(para compreender esta estória é necessária a leitura de “A Força “ e “Sorte, Sorte, Sorte”)
Francisco tornou-se um homem influente, vivendo entre o Brasil, Austrália e Londres, conquistando cada vez mais espaço na Nhaum Management. A vida se reequilibrava trazendo entusiasmo, criatividade e disposição. Erin se empenhava para que tivesse tudo bem dentro do possível e revelava-se uma companheira presente e pronta para apoiá-lo em especial nos momentos mais difíceis de decisões ou os naturais conflitos dentro da empresa.
Um dos maiores problemas enfrentados por Francisco chamava-se Guilhermo. Ambicioso, malicioso e oportunista estava sempre na cola de seu chefe. Empenhava-se para mostrar sua importância, o quanto a empresa dependia dele e era fulminante nos olhares, meias palavras e insinuações que corroíam muitas ações importantes de Francisco e colocavam em risco muitas das atividades da empresa. Guilhermo era daquelas pessoas capazes de envenenar qualquer conversa, dar sentido diverso a uma proposta e contagiar negativamente várias pessoas. Para isso sabia utilizar a fragilidade, ignorância, frustrações e expectativas dos funcionários: a cada um tocava sua própria música e assim conduzia a orquestra desconcertando trabalhos significativos.
Simulando estar próximo das decisões da cúpula da empresa injetava descontentamentos, dúvidas e interpretações errôneas distorcendo as ações de Francisco.
A persistência de Guilhermo levou-o a descobrir a existência de Erin e sua importância na vida de Francisco. Passou a sondá-la, acompanhar seu cotidiano, seu ritmo de vida, hábitos, horários. Todas essas ações tinham como objetivo um plano para chocar o seu adversário. Sabendo que ao final da tarde, Erin costumava caminhar pela praia, contratou dois rapazes para darem um susto na moça.
Os dois moços aguardaram o momento mais propício para abordarem Erin e levá-la consigo. Levaram a moça para um casebre em um bairro afastado. O objetivo era simular um seqüestro, arrancar alguma grana de Francisco e libertá-la. Porém, Gambá, um dos rapazes, entusiasmou-se em demasia com a beleza da loura e tentou uma transa forçada. Foi aí que descobriu não se tratar de uma moça. Adestrado pelo preconceito, Gambá passou a ofender, zombar e espancar mais agressivamente Erin, apesar dos alertas de Saci.
As reações de Erin defendendo-se e um certo interesse de Gambá o conduziram ao estupro. A resistência de Erin e a imposição do rapaz levaram Erin a bater a cabeça em um banco de cimento encostado à parede, levando a óbito. O desespero de ambos foi altíssimo, levando-os a levar o corpo e lançá-lo na praia. Não demorou para que fosse localizado.
A vida de Francisco levou um baque. A perda de Erin o levou a bancarrota. Perdeu o ânimo de viver, de trabalhar, de prosseguir. O relacionamento com Erin veio à tona e Guilhermo usou de todos os mecanismos estruturados pelo preconceito para gerar dificuldades, dor, humilhações e desconforto para Francisco.
Erin havia deixado a ele uma fortuna. Uma fortuna capaz de mudar radicalmente a vida de uma pessoa. Uma fortuna que nada significava diante do ocorrido.
As investigações oscilaram entre Francisco ser o mandante do crime, sendo o principal suspeito, e outras possibilidades identificadas pela polícia. A investigação foi lenta até que Francisco fora chamado por seu advogado para comparecerem à Delegacia. Haviam detido um responsável pelo crime. Seu nome: Saci. Um adolescente de dezessete anos. O rapaz havia relatado com minúcias o que acontecera e decidira revelar que tudo acontecera por ordens de Guilhermo. Guilhermo havia oferecido um bom dinheiro que seria complementado pelo pagamento do resgate por Francisco, mas Guilhermo não os pagara e nem conseguiram o dinheiro do seqüestro devido a morte de Erin.
Saci levou a polícia até Gambá que estava isolado em uma cidadezinha no Estado de Alagoas. De Gambá até Guilhermo foi um salto. O aparato de advogados de Guilhermo, contudo, gerou inúmeras dúvidas, contradições, levando a responsabilizar exclusivamente os dois rapazes. Passaram-se cinco anos até a Justiça entender pela absolvição total de Guilhermo e a condenação de Gambá e Saci.
Francisco deixou a empresa, passando a atuar em uma concorrente e Guilhermo passou a ocupar o espaço deixado por Francisco. Francisco mudara seus conceitos, seus paradigmas, suas crenças, seus valores. Era outro.
Guilhermo residia em um apartamento luxuoso com sua esposa, Norberta, e seu filho Eiton. Francisco tinha um plano perverso que arquitetara aos poucos, fortalecendo cada gota de sua vingança. Para isso, na saída da escola passou a aproximar-se de Eiton. Sempre dava balas ao garoto e pedia sigilo, uma amizade secreta se estruturava. Os contatos foram se aproximando a ponto do garoto dizer para Norberta que teria trabalhos escolares, mas encontrava-se com Francisco para tomar sorvete, ir ao parque ou a uma doceria. A confiança crescia.
Aos poucos conduziu Eiton para sua casa onde favorecia e oportunizava brinquedos, o fez experimentar cigarro, bebidas...o proibido empolgava cada vez mais o menino que via em seu amigo a possibilidade de descobrir coisas que seus pais não permitiam.
Francisco o desafiou a beijar. O menino nunca havia beijado na boca e encontrou ali um professor disposto a ensiná-lo. Do beijo a carícias e outras descobertas sexuais tudo foi acontecendo passo a passo.
Meses avançaram. Havia chegado um outro importante momento de seu plano. Deveria encontrar-se com Norberta. Já conhecia cada segundo da vida da esposa de Guilhermo. Na saída do Shopping simulou um esbarrão, um encontro e o éter permitiu que ela fosse levada para longe dali. Um poderoso sonífero a manteve inconsciente. Francisco arrancou-lhe o coração e decepou-lhe as duas mãos. Deixou o corpo em uma praça mal iluminada e isolada de um bairro ainda em formação. Tomou todas as precauções para que não houvesse vestígios.
A morte de Norberta caiu como um raio sobre Guilhermo. Descobriu que Saci já estava livre e, certamente, seria o responsável. O bom comportamento na prisão lhe assegurara certos benefícios. Uma caçada foi deflagrada em busca do possível assassino, sem êxito. Francisco já havia providenciado o desembarque do moço em Angola, com outra identidade e dinheiro suficiente para se estabelecer e viver tranquilamente.
Por outro lado, a ausência da mãe aproximou ainda mais Eiton de Francisco. Francisco passou a insistir e estimular que o garoto fosse como a mãe. Em seus encontros o travestia e nessas brincadeiras se tornavam Guilhermo e Norberta.
Guilhermo apressou-se em contratar uma senhora para cuidar de Eiton. Severa fazia jus ao nome. Era implicante, inflexível, militar conduzindo o garoto com a rigidez de um coronel. De alguma maneira, Severa e sua vigilância cortou o elo entre Eiton e Francisco.
Francisco, contudo, assistia a queda de Guilhermo, cada vez mais inábil, inconsistente nas campanhas da empresa, ampliando conflitos com funcionários e clientes. Por outro lado, por influência ou não de Francisco, Eiton descobria seu interesse por rapazes. Talvez a presença de Francisco tenha sido apenas a chave para abrir algo que já germinava no interior do garoto.
Guilhermo tinha um irmão, que apesar de casado, revelava casos extraconjugais com outros homens. O casamento havia acontecido por imposições sociais. Tinha uma filha, Verônica, que nunca conhecera o tio. Chamava-se Carmelo e era renegado veementemente pelo irmão.
Francisco voltou para Perth, a única maneira que sentia de estar junto de Erin.
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