Quinta-feira, 12 de Maio de 2011
19h15min
Hotel Esteira de Palha
Tartarugalzinho
Estado do Amapá
Brasil
O carro estacionou diante do hotel. A viagem havia sido longa e cansativa, mas valeria a pena, as referências sobre a pequena cidade, seus simpáticos e hospitaleiros habitantes, somado ao fato de ser um lugar tranqüilo, faziam com que toda exaustão se dissipasse. A cidade logo os conquistou pelo ar sossegado e muito verde, com praças arborizadas e circundada por locais incríveis para passeios turísticos. A igreja de pedra foi logo visível, chamando a atenção e encantando o jovem casal.
Lucas e Laís estavam casados há alguns meses, porém somente agora havia sido possível uma viagem. Laís estava grávida de cinco meses e queriam garantir suas núpcias antes do nascimento da criança.
O hotel Esteira de Palha mostrou-se confortável, aconchegante e todos os funcionários muito receptivos e atenciosos. Lucas e Laís entraram no quarto para se organizarem, separar algumas roupas, conhecer o ambiente e elaborar o cronograma de diversões na cidade. O quarto era bastante agradável, de frente para uma praça onde algumas pessoas passavam distraídas.
Lucas arrancou o sapato e lançou-se na cama. Tirou a camisa e largou-se olhando o teto com um sorriso no rosto. Estava feliz. Laís foi tomar um banho para tirar um pouco o cansaço da viagem.
Decidiram procurar um lugar para jantar, queriam conhecer e curtir a cidade. Não foi difícil algumas indicações. Escolheram uma comida caseira e suco de frutas para Laís, cerveja para Lucas. Logo após se deliciarem, caminharam um pouco pelas ruas já quase desertas, parando diante de uma senhora com uma cesta vendendo rosas. Lucas escolheu o botão mais belo e vermelho para presentear sua amada.
No hotel, Laís tratou de colocá-la cuidadosamente em um vaso que solicitou na recepção. A rosa realmente tinha um vermelho muito vivo e sedoso.
A cama os convidou ao repouso. Já eram quase duas horas da manhã quando Lucas despertou com um estrondo no quarto. Sentou-se na cama atento aos ruídos. O silêncio parecia absoluto. Abriu o frigobar apanhou uma água e quando foi retornar a cama viu uma mulher sentada na poltrona próxima a cama. A mulher o observava como se o analisasse. Com mão esquerda apoiava o queixo. Tinha um penteado antiquado, à moda antiga, com muito laquê, as sobrancelhas bem finas e arqueadas. A blusa tinha mangas até o pulso, na cor verde claro, com um colar talvez de pérolas e uma saia aparentemente de linho azul escuro que chegava aos pés, sendo impossível vê-los.
Lucas conteve um grito. Manteve-se estático e trêmulo, enquanto a imagem da mulher se esvaía diante de seus olhos. Correu até a janela buscando ar, sentindo-se sufocado. Havia uma profunda sensação de ansiedade e medo. Laís dormia pesadamente.
Ao amanhecer Lucas é despertado com os chacoalhões da esposa. Laís estava possessa. A rosa havia sido despetalada e o caule esbugalhado. O rapaz recolheu as pétalas sobre os protestos da mulher, justificando e demonstrando que não teria razões para fazer aquilo.
Sexta-Feira, 13 de Agosto de 2010
Hotel Esteira de Palha
9h25min
Um casal chega aos aposentos. A mulher lança a bolsa sobre a cama, enquanto o marido despe-se, ficando apenas de cueca e vai até a janela ver o movimento das pessoas. Fabrícia dirigi-se ao banho e ao sair dele apresenta total alteração de humor, furiosa, acusando o marido de estar fumando.
Heleno esclarece que não estava fumando, que e respeitava o fato dela estar grávida. A mulher, porém, irritada bate a porta e sai do quarto, deixando o marido solitário, que às pressas veste-se para segui-la.
As discussões se acentuam. Os dois conversam tentando acertar-se. Resolvem dar uma volta pela cidade, para distrair.
Após o almoço, retornam ao quarto e deixam-se embalar pelo desejo, seguido pelo clima de repouso, conversam, riem, Fabrícia vê televisão e Heleno, nu, senta-se na poltrona lendo um jornal da cidade.
A noite logo acena e vão deitar-se mais cedo, contagiados pelo sono. Heleno dorme como chumbo afundado no colchão. Fabrícia está irriquieta. Vê sombras pelos quarto. De repente uma sombra com contornos masculinos se aproxima da cama e se posiciona sobre ela. Aos poucos parece materializar-se com maior nitidez. Está nu, excitado. O olhar é fixo, profundo e frio.
- Agora estaremos juntos para sempre... o homem confidencia em seus ouvidos, cheirando seu pescoço.
Fabrícia está paralisada, não consegue falar, tenta olhar para o marido na busca de acordá-lo, mas não consegue virar o rosto, uma força a obriga a continuar fitando aquele ser repugnante.
Ele aproxima os lábios dos lábios dela e cada vez que o faz a respiração desaparece. Sente-se asfixiada, a energia vital se subtrai gradativamente. Fabrícia percebe que está sendo violentada. Lágrimas escorrem de seus olhos, lutando para sair do torpor, mas é inútil.
Heleno acorda com os gemidos da esposa. Ela está sangrando, vai abortar. Tenta falar com ela, mas Fabrícia parece estar em estado de choque. A ambulância é acionada.
Fabrícia não resiste e morre.
Sexta-Feira, 13 de Maio de 2011
Hotel Esteira de Palha
10h
Lucas e Laís resolvem sair para as compras, vasculhando algumas lojas, comprando lembrancinhas, até que Laís vê um belo vestido bouquet, de uma cor ferrugem, até os joelhos que a encantou. Logo ele estava em uma sacola e seria usado naquela noite, em um jantar especial.
A ocorrência da rosa já havia se dissipado. Estavam felizes, caminhando de mãos dadas pelas ruas, comprando vários tipos de pinga aos amigos.
O jantar seria a luz de velas em momento encomendado pelo casal na Cantina Giovanni. Por isso já ao final da tarde o casal estava no quarto massageando-se com cremes perfumados, em um clima relaxante e sensual. Com o passar das horas, Laís busca a sacola para admirar o vestido. Assusta-se inconformada. O pacote está vazio. O vestido desaparecera. Descontrolada começa a esbravejar e remover sacolas, gavetas e malas. Lucas não entendendo como poderia ter acontecido, passa a vasculhar cada ponto do quarto, sem sucesso.
Ambos estão tensos e indignados. Não teria como o vestido desaparecer. Horas se passam. Laís começa a chorar desesperadamente. Lucas tenta consolá-la e leva vários coices, com respostas ríspidas e acusatórias.
Nesse momento, a campainha do quarto toca. O rapaz da portaria diz que deixaram o embrulho para a senhora Laís. Embrulhado no papel de seda da loja, o vestido. Ele disse apenas que foi uma mulher que deixou o pacote e não deixou nome, nem a conhecia. O casal ficou surpreso e confuso.
Laís procura produzir-se revelando toda sua beleza e simpatia.
Na Cantina conhecem o dono, Sr. Giovanni Canare, um homem risonho e amistoso, que logo conquistou o casal. Conversa vai e conversa vem, os assuntos se sucedem e cria-se liberdade para contarem as ocorrências no hotel. Lucas resolve contar, inclusive de sua visão. A mulher na poltrona. Giovanni se remexe na cadeira, tosse um pouco, olha dos lados, como se quisesse criar coragem para alguma revelação.
- Hoje o hotel fica na casa de Gianna Savério, sofreu algumas adaptações mas se conserva interiormente, comenta Canare analisando a reação dos ouvintes.
Sexta-Feira, 13 de Janeiro de 1832
Casa de Gianna Savério
Gianna herdara a casa de seus pais, gente abastada, sendo sua única filha. Após a morte da mãe, passara a viver com o pai e antes que morresse, num casamento arranjado, casou-se com Antônio. Antônio era um homem rude, mais jovem que ela, dado a jogos e apaixonado pelas mulheres. Herdando a fortuna em decorrência de seu casamento, encontrou a boa vida que buscava.
Parecia dedicar-se a fazer da vida de Gianna um verdadeiro inferno, esmerando-se em humilhações constantes, agressões verbais e físicas, ao ponto de fazer a esposa dormir em outro quarto enquanto mantinha relações sexuais com amantes na cama do casal.
Os dias de Gianna tornaram-se um tormento. Sua vida parecia ter sido atingida por um furacão. Sem amigas e sem familiares, encontrava em seu quarto o lugar de desabafo, banhada em lágrimas, destilando o sofrimento e ansiando o fim da própria vida. Porém, percebeu-se grávida.
Antônio indignou-se. As humilhações redobraram, chamando-a de todos os nomes possíveis que pudessem ofender, diminuir, destruir. Socos e pontapés garantiam que estivesse sempre com marcas e hematomas, ferida no corpo e na alma. Segundo ele Gianna não era digna de parir, quanto mais um filho dele.
Na sexta-feira, 13 de janeiro de 1832, Antônio chegou bêbado, arrancou-a da cama e a violentou no chão. Depois a asfixiou, apertando-lhe o pescoço com as duas mãos. Gianna já se encontrava com seis meses de gestação.
Alcoolizado, despiu-se e jogou-se na cama. Despertou com Gianna olhando-o com ódio mortal. Levantou-se apavorado, vendo o corpo da mulher estendido no chão e ao mesmo tempo ela em pé em sua frente. Com força descomunal, Gianna o agarra pelo pescoço e o lança pela janela do segundo andar. No outro dia o encontram com o pescoço quebrado.
Sexta-Feira, 13 de Maio de 2011
Hotel Esteira de Palha
10h
Giovanni Canare relata que desde, então, após a instalação do hotel toda sexta-feira 13 um desastre acontece. Esclarece que a polícia já investigou e isentou o hotel, apesar das terríveis coincidências. Os espíritos de Gianna e Antônio ainda vagam por lá, não abandonaram o local.
O casal se entreolha preocupado em retornar ao hotel, pensando em mudar-se para outro. Após o jantar foram em busca de outra hospedagem. Sem vagas. Voltaram a passos lentos, temerosos e inseguros.
Deitaram-se e permaneceram com os olhos arregalados. Olhando ao redor, aguardando qualquer ruído, aroma ou movimento estranho. Em alguns momentos ouvia-se o som de vozes, risos e gritos de jovens que passavam pela rua. No quarto a penumbra. Mantiveram a luz do banheiro acesa.
Lucas olha de relance a poltrona e lá está a mulher sentada, olhando-o. Fumando um cigarro e baforando fumaça. Ele não se atreve mexer-se. Ela se levanta e vai até o guarda-roupas e desaparece. Laís dorme em sono profundo.
O rapaz levanta-se e vai até o guarda-roupas, abre a porta. Vasculha entre as roupas. Nada. Fecha a porta e ouve um choro de criança. Trêmulo, reabre a porta. Nada. Volta para a cama com as pernas bambeando. Sente o ímpeto de despertar a esposa e ir embora dali o mais rápido possível, mas apieda-se de acordá-la.
Deita e adormece.
A sombra de Antônio entra no quarto e sobe sobre Laís, pronto para o ato sexual. Laís abre os olhos e vê-se diante do rosto do homem. Emudece, rija, imóvel.
- Quero sua criança...., ele diz, beijando-lhe as faces.
As cobertas se afastam, a camisola se abre, deixando livre o colo de Laís para Antônio.
Lucas recebe uma baforada de fumaça no rosto e acorda num salto. Rapidamente acende a luz. A sombra de Antônio se dispersa. Laís, sem fôlego, levanta relatando que havia um homem no quarto.
Arrumam as malas celeremente e descem as escadarias em plena madrugada. A recepção finge não compreender a agitação do casal. Quarto 13. Check-out.
O carro sai em disparada.
Por alguma razão Gianna interferira, não deixando que Antônio consumasse o ato. Talvez estivesse ficando mais forte, pronta para enfrentar e vencer definitivamente o marido. Até, então todos os casais, que ficaram naquele quarto sofreram as influências dele ou dela. Em especial a mulher grávida, quase sempre vindo a falecer.
E então, um frio sobe pela coluna de Lucas. O sobrenome da mãe de Laís é Savério. Haveria algum parentesco entre ela e Gianna? Pensou em retornar à cidade e compreender melhor o passado, mas achou prudente afastar-se em segurança. Um dia teria esse mistério revelado. O importante é que estavam salvos.
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