemporâneos - Celeiro de Escritores. Palavras Desavisadas de Tudo - Antologia Scortecci de Poesias, Contos e Crônicas 2013. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXIII, RG Editores. Antologia II - Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro. antologia Escritores Brasileiros, ZMF Editora. O Conto Brasileiro Hoje - Volume XXVI - RG Editores (2014). III Antologia Poética Fazendo Arte em Búzios, Editora Somar (2014). International Antology Crossing of Languages - We are Brazilians/ antologia Internacional Cruce de Idiomas - Nosotros Somos Brasileños - Or. Jô Mendonça Alcoforado - Intercâmbio Cultural (2014). 5ª Antologia Poética da ALAF (2014). Coletânea Letras Atuais, Editora Alternativa (2014). Antologia IV da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). A Poesia Contemporânea no Brasil, da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Editora Iluminatta (2014). Enciclopédia de Artistas Contemporâneos Lusófonos - 8 séculos de Língua Portuguesa, Literarte (2014). Mr. Hyde - Homem Monstro - Org. Ademir Pascale , All Print Editora (2014)

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