" O essencial para a nossa felicidade é a nossa condição íntima, e desta somos nós os senhores." (Epícuro)
Vivemos um momento sinalizador apontando novas diretrizes para nossa civilização. Muito se tem falado e escrito sobre a crise ou mudança, algumas vezes dramática e negativa, de valores antes cultivados e cultuados. Novos valores e novos comportamentos e posturas conduzindo a sociedade para diferentes ações, padrões, relações. A estrutura familiar também sofreu modificações. A antiga visão de uma mulher mãe e exclusivamente “senhora do lar” cedeu espaço para uma família que passou organizar-se de diferentes maneiras, avançando a mulher no mercado de trabalho, e os filhos ficando sob responsabilidade de uma babá ou em uma creche, ou ainda transferindo para a escola as atribuições de educar. Outras formas de organização familiar também emergiram.
A escola passou a receber inúmeras funções somando o educar, o formar, o assistir (no sentido de assistência), o encaminhar (a uma profissão, ao mercado de trabalho, à vida em sociedade). Funções que se acumularam e pesaram sobre um professor nem sempre bem formado ou não preparado para assumir em seus ombros todas essas tarefas. Poderíamos abrir aqui campo para amplas discussões que vão desde a formação pedagógica do professor, quase sempre teorizada e distante do cotidiano da sala de aula, cuja prática está centrada exclusivamente na observação em algumas horas de estágio supervisionado; ou ainda a falta de conhecimento de metodologias de ensino, recursos didáticos que poderiam auxiliá-lo, compreendendo aqui o domínio e utilização adequada atendendo-se a objetivos claros em cada aula previamente elaborada.
Por outro lado, outros problemas se apresentam, mesmo que seja um profissional devidamente preparado para os desafios educacionais. De um lado poderá deparar-se com um quadro de alunos despreocupados em aprender, aparentemente sem objetivos pessoais, imediatistas, completamente passivos, sem capacidade de questionar, criticar, sem a saudável curiosidade de aprender. Ou ainda agressivos, alheios, alimentados por valores confusos, preocupados em um extremo desejo de pertencimento a um grupo, geralmente com características mal definidas. Pode ainda encontrar alunos interessados, porém sem uma base de informação ou conhecimento que lhes permita interagir de maneira rica e produtiva, exigindo ao professor fornecer toda a estrutura, enfrentando o tempo e o próprio plano de trabalho que lhe compete desenvolver.
Nesse cenário, muitas vezes, inóspito ergue-se a escola. E a partir desse cenário podemos confabular sobre exatamente qual seu objetivo e o que ou quem pretendemos formar nesse longo período em que o aluno ocupa um lugar em seus bancos. O torvelinho cotidiano gera uma dinâmica perigosa que leva a matricular o aluno, levá-lo a sala de aula e entregar-lhe um diploma ou certificado. A rotina, o corre-corre cotidiano leva o docente a entrar nessa mesma sala de aula, passar as informações, correr para outra sala de aula ou outra escola, repetir os textos dos diversos autores dos livros que carrega consigo e assim seguir em seu dia-a-dia, intercalando com provas e trabalhos para corrigir.
Talvez devamos nos estacionar um pouco e repensar estas questões. Semestralmente ou anualmente uma grande quantidade de indivíduos entram e saem da escola. Qual ou quais objetivos nos levam a procurar a escola ? Aprender a ler e escrever ? Contar ? Preparar-se para o vestibular ? Preparar-se para a vida ? Até onde vai o dever da escola e da família, na educação ?
Entendo que uma das principais funções da escola é levar o aluno a uma sólida construção de seus conhecimentos. Não apenas informá-lo sobre uma centena de temas distribuídos em diversas disciplinas que compõem o currículo. A escola deve formar pensadores. Sim, ensinar a pensar, a ser criativo, a explorar seus próprios potenciais, ensiná-lo a autonomia, independência, a aprender a aprender de uma maneira dinâmica e infindável.
Se pararmos por alguns poucos instantes e olharmos para nossa própria história (enquanto seres humanos) vamos poder admirar Demócrito de Abdera ou Epicuro de Samos, mais adiante Voltaire e David Hume, Guilherme de Ockham e umas dezenas de outros, pensadores, que apresentaram sua visão da vida ao mundo, estudaram os fenômenos que nos rodeiam. Quando falamos em Isaac Newton dá-se a impressão de um ser quase mágico, que se destacou apenas por sua inteligência. Essa concepção nos mantém em nosso ‘berço esplêndido” muito bem acomodados e justificados.
Falar em inteligência hoje é adentrar um mundo altamente complexo. Podemos abordar as inteilgências múltiplas de Gardner, falar em inteligência emocional, em inteligência relacional, em inteligência condicional e até em inteligência espiritual. Podemos nos encantar com as obras de Malangatana ou de José Augusto Sant´Anna Dionísio e perceber a beleza do conhecimento e das muitas formas de expressá-lo.
E esse devaneio foi justamente para que possamos refletir sobre a formação de pensadores em nossas escolas. Pensar em pessoas que podem exteriorizar suas idéias, produzir suas obras. Falamos, atualmente, de maneira persistente em nossas escolas, sobre ética, cidadania, liderança...falamos...talvez seja o decisivo momento de pensarmos sobre os líderes éticos e cidadãos que podem, através do auxílio de nossas mãos, contribuirem para que tenhamos um mundo melhor, mais justo, íntegro e solidário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário