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A Força
Sorte, Sorte, Sorte
Reviravolta
Da Austrália, Francisco resolveu visitar algumas capitais no Continente Africano. Há tempos desejava realizar essa viagem. Cidade do Cabo, Pretória, Bloemfontein, Nairobi, Abuja, Yaoundé, Brazzaville e o Cairo. Muitas pessoas, muitos contatos e a idéia de um livro na área de Administração, focado em vendas, onde possuía amplo domínio. Arriscou-se a ministrar algumas palestras e entusiasmou-se com a receptividade. Era mais um caminho a ser explorado. De retorno ao Brasil propôs-se a organizar melhor essa trajetória.
Em uma noite visitou o “Falange” um bar voltado para o público GLS. Entre drinks e música tecno conheceu Tifany. O bate-papo prosperou até um motel. A partir desse encontro outros sucederam. Identificavam-se.Certa vez o pneu do carro de Francisco furou em uma rua pouco movimentada, a noite já avançava, quando sentiu a intervenção de um rapaz com uma arma que não soube identificar se verdadeira ou não. O fato é que era um assalto. O ato apenas não foi concluído em razão de um assobio agudíssimo e o alerta “esse é meu!”. Tifany surgia no momento exato. Muitas risadas e foram comemorar o êxito dessa aparição espetacular.
A intimidade permitiu a Tifany revelar que havia abandonado a casa dos pais. A mãe tinha sido assassinada e o pai perdera tudo acabando por administrar um pequeno brechó. Uma distração e Francisco gelou ao saber que o pai de Tifany era Guilhermo. A vida se utilizava de caminhos tortuosos para reaproximá-los. Embora Tifany falasse com carinho do homem que a iniciara na vida sexual, Francisco optou por continuar identificando-se como Diego.
Um sentimento tumultuado começara a rodopiar em Diego. Tudo o que planejara havia acontecido. Hoje Guilhermo, certamente, seria uma pessoa infeliz. Tifany, contudo, não precisava sofrer. Não podia ser responsabilizada pelo pai que tivera. A imagem de Norberta havia passado a persegui-lo, a raiva a dissolver-se. Entretanto, a imagem de Erin emergia das profundezas de sua memória e voltava a justificar todas as suas ações. Algo acontecia. Estarei se apaixonando novamente? Estaria arrependido, sentindo-se culpado?Passou por diversas vezes diante do brechó de Guilhermo. Um lugar simples, mal organizado, nada atrativo. Relembrou o orgulho daquele homem de terno e gravata comandando importantes setores de uma multinacional. A queda havia sido muito grande. Descobriu, através de vizinhos, que estava casado com Celita e tinha dois filhos, Abiezer e Batuel. A vida passara a ser modesta. Não encorajou-se visitá-lo. Ao que se soube, agora tornara-se pastor fervoroso e dedicava-se acima de tudo a sua crença.
Pulsava um grande desejo de ajudar Tifany. Assim pensando contribuiu para algumas cirurgias de beleza e estética, roupas e uma tournée pela Europa. Acreditou que dessa forma estaria em paz com sua consciência. Não seria possível reconhecê-la, dada a beleza delicada, a perfeição das cirurgias realizadas pelos mais conceituados profissionais, a alegria e o entusiasmo como se fosse uma garotinha que fosse ao parque de diversões pela primeira vez. Tifany confessou a Francisco que, na verdade, ainda amava o homem que conhecera na infância e faria tudo para estar com ele. Um sentimento duplo fez palpitar o coração de Francisco. Deveria contar-lhe a verdade?Palestras e acordos para o lançamento do livro levaram Francisco de retorno à Europa. De Portugal para Perth e de Perth para San Francisco. Quando retornou ao Brasil estava decidido a contar a verdade para Tifany. Entre lágrimas, sorrisos e abraços o segredo veio à tona. A felicidade de Tifany foi infinita. À princípio não compreendeu por que não pôde saber logo disso, no que foi justificado pelo fato de se ter certeza de que realmente tratava-se de Eiton.
Foram residir no apartamento de Francisco. A vida de Tifany continuou com seu glamour com shows, agora apimentados com muitas viagens pelas capitais do país, além de Paris e Roma. O barco da vida voltava a seguir sereno. Em Recife, Tifany conheceu Romoaldo. Tornaram-se amigos, foram tomar chopp juntos. Em suas conversas descontraídas surpreendeu-se com a desenvoltura do homem que afirmou já ter residido no Rio de Janeiro por muito tempo. O álcool e a conversa animada foram dando espaço a confidências até que o homem comentou que seu apelido era Gambá. A moça chocou-se. Um turbilhão de coisas passaram pelos pensamentos. Tentou levantar-se, mas encorajou-se e de queima roupa perguntou se ele havia sido preso pelo assassinato de Norberta. Queria chorar, voar em cima dele, gritar, esbravejar, mas havia aprendido a dominar suas emoções, aquela era a oportunidade para saber sobre o fato. Precisava de sangue-frio. Disse ter lido nos jornais.
Gambá narrou-lhe que havia estado preso pela morte de Erin que era amante de um tal Francisco. Esclareceu que a morte havia sido um acidente quando ela tentava fugir. Revoltou-se dizendo que quem deveria ter sido preso era Guilhermo, o mandante. Tifany queria desmaiar, mas conteve-se. Sobre Norberta falou da acusação recaída sobre Saci, mas que sabia que ele havia recebido um bom dinheiro de Francisco para desaparecer. Provavelmente Francisco teria sido o autor da morte da mulher.Tifany chegou zonza ao hotel, chorou o que não pode chorar diante de Gambá. Estaria Francisco junto dela para matá-la também? Perdeu o desejo de regressar, iria para Natal e Fortaleza, encontraria maneiras de colocar a cabeça no lugar, se reorganizar. Um meteorito atingira sua cabeça em cheio.
Naquela noite não conseguiu dormir. Pegou o telefone várias vezes e pensou em abrir o jogo com Francisco ou, talvez Diego. Quem era final aquele homem com quem estava dormindo e atendia a todos os seus desejos? Tudo também poderia ser invenção de Gambá, por que deveria confiar mais nele do que em Francisco? Até aquele momento revelava-se outra pessoa. Todo quebra-cabeça se encaixava perfeitamente, por outro lado, sendo impossível que aquele homem residindo tão distante tivesse tantas informações. Que coincidência era aquela que os levava a se conhecer, conversar e desenterrar esse tenebroso passado?Seria preciso eliminar Francisco antes que ele a matasse.
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