TEMPOS E SIGNIFICADOS

As letras das músicas podem ser poesias. Martinho da Vila até que tentou estar entre os acadêmicos da Academia Brasileira de Letras, onde se destacam atualmente as figuras de Ivo Pitanguy, José Sarney e Paulo Coelho, entre outros trinta e sete. Mas há famosos que nunca fizeram parte dela como Lima Barreto, Cecília Meirelles, Monteiro Lobato, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Mário Quintana e Érico Veríssimo, apenas para citar alguns.

Por isso proponho uma rápida viagem, pincelando algumas músicas, em estilos, ritmos e tempos diferentes. Interessante começar pelo próprio Martinho, que em Noel Rosa inspiração...

“Nesta cidade todo mundo se acautela
Contra a tal febre amarela que não para de matar
E a dona Chica que anda atrás de mau conselho
Pinta o corpo de vermelho, pra amarela não pegar.”

(Minha Viola – Martinho da Vila – Composição: Noel Rosa)

Mas podemos buscar lá em Noel Rosa, seus próprios sucessos, evidenciando bem o pensamento da época\, os valores ali contidos, talvez não muito diferentes de agora.

“Tomo vinho, tomo leite,
Tomo a grana da mulher,
Tomo bonde e automóvel,
Só não tomo Itararé”

(Escola de Malandro – Noel Rosa)

E quem ainda não conhece Aracy de Almeida, vale a pena pesquisar.

“Que é louca por quadrinhos,
Mora na literatura,
Das histórias em quadrinhos,
Do Rio, quando ela sai,
É p'ra estudar na Suíça,
Ou se casar no Uruguai.
Quem manda é o papai !”

(Brotinho Bossa-Nova – Aracy de Almeida – Composição: Roberto Kelly)

Quem sabe desfrutar da música de Nora Ney...

“Eu gosto tanto do carinho que ele me faz
Faz tanto bem o beijo que ele me traz”

(Menino Grande – Nora Ney – Composição: Antônio Maria)

A maravilhosa Emilinha Borba, que não pode ser esquecida.

“Bebida a toda hora,
Mulheres de baiana
Com barriguinhas de fora!”

(Boca Rica – Emilinha Borba)

Mas também tivémos Raul Seixas, com o rock e toda uma história.

“O hoje é apenas um furo no futuro
Por onde o passado começa a jorrar
E eu aqui isolado onde nada é perdoado
Vi o fim chamando o princípio pra poderem se encontrar”

(Banquete de Lixo – Raul Seixas – Composição: Raul Seixas e Marcelo Nova)

Hoje a diversidade de sons, ritmos e letras se confundem, diversificando estilos e mensagens.

“Quando já não procurava mais
Pude enfim nos olhos teus, vestidos d'água,
Me atirar tranquila daqui
Lavar os degraus, os sonhos, as calçadas

E, assim, no teu corpo eu fui chuva
... jeito bom de se encontrar!”

(Quando Fui Chuva – Maria Gadú)

“Nunca vi tanto buraco nas estradas do Brasil
Puta que pariu, puta que pariu
Nunca vi tanto buraco nas estradas do Brasil
Puta que pariu, puta que pariu”

(Buraco – João Carreiro e Capataz)

“Então vem
Vem cá fazer
Vem cá fazer amor
(3x)
Vem, vem
Vem cá fazer
Vem cá fazer amor”

(Tesão – Bonde do Tigrão)

“Eu ja to louca, não to mais aguentado
Esse cara é pirocudo, ele tá é me rasgando
Eu ja to louca, não to mais aguentado
Esse cara é pirocudo, ele tá é me rasgando”

(Comece a me chupar – Gaiola das Popozudas)

Talvez Marlene estivesse certa...

“Hoje em dia esta malta está maluca,
Na Terra inteira só se pensa em truca-truca,
Conversas, já não há, beijinhos também não,
Ate o namorico está em vias de extinção.”

(Truca truca – Ruth Marlene)

Estive pensando o quanto influenciamos as músicas com os novos paradigmas, novas culturas, onde economia, religião e valores são transportados para as letras, e elas, por sua vez, alteram estilos de vida e relações, impondo novas formas de pensar, de ser, de conviver e de agir.